segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Dos Jornais XXII Segundo Turno. Campanha para Prefeito

O GLOBO e FOLHA DE S. PAULO – 13.X.2008

Segundo Turno. Eleições para Prefeito.

Rio de Janeiro. A campanha eleitoral para Prefeito (Fernando Gabeira, pela última pesquisa da Datafolha, tem 43% e Eduardo Paes, 41%) entra em fase mais agressiva, em que são questionados os títulos respectivos para merecer o sufrágio dos cariocas. Assinale-se que o formato dessa campanha, por iniciativa do PMDB e de seu candidato, segue uma linha truculenta, marcada pelo negativismo. Com efeito, Eduardo Paes vem orientando a campanha – com o total apoio da estrutura do Governo do Estado – menos pela discussão de problemas a serem resolvidos, e mais na base de factóides, com orientação marcadamente negativa. Assim, tem sido repisado através de panfletos “assinados” por organizações fantasma a frase de Gabeira (retirada de seu contexto e irrelevante na sua inoportunidade) acerca da vereadora Lucinha como “suburbana”; sob a óbvia coordenação da organização política diretamente interessada foi montada em Campo Grande (com camisetas alusivas e tudo) “ato de desagravo” ao subúrbio e contrário ao candidato Gabeira. Por outro lado, a Suderj, que administra o Maracanã para o Estado, utilizou para fins políticos o telão do estádio, durante o jogo Flamengo x Atlético Mineiro, com mensagens de orgulho suburbano e pró-candidato do PMDB. Nenhuma das mensagens pró-Gabeira foi aceita pela Suderj... Surpreende no caso a ousadia e a arrogância de afrontar a legalidade e de valer-se do escancarado apoio de máquina estatal. Assinale-se a impotência do T.R.E., ao ser questionado por Gabeira pela distribuição de panfletos apócrifos de parte das partidários de Paes. A esse respeito, o chefe da fiscalização do TRE, Luis Fernando Santa Brígida, admitiu a falta de condições de impedir a distribuição dos panfletos e disse que seria preciso uma estrutura como a da Polícia Militar para coibir as irregularidades. “A gente fica num jogo de gato e rato”, disse Santa Brígida.
O apelo a esse tipo de recurso evidencia um certo nervosismo das hostes do PMDB, quanto às perspectivas de seu representante, Eduardo Paes. Não mais a alegada campanha propositiva e acima da refrega, que terá caracterizado o candidato do governador Sérgio Cabral no primeiro turno. No Debate promovido pela Bandeirantes, Paes verberou o apoio recebido por Gabeira de Cesar Maia. Após lembrar o fato de Paes ter participado das primeiras gestões de Cesar, do qual foi subprefeito e secretário municipal, Gabeira acrescentou: “Sabe quantas vezes vi Cesar Maia na vida? Umas cinco. Você é cria dele, trabalhou toda a vida com ele, e me acusa de ter o apoio de Cesar Maia. Isso é de um cinismo tão grande que você deveria ter um pouco de escrúpulo.” Por desnecessário (V. a propósito a coluna de hoje de Ricardo Noblat) o comportamento de Eduardo Paes para obter uma foto e um vídeo de apoio de Lula, para tanto submetendo-se a várias humilhações, não carece, com os seus embaraçosos pormenores, de maiores explicitações.
Seria de augurar-se que na propaganda eleitoral oficial os candidatos dessem aos eleitores a oportunidade de aquilatarem as respectivas propostas para refazer o Rio de Janeiro. Gabeira, pelo caráter ético e corajoso de suas proposições decerto não se furtará em contribuir para a elevação de nivel do debate. No entanto, se a tônica de Paes e seus auxiliares continuar a pautar-se pela orientação seguida até o presente, mesmo com a consciência de que campanhas desse jaez encerram dentro delas o gérmen corrosivo da autodestruição, não poderá o candidato Gabeira do PV evitar de colocar os pontos nos ii – e para tal, como já se terá dado conta Paes, dispõe de experiência de vida política que o torna também um respeitável adversário.

São Paulo. A candidata do PT, Marta Suplicy – que protestara no passado com a exploração de sua vida pessoal, ao separar-se de Eduardo Suplicy para casar-se com Luís Favre – agora julga oportuno inserir no horário eleitoral insinuações a respeito da vida privada de seu adversário Gilberto Kassab (DEM). Na Tevê, a insinuação se dá em comerciais, em que um locutor faz várias perguntas: “Você sabe mesmo quem é o Kassab ?” Ao final, a propaganda indaga: “Sabe se ele é casado? Tem filhos?” Não obstante o caráter dúbio das ‘perguntas’, hoje uma Marta em dificuldades eleitorais as fundamenta a pretexto de que “são direitos de informação que todo mundo tem que ter.”
De certo modo, a candidata do PT – que de repente se descobriu em desvantagem de 17 pontos, sem alianças políticas, nem outros contingentes eleitorais a agregar – segue uma linha que não difere essencialmente daquela do candidato Eduardo Paes, no Rio de Janeiro. Emprestando à própria campanha, ao encetar o debate do segundo turno, um enfoque que enjeitara no passado – daí a pergunta da Folha ‘se tal propaganda não era contraditória com a sua biografia’ – ela demonstra um nervosismo similar – e talvez maior – do que o do candidato do PMDB no Rio. Com efeito, o retrospecto lhe é contrário – nenhum candidato com tal desvantagem conseguiu revertê-la em próprio proveito – o atraso é substancial, e os apoios escasseiam. O que não há de faltar será o trabalho que dará aos advogados, para explicar no TRE a alegada pertinência desses questionamentos. Será que a atmosfera de derrota, a míngua de apoios, inclusive aqueles mais altos, que ora enfrentam problemas de agenda, tudo isso motiva a súbita mudança de postura e de nível, que de cambulhada manda à breca a dita biografia mencionada pela pauta do jornalista?
Mais respostas para tais questões na divulgação da próxima pesquisa da Datafolha...

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