quinta-feira, 1 de abril de 2021

A circularidade da Crise inventada por Bolsonaro

                 Que o leitor me desculpe, mas depois de um forçado (por motivos técnicos) silêncio, me descubro a visualizar e contornar situações que têm óbvias semelhanças com o trauma das crises do regime militar. Decerto, nem o Brasil, nem as suas correntes de opinião merecem tais correntes que semelham evocar emanações de um passado, que para muitos já fora enterrado, e com o apoio da Democracia, que está decerto acima dos problemas ligados ao verde oliva e às discussões oriundas do meio castrense. 

                 Dentro das surpresas com que nos brinda a democracia, muitos segmentos da corporação que o presidente terá pensado instrumentalizar mostraram dispor de um saudável bom senso e firmeza democrática, que constituem, por assim dizer, os aspectos positivos dessa nova crise.  No meu modesto entender, ela não deveria ser interpretada como corporativa. 

                  Basta ir um pouco além para que o suposto mistério desvaneça. A começar pelo general Azevedo e Silva - que se acha na base dessa pretensa cartada presidencial - que demonstrara ter uma visão democrática da situação e que terá decerto contribuído para desfazer impressões - tudo mostra que se ensaiaram jogadas que, ao cabo, levaram a de-monstrar a irreflexão e consequente irresponsabilidade de quem pensara estar em condições de instrumentalizar a situação.

                   Não sei por quanto tempo vamos repetir senhas e imagens de um passado que já mereceria uma outra visão, não evocativa de um passado que merece por certo repousar mais em livros do que em desatualizadas evocações de situações que estão de todo supera-das. 

                    O primarismo em querer repeti-las, além de voltar a cenários inatuais, que nada têm a ver com o Brasil moderno, nos parece condenar a um estranho diálogo em que as ossadas de crises desde muito fora da realidade são por vezes trazidas para montar um espetáculo que mais parece uma primária, irresponsável articulação de quem pensa ser um grande malabarista quando não passa de um tosco candidato a artífice de espetáculo que está condenado pela modernidade, que é um mundo que em todas as aparências esse modesto aprendiz de demiurgo não parece pertencer.


(Fontes: O Estado de S. Paulo, O Globo e Folha de S.  Paulo )

                    

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