terça-feira, 28 de outubro de 2008

Dos Jornais - XXIII

O GLOBO – 28.10.2008

O ‘feriadão’ do segundo turno. A análise aprofundada dos dados das zonas eleitorais do Rio de Janeiro mostra com meridiana clareza quão bem-sucedido foi o expediente utilizado pelo governador Sérgio Cabral para beneficiar o seu candidato, Eduardo Paes. Semelha difícil não caracterizar o recurso empregado pelo governador como utilização indevida da máquina estatal, com o aparente intúito de favorecer a Paes, em uma eleição que se anunciava árdua e disputada voto a voto. Dentre os especialistas consultados pelo jornal O GLOBO, “o professor de ciência política do Iuperj Luiz Werneck Vianna diz acreditar que o feriado antecipado para os servidores estaduais e federais pode ter ajudado na vitória do peemedebista. Perguntado se achava que a antecipação do feriado tinha sido uma tática do governador Sérgio Cabral, aliado de Paes, Vianna respondeu que ‘é difícil pensar o contrário’.” Também o professor de ciência política da PUC-Rio, Ricardo Ismael, aposta na tese: “Os votos em branco e nulos caíram para 5%, mas aumentou a abstenção. Quem viajou pode ser alguém que ficou órfão no segundo turno, que anularia o voto se tivesse ficado porque não sabia em quem votar, mas também pode ter sido o eleitor de Gabeira. O que chama a atenção é que a abstenção foi maior onde Gabeira foi mais bem votado. Numa disputa voto a voto, faz diferença.” (meu o grifo)
A ausência de 927.250 eleitores cariocas, em meio ao feriado prolongado decretado pelo governador, além de representar um incremento de 107.157 votos a menos em relação ao primeiro turno, é sem dúvida o resultado agregado de múltiplas causas, dentre as quais deve ser infelizmente computada a alienação de muitos eleitores, que parecem não terem atentado para a publicidade realizada pelo TRE no primeiro turno, que enfatizava a relevância do voto, lançado em um dia, mas com efeito de quatro anos.Se os percentuais da abstenção aumentaram de 17,91% para 20,25% no segundo turno, é importante se ter presente que “as maiores abstenções foram nas zonas eleitorais do Centro (26,34%), da Zona Sul (26,11%) e da Grande Tijuca (22,14%), três regiões que registraram o melhor desempenho do candidato derrotado, Fernando Gabeira (PV).”
Mutatis mutandis, o que o patrocinador-mor da campanha de Eduardo Paes fez tem uma inegável semelhança com as tentativas do Partido Republicano nas diversas circunscrições dos EUA de procurar impedir, através de várias artimanhas, nos dias de eleição o afluxo às urnas de eleitores afro-americanos, com o manifesto propósito de prejudicar o(s) candidato(s) do Partido Democrata, no qual a comunidade negra vota maciçamente.
Assim, a ‘derrota’de Gabeira não resulta da vontade do eleitorado carioca, mas sim de um artifício condenável – que afastou muito mais de 55 mil eleitores de Gabeira – e que, desse modo, tornou possível a vitória do candidato Eduardo Paes.
Volta, portanto, data venia, a insistente pergunta: acaso não implica a decretação da antecipação do feriado em emprego abusivo da máquina estatal, com o óbvio desígnio de prejudicar ao candidato F. Gabeira e, por conseguinte, favorecer o seu contendor ? E por que o T.R.E. , a despeito de nota editorial em jornal da cidade denunciando a prática, não julgou oportuno intervir ?

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