FOLHA DE S. PAULO - 28.09.08
POR QUE MAIS UMA REFORMA ORTOGRÁFICA ?
A Folha dedica página de sua edição dominical a mais uma nova reforma ortográfica a ser aplicada no Brasil. Há um pequeno resumo das três reformas anteriores (1931, 1943 e 1971) e a indicação do que pretende a chamada reforma de 2008.
Comentário de um brasileiro. Concordo plenamente com a opinião de João Pereira Coutinho, que a Folha estampa sob o título “Acordo ignora identidades culturais”. O decreto que determina a sua aplicação reflete ironicamente a virtual ausência do Estado em um processo entregue supostamente ao talante dos ‘acadêmicos’ e que a pretexto de alegada desejável padronização da língua mais semelha uma ação reflexa, sob encomenda das editoras, que ambicionam aumentar a sua faixa de leitores.
Na verdade, esta ‘reforminha’ mais representa o resultado de questionável ativismo em busca da impossível língua única. Qual o sentido de forçar a unidade linguística de um país com 180 milhões de pessoas aos dez milhões da antiga metrópole e às demais populações dos ditos países lusófonos (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Principe, Timor-Leste, Macau e a província indiana de Goa) ? Inútil, a citada reforma não é construção artificial apenas na medida em que a sua realidade ortográfico-administrativa não poderá ser ignorada depois de 2012. No entanto, é um triste reflexo de subdesenvolvimento cultural.
Cabe aqui a pergunta: Que estranha compulsão reformista é esta, que na série de reformas, se vai ocupando de modificações cada vez mais risíveis e cada vez menos relevantes ? A inevitável comparação com Estados Unidos, Reino Unido e França, lança luz impiedosa sobre o pedantismo burocrático dessa questionável empresa. Este capricho das editoras, implementado por hiperestruturas sem que as populações envolvidas possam manifestar a sua vontade.
Seria decerto melhor que a reforminha fosse apenas uma farsa. Entretanto, ela é mais do que farsa, pois acrescenta ao dia-a-dia a mesquinharia de sua incômoda e constrangedora permanência.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Dos Jornais - XVIII
O GLOBO - 24.09.08
FOLHA DE S. PAULO
Equador expulsa Odebrecht e militariza obras. Segundo os jornais, o Presidente Rafael Correa, do Equador, decretou ontem que o Estado assuma os projetos concedidos à construtora, os quais serão militarizados, e proibiu que diretores da empresa deixem o país. O decreto presidencial também dispõe sobre o embargo a todos os bens da Odebrecht, a fim de empregá-los em situação de emergência. Os projetos da empresa brasileira no Equador são duas hidrelétricas, a construção de um aeroporto e de uma rodovia e plano de aproveitamento de água. Assinale-se que essa questão eclode às vésperas do referendo de domingo, 28, quando os equatorianos são chamados a votar sobre uma nova Constituição Socialista.
Comentário de Observador internacional. Essa crise se origina dos problemas enfrentados pela hidrelétrica de San Francisco. Responsável por 12% da produção total de energia do país, e inaugurada há catorze meses, ela deixou de produzir em junho último, devido ao desgaste prematuro das rodas d’água das turbinas e do desabamento parcial do túnel canalizador da água. Pelo decreto presidencial, o consórcio liderado pela Odebrecht, com a francesa Alstom e a austríaca VA Tech Hydro “tem-se negado irresponsavelmente a indenizar os prejuizos ocasionados ao Estado, com supostos fundamentos no questionável contrato assinado antes deste governo”.
O Brasil tem enfrentado questões contenciosas em função de sua crescente presença na América do Sul, através de suas grandes empresas. Ocorreu com a Petrobrás, na Bolívia, em que o Presidente Evo Morales, entre outras medidas, ocupou militarmente áreas da empresa. Verifica-se, também, no Paraguai, onde o tratado de Itaipu tem sido contestado em certos aspectos pelo novel governo do ex-bispo Fernando Lugo (sem falar das ameaças de invasão de terras de brasileiros radicados naquele país, os chamados ‘brasiguaios’). E agora surge o Equador, através de seu Presidente Rafael Correa, com a aplicação das medidas acima descritas.
A cooperação brasileira com os países sul-americanos deve realizar-se dentro de um contexto de respeito mútuo, e de conformidade aos atos e acordos internacionais. O caudilho Hugo Chávez – a quem todos os citados presidentes estão ligados ideologicamente – através de suas decisões de cunho personalista e de suas nacionalizações, vem criando na Venezuela um ambiente não decerto favorável à cooperação estrangeira. Rafael Correa é um estreito aliado de Chávez. Sem entrar no mérito de suas medidas contra a empresa Odebrecht, é necessário ter presente que assuntos contenciosos – envolvendo inclusive a interpretação de contratos, como o próprio decreto presidencial reconhece – devem ser tratados de acordo com as instâncias competentes, e, portanto, pela Justiça. Intervenções discricionárias do cariz da presente não devem ser aceitas.
A nossa diplomacia não deve ser nem patronizante, nem acomodativa. Segundo o direito internacional público, uma das funções básicas da representação diplomática é a defesa do interesse nacional. O bom acordo se fundamenta no respeito recíproco dos interesses das Partes, e não em tentativas de posterior acomodação a qualquer preço, sob vezos alegadamente paternalistas. Nas diversas questões com que se tem defrontado o Brasil nos últimos tempos, nessa América do Sul onde a influência dos petro-dólares do señor Chávez vem aumentando em diversas latitudes, não seria demasiado recomendar que se tenha presente o exemplo do Patrono de nossa diplomacia, o Barão do Rio Branco, que jamais perdia de vista o interesse pátrio.
FOLHA DE S. PAULO
Equador expulsa Odebrecht e militariza obras. Segundo os jornais, o Presidente Rafael Correa, do Equador, decretou ontem que o Estado assuma os projetos concedidos à construtora, os quais serão militarizados, e proibiu que diretores da empresa deixem o país. O decreto presidencial também dispõe sobre o embargo a todos os bens da Odebrecht, a fim de empregá-los em situação de emergência. Os projetos da empresa brasileira no Equador são duas hidrelétricas, a construção de um aeroporto e de uma rodovia e plano de aproveitamento de água. Assinale-se que essa questão eclode às vésperas do referendo de domingo, 28, quando os equatorianos são chamados a votar sobre uma nova Constituição Socialista.
Comentário de Observador internacional. Essa crise se origina dos problemas enfrentados pela hidrelétrica de San Francisco. Responsável por 12% da produção total de energia do país, e inaugurada há catorze meses, ela deixou de produzir em junho último, devido ao desgaste prematuro das rodas d’água das turbinas e do desabamento parcial do túnel canalizador da água. Pelo decreto presidencial, o consórcio liderado pela Odebrecht, com a francesa Alstom e a austríaca VA Tech Hydro “tem-se negado irresponsavelmente a indenizar os prejuizos ocasionados ao Estado, com supostos fundamentos no questionável contrato assinado antes deste governo”.
O Brasil tem enfrentado questões contenciosas em função de sua crescente presença na América do Sul, através de suas grandes empresas. Ocorreu com a Petrobrás, na Bolívia, em que o Presidente Evo Morales, entre outras medidas, ocupou militarmente áreas da empresa. Verifica-se, também, no Paraguai, onde o tratado de Itaipu tem sido contestado em certos aspectos pelo novel governo do ex-bispo Fernando Lugo (sem falar das ameaças de invasão de terras de brasileiros radicados naquele país, os chamados ‘brasiguaios’). E agora surge o Equador, através de seu Presidente Rafael Correa, com a aplicação das medidas acima descritas.
A cooperação brasileira com os países sul-americanos deve realizar-se dentro de um contexto de respeito mútuo, e de conformidade aos atos e acordos internacionais. O caudilho Hugo Chávez – a quem todos os citados presidentes estão ligados ideologicamente – através de suas decisões de cunho personalista e de suas nacionalizações, vem criando na Venezuela um ambiente não decerto favorável à cooperação estrangeira. Rafael Correa é um estreito aliado de Chávez. Sem entrar no mérito de suas medidas contra a empresa Odebrecht, é necessário ter presente que assuntos contenciosos – envolvendo inclusive a interpretação de contratos, como o próprio decreto presidencial reconhece – devem ser tratados de acordo com as instâncias competentes, e, portanto, pela Justiça. Intervenções discricionárias do cariz da presente não devem ser aceitas.
A nossa diplomacia não deve ser nem patronizante, nem acomodativa. Segundo o direito internacional público, uma das funções básicas da representação diplomática é a defesa do interesse nacional. O bom acordo se fundamenta no respeito recíproco dos interesses das Partes, e não em tentativas de posterior acomodação a qualquer preço, sob vezos alegadamente paternalistas. Nas diversas questões com que se tem defrontado o Brasil nos últimos tempos, nessa América do Sul onde a influência dos petro-dólares do señor Chávez vem aumentando em diversas latitudes, não seria demasiado recomendar que se tenha presente o exemplo do Patrono de nossa diplomacia, o Barão do Rio Branco, que jamais perdia de vista o interesse pátrio.
Dos Jornais - XVII
FOLHA DE S. PAULO - 23.09.2008
A Folha estampa publicidade da Philips sobre a sua TV LCD. A mesma propaganda fora televisada pela Rede Globo em horário nobre.
Comentario do Cidadão. Não, meu caro leitor, não é objetivo deste blog fazer inserções publicitárias. O que existe é uma preocupação quanto ao procedimento utilizado para tal publicidade. Com efeito, aí se declara que a Philips solicitou ao IBOPE ‘uma pesquisa comparativa entre as marcas de TVs LCD mais vendidas’. Para o leitor ou telespectador desavisado, pode parecer tão só mais uma pesquisa de institutos especializados para determinar percentuais de opinião. No entanto, aqui não se trata de pesquisa política , i. e. saber quais os percentuais dos candidatos a um determinado cargo público, ou qual a sua avaliação do presidente da república, do governador, ou de outro tema genérico, como a admissibilidade do fumo em local fechado, etc.
Posso estar enganado, mas creio que será por primeira vez que instituto de opinião realiza pesquisa sobre preferências de consumo acerca de diversas marcas comerciais de um certo produto. Ao aceitar o encargo, o IBOPE terá julgado que não havia objeção de caráter ético para a realização e divulgação da pesquisa.
Peço vênia para discordar. Ao encomendar a pesquisa, a Philips está interessada em aduzir mais uma razão por que o consumidor deva preferir o seu produto, no caso, a sua TV LCD. Se a publicidade comparativa – o meu produto é melhor do que o de ‘B’ ou de ‘C’ – já adentra área cinzenta, dada a circunstância de que ‘B’ ou ‘C’ não têm voz ativa em capítulo, o procedimento vai muito além no caso específico de que tratamos.
Se, em tese, se deve ter a presunção da lisura do instituto de pesquisa, mesmo assim parece difícil imaginar que o dito instituto tenha a isenção indispensável, após receber a solicitação da Philips para determinar e cotejar as preferências dos consumidores para um produto seu, como a TV LCD Philips, se contrastado com os produtores de seus principais concorrentes no mercado.
A questão é delicada demais em muitos aspectos e não apenas no citado acima. De qualquer forma, o bom senso indica que é um campo não aconselhável para a inserção de supostos métodos de pesquisa de opinião. Pelo visto, não foi regulamentada a proibição de recurso a tais métodos em questões comerciais, talvez pela suposição de que por considerações éticas não seria utilizado. Se tal procedimento for repetido, seria o caso de estabelecer-se uma proibição formal, seja de caráter corporativo, seja de instituição governamental, para que tais limites não mais sejam ignorados.
A Folha estampa publicidade da Philips sobre a sua TV LCD. A mesma propaganda fora televisada pela Rede Globo em horário nobre.
Comentario do Cidadão. Não, meu caro leitor, não é objetivo deste blog fazer inserções publicitárias. O que existe é uma preocupação quanto ao procedimento utilizado para tal publicidade. Com efeito, aí se declara que a Philips solicitou ao IBOPE ‘uma pesquisa comparativa entre as marcas de TVs LCD mais vendidas’. Para o leitor ou telespectador desavisado, pode parecer tão só mais uma pesquisa de institutos especializados para determinar percentuais de opinião. No entanto, aqui não se trata de pesquisa política , i. e. saber quais os percentuais dos candidatos a um determinado cargo público, ou qual a sua avaliação do presidente da república, do governador, ou de outro tema genérico, como a admissibilidade do fumo em local fechado, etc.
Posso estar enganado, mas creio que será por primeira vez que instituto de opinião realiza pesquisa sobre preferências de consumo acerca de diversas marcas comerciais de um certo produto. Ao aceitar o encargo, o IBOPE terá julgado que não havia objeção de caráter ético para a realização e divulgação da pesquisa.
Peço vênia para discordar. Ao encomendar a pesquisa, a Philips está interessada em aduzir mais uma razão por que o consumidor deva preferir o seu produto, no caso, a sua TV LCD. Se a publicidade comparativa – o meu produto é melhor do que o de ‘B’ ou de ‘C’ – já adentra área cinzenta, dada a circunstância de que ‘B’ ou ‘C’ não têm voz ativa em capítulo, o procedimento vai muito além no caso específico de que tratamos.
Se, em tese, se deve ter a presunção da lisura do instituto de pesquisa, mesmo assim parece difícil imaginar que o dito instituto tenha a isenção indispensável, após receber a solicitação da Philips para determinar e cotejar as preferências dos consumidores para um produto seu, como a TV LCD Philips, se contrastado com os produtores de seus principais concorrentes no mercado.
A questão é delicada demais em muitos aspectos e não apenas no citado acima. De qualquer forma, o bom senso indica que é um campo não aconselhável para a inserção de supostos métodos de pesquisa de opinião. Pelo visto, não foi regulamentada a proibição de recurso a tais métodos em questões comerciais, talvez pela suposição de que por considerações éticas não seria utilizado. Se tal procedimento for repetido, seria o caso de estabelecer-se uma proibição formal, seja de caráter corporativo, seja de instituição governamental, para que tais limites não mais sejam ignorados.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Dos Jornais - XVI
OS JORNAIS – XVI
O GLOBO - 21.09.2008
A ameaça do ‘Aedes’. O jornal O Globo dedicou duas páginas inteiras ao exame da ameaça que a dengue representa para o Rio de Janeiro. Embora a dengue haja sido considerada extinta em 1958 no Brasil, ela voltou no início dos anos setenta, possivelmente procedente da Venezuela, e por causas que aprofundarei mais adiante espalhou-se pelo Brasil. Conquanto o mosquito ‘Aedes Aegypti’ esteja presente em todo o país – e portanto o estudo desta doença interesse a todos os estados – a dengue é analisada por O Globo no contexto do estado do Rio e do município do Rio de Janeiro. Num ano em que o município do Rio enfrentou a mais grave epidemia de dengue de sua história – que provocou a morte de pelo menos 98 pessoas – especialistas alertam: o controle do mosquito Aedes Aegypti tem sido ineficaz. Segundo eles, não só as estratégias de ação são inadequadas, como são escassos os recursos destinados pelo Município, pelo Estado e pela União (meu o grifo) ao combate à doença. Verifica-se que a prefeitura planeja despender R$15,6 milhões, menos que o estado (R$45,6 milhões). Nesses termos, a prefeitura vai gastar mais com massa asfáltica (R$20,6 milhões) e muito menos do que com a chamada Cidade da Música (R$ 222,8 milhões autorizados em 2008, em um total de R$503 milhões). Há muitos pormenores de interesse, porém dada a extensão do tema semelha oportuno assinalar as estatísticas no Estado do Rio e no Município do Rio de Janeiro nos anos das duas principais epidemias (2002 e 2008). Na Cidade do Rio de Janeiro, em 2008 até agora foram registrados 128.647 casos, dos quais há 98 óbitos confirmados; já em 2002 houve 138.027 casos e sessenta e quatro óbitos confirmados. Por sua vez, no Estado do Rio de Janeiro o total de casos até agora é de 243.041, e o número de óbitos 313 (172 confirmados), sendo que 36% das mortes foram de crianças entre zero e quinze anos. Já em 2002, os casos foram 288.245, e 91 óbitos confirmados.
Comentário do cidadão. Depois da tragédia que representou a epidemia de 2008, muito mais letal do que a de 2002 (como os números acima comprovam), somente no Brasil há de surpreender que para o próximo verão tanto o Município (o principal agente responsável), quanto o Estado e a União não tenham acordado ao combate deste flagelo os meios indispensáveis para medidas sérias em defesa da população. Se cotejarmos a retórica (e as medidas emergenciais, deslanchadas já sob o látego da epidemia, no verão de 2008) de Estado e União (a prefeitura do Sr. Cesar Maia a princípio até negou a existência de epidemia, chegando ao requinte de informar os meios de comunicação sempre por funcionários de terceiro ou quarto escalão), em qualquer outro país civilizado haveria o pressuposto de que para o próximo verão (a época de maior incidência do vetor da enfermidade) existiria um esforço concentrado que correspondesse de certa forma às declarações e promessas do verão passado. Diante dos números – e dos pronunciamentos de especialistas – só se pode perguntar onde é que estão Suas Excelências o Ministro Temporão (da Saúde) e o Governador Ségio Cabral ? Não creio valha a pena perguntar onde está o Sr. Maia (que, a despeito de sua inação e de falta de cooperação quando eclodiu a epidemia, foi tratado com grande leniência pelos meios de comunicação). Do Sr. Maia o Rio de Janeiro estará livre a partir de janeiro do ano próximo.
Estamos em época eleitoral, e chovem as promessas. Se esse gênero de discurso resolvesse os problemas nacionais, estaduais e municipais, não trepidaria em afirmar que o Brasil seria a verdadeira terra prometida. Com efeito, o cidadão brasileiro não é apenas muito tolerante com os seus governantes. Não cobra de seus eleitos as promessas não cumpridas, como se se tratasse de expedientes válidos para alcançar as benesses do poder, bem depressa esquecidos no que implicam de eventual empenho e coerência. Em outros tempos, dir-se-ía que falta vergonha a tais senhores, por faltarem com a palavra empenhada. Em tempos ainda mais antigos, a pitonisa de Delfos (porta-voz de Apolo) vaticinava os piores castigos àqueles que descumprissem seus juramentos...
Entretanto, o cidadão brasileiro em geral – há obviamente exceções – tem um outro problema: ele sofre de uma espécie de memória teflon. Os piores desmandos, as mais graves omissões – com as trágicas conseqüências acarretadas, v.g., pela omissão ou pelas ações marcadamente ineficazes (como no caso do Rio de Janeiro) não permanecem por um tempo mais longo em sua memória. Por isso, os políticos contam com esse esquecimento para igualmente esquecerem as suas promessas e porque não dizer a própria hombridade e consciência ética de fazer o que é melhor e mais urgente para os seus eleitores.
Como cidadão, eu sentiria real satisfação se os homens públicos nacionais - e em especial aqueles sobrecarregados pelas honrarias dos altos cargos - se recordassem deste perene compromisso com o sofrido e paciente povo brasileiro, e, por uma vez, desmentissem a famigerada consciência teflon, atuando como no caso em tela de comprovada gravidade (e que tem golpeado notadamente as crianças e os destituídos) como políticos com P maiúsculo.
O GLOBO - 21.09.2008
A ameaça do ‘Aedes’. O jornal O Globo dedicou duas páginas inteiras ao exame da ameaça que a dengue representa para o Rio de Janeiro. Embora a dengue haja sido considerada extinta em 1958 no Brasil, ela voltou no início dos anos setenta, possivelmente procedente da Venezuela, e por causas que aprofundarei mais adiante espalhou-se pelo Brasil. Conquanto o mosquito ‘Aedes Aegypti’ esteja presente em todo o país – e portanto o estudo desta doença interesse a todos os estados – a dengue é analisada por O Globo no contexto do estado do Rio e do município do Rio de Janeiro. Num ano em que o município do Rio enfrentou a mais grave epidemia de dengue de sua história – que provocou a morte de pelo menos 98 pessoas – especialistas alertam: o controle do mosquito Aedes Aegypti tem sido ineficaz. Segundo eles, não só as estratégias de ação são inadequadas, como são escassos os recursos destinados pelo Município, pelo Estado e pela União (meu o grifo) ao combate à doença. Verifica-se que a prefeitura planeja despender R$15,6 milhões, menos que o estado (R$45,6 milhões). Nesses termos, a prefeitura vai gastar mais com massa asfáltica (R$20,6 milhões) e muito menos do que com a chamada Cidade da Música (R$ 222,8 milhões autorizados em 2008, em um total de R$503 milhões). Há muitos pormenores de interesse, porém dada a extensão do tema semelha oportuno assinalar as estatísticas no Estado do Rio e no Município do Rio de Janeiro nos anos das duas principais epidemias (2002 e 2008). Na Cidade do Rio de Janeiro, em 2008 até agora foram registrados 128.647 casos, dos quais há 98 óbitos confirmados; já em 2002 houve 138.027 casos e sessenta e quatro óbitos confirmados. Por sua vez, no Estado do Rio de Janeiro o total de casos até agora é de 243.041, e o número de óbitos 313 (172 confirmados), sendo que 36% das mortes foram de crianças entre zero e quinze anos. Já em 2002, os casos foram 288.245, e 91 óbitos confirmados.
Comentário do cidadão. Depois da tragédia que representou a epidemia de 2008, muito mais letal do que a de 2002 (como os números acima comprovam), somente no Brasil há de surpreender que para o próximo verão tanto o Município (o principal agente responsável), quanto o Estado e a União não tenham acordado ao combate deste flagelo os meios indispensáveis para medidas sérias em defesa da população. Se cotejarmos a retórica (e as medidas emergenciais, deslanchadas já sob o látego da epidemia, no verão de 2008) de Estado e União (a prefeitura do Sr. Cesar Maia a princípio até negou a existência de epidemia, chegando ao requinte de informar os meios de comunicação sempre por funcionários de terceiro ou quarto escalão), em qualquer outro país civilizado haveria o pressuposto de que para o próximo verão (a época de maior incidência do vetor da enfermidade) existiria um esforço concentrado que correspondesse de certa forma às declarações e promessas do verão passado. Diante dos números – e dos pronunciamentos de especialistas – só se pode perguntar onde é que estão Suas Excelências o Ministro Temporão (da Saúde) e o Governador Ségio Cabral ? Não creio valha a pena perguntar onde está o Sr. Maia (que, a despeito de sua inação e de falta de cooperação quando eclodiu a epidemia, foi tratado com grande leniência pelos meios de comunicação). Do Sr. Maia o Rio de Janeiro estará livre a partir de janeiro do ano próximo.
Estamos em época eleitoral, e chovem as promessas. Se esse gênero de discurso resolvesse os problemas nacionais, estaduais e municipais, não trepidaria em afirmar que o Brasil seria a verdadeira terra prometida. Com efeito, o cidadão brasileiro não é apenas muito tolerante com os seus governantes. Não cobra de seus eleitos as promessas não cumpridas, como se se tratasse de expedientes válidos para alcançar as benesses do poder, bem depressa esquecidos no que implicam de eventual empenho e coerência. Em outros tempos, dir-se-ía que falta vergonha a tais senhores, por faltarem com a palavra empenhada. Em tempos ainda mais antigos, a pitonisa de Delfos (porta-voz de Apolo) vaticinava os piores castigos àqueles que descumprissem seus juramentos...
Entretanto, o cidadão brasileiro em geral – há obviamente exceções – tem um outro problema: ele sofre de uma espécie de memória teflon. Os piores desmandos, as mais graves omissões – com as trágicas conseqüências acarretadas, v.g., pela omissão ou pelas ações marcadamente ineficazes (como no caso do Rio de Janeiro) não permanecem por um tempo mais longo em sua memória. Por isso, os políticos contam com esse esquecimento para igualmente esquecerem as suas promessas e porque não dizer a própria hombridade e consciência ética de fazer o que é melhor e mais urgente para os seus eleitores.
Como cidadão, eu sentiria real satisfação se os homens públicos nacionais - e em especial aqueles sobrecarregados pelas honrarias dos altos cargos - se recordassem deste perene compromisso com o sofrido e paciente povo brasileiro, e, por uma vez, desmentissem a famigerada consciência teflon, atuando como no caso em tela de comprovada gravidade (e que tem golpeado notadamente as crianças e os destituídos) como políticos com P maiúsculo.
domingo, 21 de setembro de 2008
Política Internacional - Venezuela e África do Sul.
Venezuela. Hugo Chávez determinou a expulsão de dois dirigentes da ‘Human Rights Watch’. O motivo ? A publicação de relatório fundamentado sobre o desrespeito dos direitos humanos na Venezuela. Ordenada pessoalmente por Chávez, a expulsão do chileno José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da HRW, e do americano Daniel Wilkinson, subdiretor, e sobretudo a maneira com que foi realizada não faria vergonha a regimes totalitários. Uma vez publicado o relatório, que se cinge a consignar as ações do regime de Chávez contra a democracia, os dois representantes da Human Rights Watch foram detidos e conduzidos para o aeroporto de Caracas, onde os fizeram embarcar em vôo da Varig para São Paulo. Não tiveram direito a se comunicar com ninguém, nem muito menos contestar processualmente a expulsão. Desativados os respectivos celulares e impedidos de se comunicarem por cerca de vinte esbirros, Vivanco e Wilkinson viveram como ‘pioneiros’ a experiência de serem os primeiros a serem expulsos de uma república latino-americana. Pela arbitrariedade de sua ação e pela sua forma abrupta Chávez confirma a procedência das acusações que lhe são feitas. É, portanto, certa a posição do Congresso brasileiro ao arquivar na prática a pretensão da Venezuela de ingressar no Mercosul, pelo seu descumprimento da cláusula democrática.
África do Sul. Thabo Mbeki, o sucessor de Nelson Mandela, no poder desde 1999, deverá renunciar em breve por falta de condições políticas de completar o mandato. Mbeki, que obviamente não tem a grandeza de seu predecessor, alcançou durante os seus dois mandatos (foi reeleito em 2004) bons resultados em termos econômicos. Dentre os seus erros maiores, está o apoio abstruso que concedeu à Ministra da Saúde que favorecia um ‘approach’ supostamente africano para o tratamento da Aids (através do recursos a curandeiros), não privilegiando os medicamentos tipo AZT e outros no combate ao HIV; e o estranho apoio que concedeu ao ditador Mugabe, do Zimbabwe, o que permitiu a farsa do segundo turno naquele país, com o afastamento da cédula do líder da oposição Morgan Tsvangirai (que vencera o primeiro turno). Mesmo agora, quando decidiu participar mais ativamente da solução da crise no Zimbabwe, a sua intervenção não teve a energia e a determinação dos bons ofícios do ex-secretário geral das Nações Unidas, Kofi Anan, que lograra uma efetiva composição política, ensejando acordo viável entre o presidente e o líder da oposição, o que tornou possível a paz civil e a governabilidade no Quênia.
Thabo Mbeki teria intentado prolongar o processo contra Jacob Zuma, buscando influenciar o Ministério Público para recorrer da sentença favorável ao presidente do Congresso Nacional Africano. O processo contra o chefe do A.N.C. , acusado de corrupção, fraude e tentativa de formação de quadrilha, havia sido terminado por sentença da Alta Corte sul-africana, que se baseou em aspectos processuais. No entanto, quando transpirou o envolvimento de Mbeki na tentativa de afastar o adversário político por meios judiciais, a instância diretiva de seu partido solicitou formalmente a sua exoneração. Mbeki anunciou então que deixará suas funções, depois de cumpridas as formalidades constitucionais. Como a primeira Vice-Presidente (e adepta de Mbeki) já significou que também renunciará, existe a possibilidade de que o Congresso sul-africano eleja um de seus integrantes para mandato- tampão.
África do Sul. Thabo Mbeki, o sucessor de Nelson Mandela, no poder desde 1999, deverá renunciar em breve por falta de condições políticas de completar o mandato. Mbeki, que obviamente não tem a grandeza de seu predecessor, alcançou durante os seus dois mandatos (foi reeleito em 2004) bons resultados em termos econômicos. Dentre os seus erros maiores, está o apoio abstruso que concedeu à Ministra da Saúde que favorecia um ‘approach’ supostamente africano para o tratamento da Aids (através do recursos a curandeiros), não privilegiando os medicamentos tipo AZT e outros no combate ao HIV; e o estranho apoio que concedeu ao ditador Mugabe, do Zimbabwe, o que permitiu a farsa do segundo turno naquele país, com o afastamento da cédula do líder da oposição Morgan Tsvangirai (que vencera o primeiro turno). Mesmo agora, quando decidiu participar mais ativamente da solução da crise no Zimbabwe, a sua intervenção não teve a energia e a determinação dos bons ofícios do ex-secretário geral das Nações Unidas, Kofi Anan, que lograra uma efetiva composição política, ensejando acordo viável entre o presidente e o líder da oposição, o que tornou possível a paz civil e a governabilidade no Quênia.
Thabo Mbeki teria intentado prolongar o processo contra Jacob Zuma, buscando influenciar o Ministério Público para recorrer da sentença favorável ao presidente do Congresso Nacional Africano. O processo contra o chefe do A.N.C. , acusado de corrupção, fraude e tentativa de formação de quadrilha, havia sido terminado por sentença da Alta Corte sul-africana, que se baseou em aspectos processuais. No entanto, quando transpirou o envolvimento de Mbeki na tentativa de afastar o adversário político por meios judiciais, a instância diretiva de seu partido solicitou formalmente a sua exoneração. Mbeki anunciou então que deixará suas funções, depois de cumpridas as formalidades constitucionais. Como a primeira Vice-Presidente (e adepta de Mbeki) já significou que também renunciará, existe a possibilidade de que o Congresso sul-africano eleja um de seus integrantes para mandato- tampão.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Dos Jornais - XV
O GLOBO - 18.09.2008
FOLHA DE S. PAULO
‘ Crise ? Que Crise ?’ Dadas as características da economia mundial, não existem compartimentos estanques que se possa considerar como livres das oscilações determinadas pela presente crise na maior economia mundial. Se muitas são as supostas benesses da chamada globalização, a abertura das economias nacionais - que tudo fazem para atrair os inversores estrangeiros - tem um preço: o livre trânsito do capital. No governo de Fernando Henrique Cardoso se procedeu à criação das condições para que a economia brasileira, até então considerada como muito fechada, se adequasse às exigências do chamado mercado internacional. Nesse sentido, a elevação da taxa de juros se tem função anti-inflacionária, também representa uma vantagem comparativa para o investidor estrangeiro, sobretudo aquele de caráter especulativo e voltado para o curto prazo. Para atrair a inversão alienígena foram criadas inúmeras facilidades, entre as quais a isenção de taxas e impostos sobre os eventuais lucros, e a não-exigência de qualquer restrição quanto a prazos. Em outras palavras, não há limitações para as remessas de empresas para o exterior, nem obrigação de que os eventuais inversores estrangeiros obedeçam a qualquer prazo mínimo de permanência de suas inversões no Brasil.
As reservas em divisas do Brasil fornecem substancial defesa para que a economia brasileira não venha a entrar em crise, em função de crises em outros mercados, como ocorreu várias vezes no passado. Erra, contudo, e erra feio quem acredita que essa posição favorável em matéria de balanço de pagamentos conceda à economia brasileira uma espécie de salvo-conduto para eximi-la de qualquer respingo da crise na economia americana. O próprio comportamento nas bolsas (tanto a Bovespa, quanto as européias e asiáticas) é forte indicação da medida em que as inadimplências de grandes instituições estadunidenses influenciam e condicionam a visão dos investidores mundiais sobre as perspectivas futuras do mercado (inclusive das respectivas economias).
Assim, a bolsa de São Paulo já caíu 12,3% no correr desta semana (despencando 6,74% no dia de ontem, portanto após a declaração do Presidente Lula de que a crise econômica nos EUA não afeta o Brasil (“Que Crise? Vai perguntar para o Bush”). Assinale-se que para uma economia do porte da nossa, é pelo menos estranho que não haja uma grande montadora de veículos brasileira. Já tivemos no passado o Aero Willys, a Fábrica Nacional de Motores, e, em plano menor, a Gurgel. Todas essas, ou foram vendidas, ou o governo brasileiro (na gestão FHC) não envidou qualquer esforço no sentido de sua manutenção. Acrescida a presença de organizações bancárias do tamanho do HSBC, Santander e do Amro Bank entre outras, não surpreende que entre nossas eventuais dificuldades para o equilíbrio do balanço de transações correntes estejam as consideráveis remessas de lucros dessas instituições para o exterior.
Contribui para inchar tais remessas o incrível facilitário do crédito, ao permitir que o pagamento das aquisições seja financiado em sessenta ou mais prestações para os compradores de carros e motocicletas. A autoridade financeira contribui para a formação de uma bolha de crédito, com o conseqüente endividamento dos adquirentes, iludidos pela aparente modicidade da prestação mensal (que tenderá a ser aumentada pelo viés crescente nas taxas de câmbio). Ao mesmo tempo, ao aquecer artificialmente as vendas, aumenta os lucros das montadoras e dos bancos, que hão de convertê-los em divisas e transferi-los em grande parte para o exterior, a fim de auxiliar as suas matrizes.
A atual crise, no entanto, a par das ameaças que apresenta para a nossa economia (quedas nas cotações das chamadas commodities – soja, café, açúcar, etc. -, restrições no crédito e diminuição na capacidade aquisitiva de outras economias, com reflexo em nossas exportações) tem evidenciado pelo menos um aspecto que é substancialmente positivo para o nosso balanço de transações correntes. Trata-se da apreciação do dólar estadunidense. Com efeito, o chamado fortalecimento do real perante o dólar vinha barateando as importações e encarecendo as exportações. Em resultado, contribuía para um eventual deficit em nosso balanço de pagamento, eis que o aumento em dólares dos produtos nacionais os torna menos competitivos e, por conseguinte, tende a restringir-lhes a venda no exterior. O incremento do valor do dólar, que passou para R$1,868, implica em alta de 5% somente no correr desta semana. No meu entender, se mantida a cotação do real dentro de parâmetros razoáveis, esta evolução é um sinal positivo para as perspectivas econômicas de exportação do Brasil, e, portanto, para a manutenção de nossas reservas em divisas.
FOLHA DE S. PAULO
‘ Crise ? Que Crise ?’ Dadas as características da economia mundial, não existem compartimentos estanques que se possa considerar como livres das oscilações determinadas pela presente crise na maior economia mundial. Se muitas são as supostas benesses da chamada globalização, a abertura das economias nacionais - que tudo fazem para atrair os inversores estrangeiros - tem um preço: o livre trânsito do capital. No governo de Fernando Henrique Cardoso se procedeu à criação das condições para que a economia brasileira, até então considerada como muito fechada, se adequasse às exigências do chamado mercado internacional. Nesse sentido, a elevação da taxa de juros se tem função anti-inflacionária, também representa uma vantagem comparativa para o investidor estrangeiro, sobretudo aquele de caráter especulativo e voltado para o curto prazo. Para atrair a inversão alienígena foram criadas inúmeras facilidades, entre as quais a isenção de taxas e impostos sobre os eventuais lucros, e a não-exigência de qualquer restrição quanto a prazos. Em outras palavras, não há limitações para as remessas de empresas para o exterior, nem obrigação de que os eventuais inversores estrangeiros obedeçam a qualquer prazo mínimo de permanência de suas inversões no Brasil.
As reservas em divisas do Brasil fornecem substancial defesa para que a economia brasileira não venha a entrar em crise, em função de crises em outros mercados, como ocorreu várias vezes no passado. Erra, contudo, e erra feio quem acredita que essa posição favorável em matéria de balanço de pagamentos conceda à economia brasileira uma espécie de salvo-conduto para eximi-la de qualquer respingo da crise na economia americana. O próprio comportamento nas bolsas (tanto a Bovespa, quanto as européias e asiáticas) é forte indicação da medida em que as inadimplências de grandes instituições estadunidenses influenciam e condicionam a visão dos investidores mundiais sobre as perspectivas futuras do mercado (inclusive das respectivas economias).
Assim, a bolsa de São Paulo já caíu 12,3% no correr desta semana (despencando 6,74% no dia de ontem, portanto após a declaração do Presidente Lula de que a crise econômica nos EUA não afeta o Brasil (“Que Crise? Vai perguntar para o Bush”). Assinale-se que para uma economia do porte da nossa, é pelo menos estranho que não haja uma grande montadora de veículos brasileira. Já tivemos no passado o Aero Willys, a Fábrica Nacional de Motores, e, em plano menor, a Gurgel. Todas essas, ou foram vendidas, ou o governo brasileiro (na gestão FHC) não envidou qualquer esforço no sentido de sua manutenção. Acrescida a presença de organizações bancárias do tamanho do HSBC, Santander e do Amro Bank entre outras, não surpreende que entre nossas eventuais dificuldades para o equilíbrio do balanço de transações correntes estejam as consideráveis remessas de lucros dessas instituições para o exterior.
Contribui para inchar tais remessas o incrível facilitário do crédito, ao permitir que o pagamento das aquisições seja financiado em sessenta ou mais prestações para os compradores de carros e motocicletas. A autoridade financeira contribui para a formação de uma bolha de crédito, com o conseqüente endividamento dos adquirentes, iludidos pela aparente modicidade da prestação mensal (que tenderá a ser aumentada pelo viés crescente nas taxas de câmbio). Ao mesmo tempo, ao aquecer artificialmente as vendas, aumenta os lucros das montadoras e dos bancos, que hão de convertê-los em divisas e transferi-los em grande parte para o exterior, a fim de auxiliar as suas matrizes.
A atual crise, no entanto, a par das ameaças que apresenta para a nossa economia (quedas nas cotações das chamadas commodities – soja, café, açúcar, etc. -, restrições no crédito e diminuição na capacidade aquisitiva de outras economias, com reflexo em nossas exportações) tem evidenciado pelo menos um aspecto que é substancialmente positivo para o nosso balanço de transações correntes. Trata-se da apreciação do dólar estadunidense. Com efeito, o chamado fortalecimento do real perante o dólar vinha barateando as importações e encarecendo as exportações. Em resultado, contribuía para um eventual deficit em nosso balanço de pagamento, eis que o aumento em dólares dos produtos nacionais os torna menos competitivos e, por conseguinte, tende a restringir-lhes a venda no exterior. O incremento do valor do dólar, que passou para R$1,868, implica em alta de 5% somente no correr desta semana. No meu entender, se mantida a cotação do real dentro de parâmetros razoáveis, esta evolução é um sinal positivo para as perspectivas econômicas de exportação do Brasil, e, portanto, para a manutenção de nossas reservas em divisas.
domingo, 14 de setembro de 2008
Dos Jornais - XIV
FOLHA DE S. PAULO - 13/09/2008
Eleições Americanas. Embora seja ainda cedo para prognosticar o resultado da eleição de terça-feira, quatro de novembro, parece já oportuno que se procure esboçar um quadro geral dos diversos fatores que determinarão a vitória de John McCain/Sarah Palin ou de Barack Obama/Joe Biden.
Mudança (change). Como não se desconhece, o principal propulsor da campanha de Obama na fase das primárias foi a identificação do Senador por Illinois com o tema da mudança. Nesse sentido, Obama ganhou a batalha na mídia e obteve o apoio dos eleitores mais jovens. Hillary – que até o caucus de Iowa era considerada a grande favorita – passou a ser havida como representante da velha Washington. A despeito de ter o apoio de largas faixas do eleitorado e de atingir seus partidários pelas suas propostas específicas, a par do conhecimento técnico dos temas mais importantes para muitos segmentos do Partido Democrata, Hillary Clinton sofreu uma cobertura negativa da mídia. Malgrado o caráter genérico das mudanças propostas por Obama, e a sua pequena vantagem em termos de sufrágios recebidos, Hillary foi sistematicamente carimbada pela mídia representante de sistema dito ultrapassado e, o que é pior, como perdedora. Se os fatos não corroboravam tal tese, a postura da mídia – notadamente as redes de tevê e os grandes jornais – poderia ser resumida em um sumário “às favas com os fatos”.
Entrando na Convenção de Denver antecipadamente vitorioso – por obra e graça dos chamados super-delegados (que não são determinados pelos resultados das primárias) – Obama terá aparentemente esquecido na sua hubris pela histórica designação que a fórmula que lhe assegurara a indicação como candidato democrata tinha sido ad hoc, isto é, servira e muito bem, para que vencesse dentro do partido. Em outras palavras, ele carecia ou de adaptar a fórmula para o embate decisivo com McCain, ou, melhor ainda, elaborar outra fórmula que, sem contradizer a primeira, se voltasse especificamente para o pleito de novembro. Como se verá adiante, Obama não achou conveniente introduzir nenhum aperfeiçoamento substancial na dita fórmula.
Talvez o seu maior erro político foi o de privilegiar pequenos ressentimentos ao invés de mostrar um juízo superior, através da formação de uma grande aliança intrapartidária, isto é, evidenciando a necessária grandeza de lançar o dream ticket, vale dizer a chapa Obama – Hillary, que somaria as principais correntes do partido. Optou por trazer um político veterano, conhecedor de relações internacionais, porém pobre em votos.
Ao contrário dos democratas, que parecem especializados em perder eleições consideradas imperdíveis, os republicanos podem ser acoimados de muitos defeitos, mas não o de falta de habilidade político-eleitoral. Nesse sentido, a história recente é uma testemunha que cala as pretensões de sapiência dos democratas. Mas não cansemos o leitor. Basta reevocar a situação presente: pode-se imaginar situação mais propícia para um candidato democrata, com um presidente cuja impopularidade atinge recordes históricos, ao cabo de uma série de crises de desastres, que tornam Bush junior um sério pretendente ao posto de pior presidente da história americana ? A despeito de que a resposta será negativa - ao confirmar a situação favorável para os democratas – se fará imprescindível acrescentar que não obstante tudo isso, o candidato democrata iniciou a reta final para novembro inferiorizado nas pesquisas eleitorais.
A que se deve esta reviravolta ? Depois de campanha pouco brilhante na fase pré-convenção de Saint Paul, John McCain tomou duas decisões que contribuíram para desestabilizar a posição de suposto favorito de Obama.
Demonstrou inventiva e coragem na sua escolha da companheira de chapa. Parafraseando Voltaire, posso dizer que talvez não concorde com uma só palavra das declarações da governadora do Alaska, mas tal não me impedirá de discernir que McCain soube indicar alguém que somasse à sua campanha pela Casa Branca. Poderemos dizer o mesmo de Joe Biden que teve, inclusive, a nobreza de reconhecer que Hillary seria uma melhor candidata à Vice do que ele ?
A sua segunda iniciativa desvela a desenvoltura dos consultores republicanos. McCain apropriou-se do slogan da mudança (change) ! Com isso, ele tende a mostrar que a proposta de change, por ser vaga e indeterminada, admite que um partido conservador como o republicano possa igualmente sentir-se em condições de vestir esses paramentos.
Entretanto, se os democratas pensam que os problemas de Obama se cingem aos enunciados acima, será forçoso contraditá-los. Dentre esses, existem dois que têm inegável peso: a falta de experiência administrativa do candidato (Obama nunca exerceu função política executiva de importância) e o preconceito racial. Quanto ao primeiro fato, não há que discuti-lo. É um dado a ser computado.
Quanto ao segundo, a sua importância não pode ser minimizada. A esse respeito, a Folha publicou artigo de Andrew Hacker, do conceituado journal The New York Review of Books. A sua análise, que nada tem de polêmica, expõe os principais obstáculos a serem contornados pelo candidato democrata nesse campo específico. De forma resumida, transcrevo alguns aspectos mais relevantes: (a) “Barack Obama só poderá se tornar presidente caso inspire um comparecimento de eleitores às urnas em número superior ao dos votos que ele não obterá”. Fala-se muito no fluxo maciço de votos de afro-americanos. Existem inúmeros entraves contra a concretização desse propósito pela comunidade negra. Ainda que essas dificuldades sejam genéricas, na verdade elas incidem mais em segmentos demográficos de mais baixa renda, onde muitos afro-americanos se encontram (entre tais entraves, a exigência de apresentação de documento de identidade – em um país onde não há carteira de identidade como no Brasil, por exemplo); (b) as consultas sobre ação afirmativa (a ação afirmativa nos Estados Unidos corresponde à política de quotas raciais, no Brasil) que foram introduzidas em alguns estados, em óbvia manobra de inserção da questão racial na cédula eleitoral. Ao proporem a proibição de programas de ação afirmativa, o objetivo é claro: encorajar as maiorias brancas a se identificarem em termos raciais (através da votação para restaurar os próprios direitos); (c) o chamado “efeito Bradley” continua presente.O prefeito negro de Los Angeles foi candidato ao governo do estado da Califórnia em 1982. Apesar de todas as pesquisas indicarem a sua liderança sobre o opositor, a apuraçãao indicou que muitos eleitores não revelaram a sua real tendência. O preconceito racial constitui, nas pesquisas, um fator oculto, que leva uma parte do eleitorado (atualmente estima-se este fator em 7% ) a mentir sobre o seu voto. O eleitor se sente desconfortável em revelar a sua oposição a um candidato negro. Assim, ou dá uma diversa explicação para o seu voto contrário, ou prefere declarar o voto favorável que o segredo da urna não confirmará.
Em meados de setembro, muita coisa poderá ainda ocorrer que venha a modificar o preocupante quadro que ora se apresenta para a candidatura Obama. O político mineiro José de Magalhães Pinto dizia que a política se assemelha às nuvens. A cada olhar, o panorama pode ser diferente. No entanto, mesmo no caso dessa símile, convém acrescentar que existem limitações. Assim, um eventual espaço para o otimismo se veria radicalmente restrito se o observador tiver ao seu redor um céu carregado de nuvens cinza-escuro, daquelas que prenunciam tempestades...
Eleições Americanas. Embora seja ainda cedo para prognosticar o resultado da eleição de terça-feira, quatro de novembro, parece já oportuno que se procure esboçar um quadro geral dos diversos fatores que determinarão a vitória de John McCain/Sarah Palin ou de Barack Obama/Joe Biden.
Mudança (change). Como não se desconhece, o principal propulsor da campanha de Obama na fase das primárias foi a identificação do Senador por Illinois com o tema da mudança. Nesse sentido, Obama ganhou a batalha na mídia e obteve o apoio dos eleitores mais jovens. Hillary – que até o caucus de Iowa era considerada a grande favorita – passou a ser havida como representante da velha Washington. A despeito de ter o apoio de largas faixas do eleitorado e de atingir seus partidários pelas suas propostas específicas, a par do conhecimento técnico dos temas mais importantes para muitos segmentos do Partido Democrata, Hillary Clinton sofreu uma cobertura negativa da mídia. Malgrado o caráter genérico das mudanças propostas por Obama, e a sua pequena vantagem em termos de sufrágios recebidos, Hillary foi sistematicamente carimbada pela mídia representante de sistema dito ultrapassado e, o que é pior, como perdedora. Se os fatos não corroboravam tal tese, a postura da mídia – notadamente as redes de tevê e os grandes jornais – poderia ser resumida em um sumário “às favas com os fatos”.
Entrando na Convenção de Denver antecipadamente vitorioso – por obra e graça dos chamados super-delegados (que não são determinados pelos resultados das primárias) – Obama terá aparentemente esquecido na sua hubris pela histórica designação que a fórmula que lhe assegurara a indicação como candidato democrata tinha sido ad hoc, isto é, servira e muito bem, para que vencesse dentro do partido. Em outras palavras, ele carecia ou de adaptar a fórmula para o embate decisivo com McCain, ou, melhor ainda, elaborar outra fórmula que, sem contradizer a primeira, se voltasse especificamente para o pleito de novembro. Como se verá adiante, Obama não achou conveniente introduzir nenhum aperfeiçoamento substancial na dita fórmula.
Talvez o seu maior erro político foi o de privilegiar pequenos ressentimentos ao invés de mostrar um juízo superior, através da formação de uma grande aliança intrapartidária, isto é, evidenciando a necessária grandeza de lançar o dream ticket, vale dizer a chapa Obama – Hillary, que somaria as principais correntes do partido. Optou por trazer um político veterano, conhecedor de relações internacionais, porém pobre em votos.
Ao contrário dos democratas, que parecem especializados em perder eleições consideradas imperdíveis, os republicanos podem ser acoimados de muitos defeitos, mas não o de falta de habilidade político-eleitoral. Nesse sentido, a história recente é uma testemunha que cala as pretensões de sapiência dos democratas. Mas não cansemos o leitor. Basta reevocar a situação presente: pode-se imaginar situação mais propícia para um candidato democrata, com um presidente cuja impopularidade atinge recordes históricos, ao cabo de uma série de crises de desastres, que tornam Bush junior um sério pretendente ao posto de pior presidente da história americana ? A despeito de que a resposta será negativa - ao confirmar a situação favorável para os democratas – se fará imprescindível acrescentar que não obstante tudo isso, o candidato democrata iniciou a reta final para novembro inferiorizado nas pesquisas eleitorais.
A que se deve esta reviravolta ? Depois de campanha pouco brilhante na fase pré-convenção de Saint Paul, John McCain tomou duas decisões que contribuíram para desestabilizar a posição de suposto favorito de Obama.
Demonstrou inventiva e coragem na sua escolha da companheira de chapa. Parafraseando Voltaire, posso dizer que talvez não concorde com uma só palavra das declarações da governadora do Alaska, mas tal não me impedirá de discernir que McCain soube indicar alguém que somasse à sua campanha pela Casa Branca. Poderemos dizer o mesmo de Joe Biden que teve, inclusive, a nobreza de reconhecer que Hillary seria uma melhor candidata à Vice do que ele ?
A sua segunda iniciativa desvela a desenvoltura dos consultores republicanos. McCain apropriou-se do slogan da mudança (change) ! Com isso, ele tende a mostrar que a proposta de change, por ser vaga e indeterminada, admite que um partido conservador como o republicano possa igualmente sentir-se em condições de vestir esses paramentos.
Entretanto, se os democratas pensam que os problemas de Obama se cingem aos enunciados acima, será forçoso contraditá-los. Dentre esses, existem dois que têm inegável peso: a falta de experiência administrativa do candidato (Obama nunca exerceu função política executiva de importância) e o preconceito racial. Quanto ao primeiro fato, não há que discuti-lo. É um dado a ser computado.
Quanto ao segundo, a sua importância não pode ser minimizada. A esse respeito, a Folha publicou artigo de Andrew Hacker, do conceituado journal The New York Review of Books. A sua análise, que nada tem de polêmica, expõe os principais obstáculos a serem contornados pelo candidato democrata nesse campo específico. De forma resumida, transcrevo alguns aspectos mais relevantes: (a) “Barack Obama só poderá se tornar presidente caso inspire um comparecimento de eleitores às urnas em número superior ao dos votos que ele não obterá”. Fala-se muito no fluxo maciço de votos de afro-americanos. Existem inúmeros entraves contra a concretização desse propósito pela comunidade negra. Ainda que essas dificuldades sejam genéricas, na verdade elas incidem mais em segmentos demográficos de mais baixa renda, onde muitos afro-americanos se encontram (entre tais entraves, a exigência de apresentação de documento de identidade – em um país onde não há carteira de identidade como no Brasil, por exemplo); (b) as consultas sobre ação afirmativa (a ação afirmativa nos Estados Unidos corresponde à política de quotas raciais, no Brasil) que foram introduzidas em alguns estados, em óbvia manobra de inserção da questão racial na cédula eleitoral. Ao proporem a proibição de programas de ação afirmativa, o objetivo é claro: encorajar as maiorias brancas a se identificarem em termos raciais (através da votação para restaurar os próprios direitos); (c) o chamado “efeito Bradley” continua presente.O prefeito negro de Los Angeles foi candidato ao governo do estado da Califórnia em 1982. Apesar de todas as pesquisas indicarem a sua liderança sobre o opositor, a apuraçãao indicou que muitos eleitores não revelaram a sua real tendência. O preconceito racial constitui, nas pesquisas, um fator oculto, que leva uma parte do eleitorado (atualmente estima-se este fator em 7% ) a mentir sobre o seu voto. O eleitor se sente desconfortável em revelar a sua oposição a um candidato negro. Assim, ou dá uma diversa explicação para o seu voto contrário, ou prefere declarar o voto favorável que o segredo da urna não confirmará.
Em meados de setembro, muita coisa poderá ainda ocorrer que venha a modificar o preocupante quadro que ora se apresenta para a candidatura Obama. O político mineiro José de Magalhães Pinto dizia que a política se assemelha às nuvens. A cada olhar, o panorama pode ser diferente. No entanto, mesmo no caso dessa símile, convém acrescentar que existem limitações. Assim, um eventual espaço para o otimismo se veria radicalmente restrito se o observador tiver ao seu redor um céu carregado de nuvens cinza-escuro, daquelas que prenunciam tempestades...
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Adeus Dunga
Adeus Dunga
O torcedor não é tolo. Vejam, por exemplo, as arquibancadas do novo estádio Engenhão, construído pelo senhor César Maia para o último Pan-Americano. Em grande parte, vazias. Preços altos ? Sim. Mas não está aí a razão determinante. A medíocre seleção de Dunga é a causa principal. Como pode o público acreditar em um time que empata em casa de zero a zero com a lanterna das eliminatórias ? E que não encontrou um esquema técnico para vencer o ferrolho defensivo do adversário? Como no verso camoniano, que Brizola gostava de citar (o rei fraco faz fraca a forte gente...), o scratch atual é o retrato de quem o convocou. Veja-se o seu desempenho. Os colunistas – e, pior, os locutores como Galvão Bueno – vivem mencionando a nossa situação nas eliminatórias, que estamos em tal lugar, mas poderíamos estar em tal outro lugar, só se vencêssemos com maior diferença de gols. Até nos comentários refletimos a básica mediocridade a que Dunga se esforça em que nos conformemos, como se fosse a nossa condição. Repito, senhor Ricardo Teixeira, o torcedor não é tolo. Não se sabe bem por que o senhor Dunga é o técnico da seleção, mas um erro comprovado não precisa ser estendido a ponto de pôr em risco a nossa classificação. Há gente que fala como se fosse biruta de aeroporto. Não se detém para pensar. Creio que não deva ser o seu caso, senhor Ricardo Teixeira, se ama – como parece – a sua presidência na CBF. É mais do que tempo de se livrar de Dunga, e de chamar alguém que tenha condições de reviver essa seleção que não é time pequeno nem coleção de medíocres sem qualquer esquema tático. E é importante, senhor Teixeira, que não se deixe levar pelas aparências. Se há coisa séria neste país é a nossa seleção. Está no interesse seu e de todos não abandoná-la à deriva, como ora se encontra.
O torcedor não é tolo. Vejam, por exemplo, as arquibancadas do novo estádio Engenhão, construído pelo senhor César Maia para o último Pan-Americano. Em grande parte, vazias. Preços altos ? Sim. Mas não está aí a razão determinante. A medíocre seleção de Dunga é a causa principal. Como pode o público acreditar em um time que empata em casa de zero a zero com a lanterna das eliminatórias ? E que não encontrou um esquema técnico para vencer o ferrolho defensivo do adversário? Como no verso camoniano, que Brizola gostava de citar (o rei fraco faz fraca a forte gente...), o scratch atual é o retrato de quem o convocou. Veja-se o seu desempenho. Os colunistas – e, pior, os locutores como Galvão Bueno – vivem mencionando a nossa situação nas eliminatórias, que estamos em tal lugar, mas poderíamos estar em tal outro lugar, só se vencêssemos com maior diferença de gols. Até nos comentários refletimos a básica mediocridade a que Dunga se esforça em que nos conformemos, como se fosse a nossa condição. Repito, senhor Ricardo Teixeira, o torcedor não é tolo. Não se sabe bem por que o senhor Dunga é o técnico da seleção, mas um erro comprovado não precisa ser estendido a ponto de pôr em risco a nossa classificação. Há gente que fala como se fosse biruta de aeroporto. Não se detém para pensar. Creio que não deva ser o seu caso, senhor Ricardo Teixeira, se ama – como parece – a sua presidência na CBF. É mais do que tempo de se livrar de Dunga, e de chamar alguém que tenha condições de reviver essa seleção que não é time pequeno nem coleção de medíocres sem qualquer esquema tático. E é importante, senhor Teixeira, que não se deixe levar pelas aparências. Se há coisa séria neste país é a nossa seleção. Está no interesse seu e de todos não abandoná-la à deriva, como ora se encontra.
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Eleições Americanas
Eleições Americanas
Há dois fatos importantes no cenário político americano, ao entrar-se na fase decisiva da campanha eleitoral, após as Convenções de Denver (democratas) e de St. Paul (republicanos) e a passagem do feriado do Dia do Trabalho estadunidense, que marca a retomada plena das atividades, findo o período estivo. De um lado, o chamado fator Sarah Palin (Vide Dos Jornais IX) e de outro, a vantagem assumida por John McCain sobre Barack Obama nas pesquisas de opinião.
De início, semelha importante assinalar que a escolha da governadora do Alaska por McCain representa momento determinante na campanha do candidato republicano. Em seu discurso na Convenção Sarah Palin trouxe o testemunho da chamada América profunda e constituíu um êxito imediato. Do dia para a noite ela se tornou uma celebridade, encantando larga faixa do eleitorado, que preza as convicções firmes e as idéias simples. Em seu confronto com o Senador Joe Biden, o candidato a Vice democrata, Sarah Palin mostrou encontrar-se em outro nível de grandeza. Biden seria o político tradicional, o veterano de Washington, cujos longos discursos não galvanizam o auditório como as tiradas da governadora do Alaska.
Dentro dessa ordem de idéias, Sarah Palin é vista como um trunfo (asset) para o candidato republicano, a ponto de que John McCain e a direção de sua campanha se venham empenhando em preservar a candidata a Vice, que é apresentada em eventos mas não submetida a perguntas de repórteres mais inquisitivos.
Ainda sob o aspecto do impacto da antes desconhecida Sarah Palin sobre a campanha republicana, há consenso quanto à grande influência exercida pela candidata a Vice sobre a progressão de McCain nas pesquisas. Assim, na chamada ‘pesquisa das pesquisas’ (poll of polls) da CNN, por primeira vez John McCain ultrapassou o seu rival democrata B. Obama, com 47 % contra 45 % dos votos.
Há evidente desconforto no lado democrata com essa evolução. Como Obama não pretenda atacar diretamente Sarah Palin, os seus assessores voltam a pensar que talvez seja útil recorrer à Senadora Hillary Clinton na tentativa de desconstruir a vice Palin e a limitar o seu poder de atração eleitoral. Não terá sido por acaso que agora se ventile o próximo encontro de Obama com o ex-Presidente Bill Clinton.
Ainda é muito cedo para considerar a campanha perdida para os democratas. No entanto, em sua última vitória sobre os republicanos, Bill Clinton já tinha em setembro uma vantagem substancial sobre o seu contendor, o Presidente George Bush senior. O mesmo vem ocorrendo em campanhas vencidas pelos republicanos, como nos exemplos de George Bush senior (contra M. Dukakis) e George Bush junior (contra J. Kerry). Se não é um sinal definitivo, constitui um aviso sério de perigo para o candidato, ao achar-se em desvantagem para o seu rival na semana posterior ao Labor Day.
Sem dúvida, a reação de McCain desperta admiração. Diante da desmoralização da atual administração, das crises do Iraque, do furacão Katrina e a própria recessão na economia americana, surpreende que um candidato como McCain possa ter fama de independente se tem apoiado a administração Bush em noventa por cento das votações no Senado. Maior estranheza provoca a circunstância de que a gestão desastrosa da economia por Bush não se reflita em McCain, que pode motivar o eleitorado batendo na tecla da mudança (change). Decerto, as sortes ainda não foram lançadas, mas o candidato democrata – com a vocação de seu partido em perder eleições ganhas – terá de repensar a própria estratégia se não deseja seguir as pegadas de Al Smith, o primeiro candidato católico a Presidente, derrotado em 1928 por Herbert Hoover. É de crer-se que Obama deseje entrar para a história não por ser o primeiro candidato negro a Presidente, mas por tornar-se o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
Há dois fatos importantes no cenário político americano, ao entrar-se na fase decisiva da campanha eleitoral, após as Convenções de Denver (democratas) e de St. Paul (republicanos) e a passagem do feriado do Dia do Trabalho estadunidense, que marca a retomada plena das atividades, findo o período estivo. De um lado, o chamado fator Sarah Palin (Vide Dos Jornais IX) e de outro, a vantagem assumida por John McCain sobre Barack Obama nas pesquisas de opinião.
De início, semelha importante assinalar que a escolha da governadora do Alaska por McCain representa momento determinante na campanha do candidato republicano. Em seu discurso na Convenção Sarah Palin trouxe o testemunho da chamada América profunda e constituíu um êxito imediato. Do dia para a noite ela se tornou uma celebridade, encantando larga faixa do eleitorado, que preza as convicções firmes e as idéias simples. Em seu confronto com o Senador Joe Biden, o candidato a Vice democrata, Sarah Palin mostrou encontrar-se em outro nível de grandeza. Biden seria o político tradicional, o veterano de Washington, cujos longos discursos não galvanizam o auditório como as tiradas da governadora do Alaska.
Dentro dessa ordem de idéias, Sarah Palin é vista como um trunfo (asset) para o candidato republicano, a ponto de que John McCain e a direção de sua campanha se venham empenhando em preservar a candidata a Vice, que é apresentada em eventos mas não submetida a perguntas de repórteres mais inquisitivos.
Ainda sob o aspecto do impacto da antes desconhecida Sarah Palin sobre a campanha republicana, há consenso quanto à grande influência exercida pela candidata a Vice sobre a progressão de McCain nas pesquisas. Assim, na chamada ‘pesquisa das pesquisas’ (poll of polls) da CNN, por primeira vez John McCain ultrapassou o seu rival democrata B. Obama, com 47 % contra 45 % dos votos.
Há evidente desconforto no lado democrata com essa evolução. Como Obama não pretenda atacar diretamente Sarah Palin, os seus assessores voltam a pensar que talvez seja útil recorrer à Senadora Hillary Clinton na tentativa de desconstruir a vice Palin e a limitar o seu poder de atração eleitoral. Não terá sido por acaso que agora se ventile o próximo encontro de Obama com o ex-Presidente Bill Clinton.
Ainda é muito cedo para considerar a campanha perdida para os democratas. No entanto, em sua última vitória sobre os republicanos, Bill Clinton já tinha em setembro uma vantagem substancial sobre o seu contendor, o Presidente George Bush senior. O mesmo vem ocorrendo em campanhas vencidas pelos republicanos, como nos exemplos de George Bush senior (contra M. Dukakis) e George Bush junior (contra J. Kerry). Se não é um sinal definitivo, constitui um aviso sério de perigo para o candidato, ao achar-se em desvantagem para o seu rival na semana posterior ao Labor Day.
Sem dúvida, a reação de McCain desperta admiração. Diante da desmoralização da atual administração, das crises do Iraque, do furacão Katrina e a própria recessão na economia americana, surpreende que um candidato como McCain possa ter fama de independente se tem apoiado a administração Bush em noventa por cento das votações no Senado. Maior estranheza provoca a circunstância de que a gestão desastrosa da economia por Bush não se reflita em McCain, que pode motivar o eleitorado batendo na tecla da mudança (change). Decerto, as sortes ainda não foram lançadas, mas o candidato democrata – com a vocação de seu partido em perder eleições ganhas – terá de repensar a própria estratégia se não deseja seguir as pegadas de Al Smith, o primeiro candidato católico a Presidente, derrotado em 1928 por Herbert Hoover. É de crer-se que Obama deseje entrar para a história não por ser o primeiro candidato negro a Presidente, mas por tornar-se o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
domingo, 7 de setembro de 2008
Dos Jornais - XII
O GLOBO - 7/09/2008, pág. 15
O pai, João Alexandre Rodrigues, e a madrasta, Elaine Aparecida Rodrigues, foram presos em flagrante sob acusação de matar, queimar e esquartejar as crianças João Vitor dos Santos Rodrigues (13 anos) e Igor Giovani Santos Rodrigues (12 anos). O pai, depois de asfixiar os meninos com sacolas de supermercado, levou, com a madrasta, os corpos de seus filhos para o quintal, onde ateou fogo com querosene. Como os cadáveres não desapareceram, foram esquartejados com uma foice. Os restos mortais foram colocados em cinco sacos pretos e ao anoitecer deixados na frente da casa para ser levados pelo lixeiro.
Assinale-se que nessa quarta-feira, os dois meninos foram encontrados por guardas, vagando pela cidade (Ribeirão Pires, na grande São Paulo) tarde da noite. Apesar de terem explicado que haviam sido expulsos de casa pelo pai e a madrasta, na delegacia a conselheira tutelar Edna Aparecida Ribeiro Amante decidiu levá-los para casa. Deve-se frisar que agiu contra a vontade expressa dos meninos, que pediram para serem levados para um abrigo, pois tinham medo de voltar para casa.
Comentário de um cidadão. Diante de mais um crime de tal espécie, a primeira pergunta é se ainda cabe a revolta. Apesar da carga simbólica de sua função, a conselheira tutelar Ribeiro Amante não deu o devido peso à súplica das crianças, que sabiam o que lhes esperava em casa. Falhou assim no objetivo precípuo de sua missão, por não assegurar a tutela do Estado a menores que se sentiam em perigo.
Dadas as características da legislação, o brasileiro convive cada vez mais com a desagradável sensação de que a prevalente impunidade não é virtual ou ocasional, mas legal, como se verificou, v.g., no processo contra o assassino confesso Pimenta Bueno, que podendo dispor de bons advogados continua livre e a batalhar procedimentalmente nas altas cortes com o escopo de (a) permanecer em liberdade e (b) ir podando a extensão da pena ao arrepio da sociedade civil. A faculdade de recorrer a infindas apelações, com o óbvio propósito não de assegurar a justiça, mas de inviabilizar que ela seja feita, explica porque só no Brasil um facínora pode sair da cadeia pela porta da frente, uma mandante de assassinato com motivo torpe seja colocada em liberdade, e que réus, contumazes ou não, possam candidatar-se livremente, graças a sentença da Suprema Corte que impediu deneguem os T.R.Es. a candidatura mesmo de réus condenados em primeira instância. Como a condenação definitiva pode ser uma ficção jurídica se o acusado dispuser de um causídico, compreende-se a reação de desalento do povo.
Boas leis não inviabilizam os crimes hediondos, com o infligido aos dois meninos, e como aquele de que foi vítima João Hélio. Entretanto, a sua aplicação pontual tenderá a torná-los menos freqüentes, se a probabilidade da condenação tornar-se aparente para os criminosos potenciais.
Por vezes, lendo os comentários do Senhor Presidente da República se tem a impressão de que ele se julga um espectador privilegiado dos acontecimentos nacionais. Senhor Presidente, o senhor é muito mais do que isto. O senhor é a principal autoridade da República, e uma de suas missões é zelar para que haja condições de aplicação adequada e apropriada da Justiça. O que se presencia nos dias que correm, é que muita vez os advogados utilizam as faculdades da lei para inviabilizar os seus objetivos, e não para que se faça justiça.
Fala-se muito em reformas, senhor Presidente. Uma das mais urgentes é aquela de reforma da legislação penal e processual. Determine, senhor Presidente, e com a necessária presteza ao senhor Ministro da Justiça, que prepare, com urgência, os projetos competentes, para que essa anomia virtual na sociedade deixe de existir. Senhor Presidente, a sociedade quer justiça sem adjetivos. Não está interessada em cortes discricionárias, e muito menos no desvirtuamento sistemático de o que se apregoa deva ser a Justiça (com inicial maiúscula). Se o Senhor levar a cabo essa reforma, este poderá até ser o legado mais importante de seu governo.
O pai, João Alexandre Rodrigues, e a madrasta, Elaine Aparecida Rodrigues, foram presos em flagrante sob acusação de matar, queimar e esquartejar as crianças João Vitor dos Santos Rodrigues (13 anos) e Igor Giovani Santos Rodrigues (12 anos). O pai, depois de asfixiar os meninos com sacolas de supermercado, levou, com a madrasta, os corpos de seus filhos para o quintal, onde ateou fogo com querosene. Como os cadáveres não desapareceram, foram esquartejados com uma foice. Os restos mortais foram colocados em cinco sacos pretos e ao anoitecer deixados na frente da casa para ser levados pelo lixeiro.
Assinale-se que nessa quarta-feira, os dois meninos foram encontrados por guardas, vagando pela cidade (Ribeirão Pires, na grande São Paulo) tarde da noite. Apesar de terem explicado que haviam sido expulsos de casa pelo pai e a madrasta, na delegacia a conselheira tutelar Edna Aparecida Ribeiro Amante decidiu levá-los para casa. Deve-se frisar que agiu contra a vontade expressa dos meninos, que pediram para serem levados para um abrigo, pois tinham medo de voltar para casa.
Comentário de um cidadão. Diante de mais um crime de tal espécie, a primeira pergunta é se ainda cabe a revolta. Apesar da carga simbólica de sua função, a conselheira tutelar Ribeiro Amante não deu o devido peso à súplica das crianças, que sabiam o que lhes esperava em casa. Falhou assim no objetivo precípuo de sua missão, por não assegurar a tutela do Estado a menores que se sentiam em perigo.
Dadas as características da legislação, o brasileiro convive cada vez mais com a desagradável sensação de que a prevalente impunidade não é virtual ou ocasional, mas legal, como se verificou, v.g., no processo contra o assassino confesso Pimenta Bueno, que podendo dispor de bons advogados continua livre e a batalhar procedimentalmente nas altas cortes com o escopo de (a) permanecer em liberdade e (b) ir podando a extensão da pena ao arrepio da sociedade civil. A faculdade de recorrer a infindas apelações, com o óbvio propósito não de assegurar a justiça, mas de inviabilizar que ela seja feita, explica porque só no Brasil um facínora pode sair da cadeia pela porta da frente, uma mandante de assassinato com motivo torpe seja colocada em liberdade, e que réus, contumazes ou não, possam candidatar-se livremente, graças a sentença da Suprema Corte que impediu deneguem os T.R.Es. a candidatura mesmo de réus condenados em primeira instância. Como a condenação definitiva pode ser uma ficção jurídica se o acusado dispuser de um causídico, compreende-se a reação de desalento do povo.
Boas leis não inviabilizam os crimes hediondos, com o infligido aos dois meninos, e como aquele de que foi vítima João Hélio. Entretanto, a sua aplicação pontual tenderá a torná-los menos freqüentes, se a probabilidade da condenação tornar-se aparente para os criminosos potenciais.
Por vezes, lendo os comentários do Senhor Presidente da República se tem a impressão de que ele se julga um espectador privilegiado dos acontecimentos nacionais. Senhor Presidente, o senhor é muito mais do que isto. O senhor é a principal autoridade da República, e uma de suas missões é zelar para que haja condições de aplicação adequada e apropriada da Justiça. O que se presencia nos dias que correm, é que muita vez os advogados utilizam as faculdades da lei para inviabilizar os seus objetivos, e não para que se faça justiça.
Fala-se muito em reformas, senhor Presidente. Uma das mais urgentes é aquela de reforma da legislação penal e processual. Determine, senhor Presidente, e com a necessária presteza ao senhor Ministro da Justiça, que prepare, com urgência, os projetos competentes, para que essa anomia virtual na sociedade deixe de existir. Senhor Presidente, a sociedade quer justiça sem adjetivos. Não está interessada em cortes discricionárias, e muito menos no desvirtuamento sistemático de o que se apregoa deva ser a Justiça (com inicial maiúscula). Se o Senhor levar a cabo essa reforma, este poderá até ser o legado mais importante de seu governo.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Dos Jornais - XI
DOS JORNAIS - XI
O GLOBO - 03.09.2008
FOLHA DE S. PAULO
Amplo noticiário sobre a ‘inauguração’ do pré-sal, pelo Presidente Lula, em plataforma a 112 km da costa, do primeiro poço, no campo de Jubarte. Nessa oportunidade, em meio ao júbilo pelo importante descoberta, e com as mãos ritualmente marcadas pelo petróleo, o Presidente declarou: “Eu tenho tanta sorte que acho que Deus passou por aqui e resolveu ficar. Porque a sorte aumenta a cada dia.”
Visão de um cidadão.Não há dúvida de que estamos diante da próxima aquisição pela Nação brasileira de enorme riqueza. As palavras do hino ressoam com ênfase presciente, ao afirmarem que o Brasil está deitado em berço esplêndido. O contentamento é válido e decerto merecido. Tais conquistas não ocorrem por acaso. Graças à tecnologia desenvolvida pela Petrobrás, criada, é bom lembrar, pelo Presidente Getúlio Vargas, se podem explorar os lençóis em águas profundas. Se a profundidade ora aumenta, e se as conseqüentes dificuldades da empresa estenderão os prazos em que essa considerável riqueza se achará realmente disponível, devemos aproveitar esse espaço de tempo para que aporte tão substancial possa ajudar-nos a realmente desenvolver o Brasil.
Precisamos, dessarte, evitar os erros do passado. Conforme nos ensina mestre Jaime Cortesão, o ouro de Minas Gerais, gasto com prodigalidade pelos soberanos portugueses, se escoou em boa parte, por força dos ruinosos termos de intercãmbio entre Portugal e a Inglaterra estabelecidos pelo tratado de Methuen, para os cofres da City e daí serviu para financiar a colonização da Nova Inglaterra ! Simplificando, Minas contribuíu com o seu ouro (e diamantes) para alavancar o desenvolvimento de o que seriam os Estados Unidos !
Há outros exemplos de riquezas desperdiçadas. Longa seria a enumeração de perdidas oportunidades na efetivação do potencial de nosso país. Se o Brasil já alcançou resultados significativos, ainda existem demasiadas lacunas em nosso projeto nacional. É hora, portanto, de ter presente o interesse da Nação e não ambições corporativas. Evitemos os gastos suntuários e a má utilização dos recursos futuros do pré-sal. Esses recursos pertencem à Nação. Não os pulverizemos em gastos clientelistas e em despesas improdutivas. Pensemos grande, nunca em proveitos sectários, corporativos e que tais. Não é para projetos demagógicos, para engordar a burocracia, e para aquinhoar feudos que se desenvolveu esta tecnologia para desenvolver tais recursos de nossa terra.
O projeto Brasil ainda enfrenta muitos pontos de estrangulamento. Com o fundo do pré-sal é mister priorizar a saúde, a sanidade pública, a educação em todos os níveis, a recuperação das rodovias e a construção de ferrovias, a criação de uma sociedade mais justa no campo e na cidade, o fortalecimento da segurança para a grande maioria da população honesta, e o combate aos feudos ou áreas em que o Estado está ausente. Não será através do assistencialismo que desenvolveremos o nosso país. O brasileiro não carece de caridade. Ele precisa, ao invés, viver em ambientes dignos, longe do desgoverno e da corrupção. Ele tem direito a educação, saúde e emprego. Se nos livrarmos da burocracia – essa herança da colônia – e se não encararmos os recursos do pré-sal como uma pródiga dádiva , poderemos ambicionar a que o Brasil deixe, por fim, de ser o eterno país do futuro.
O GLOBO - 03.09.2008
FOLHA DE S. PAULO
Amplo noticiário sobre a ‘inauguração’ do pré-sal, pelo Presidente Lula, em plataforma a 112 km da costa, do primeiro poço, no campo de Jubarte. Nessa oportunidade, em meio ao júbilo pelo importante descoberta, e com as mãos ritualmente marcadas pelo petróleo, o Presidente declarou: “Eu tenho tanta sorte que acho que Deus passou por aqui e resolveu ficar. Porque a sorte aumenta a cada dia.”
Visão de um cidadão.Não há dúvida de que estamos diante da próxima aquisição pela Nação brasileira de enorme riqueza. As palavras do hino ressoam com ênfase presciente, ao afirmarem que o Brasil está deitado em berço esplêndido. O contentamento é válido e decerto merecido. Tais conquistas não ocorrem por acaso. Graças à tecnologia desenvolvida pela Petrobrás, criada, é bom lembrar, pelo Presidente Getúlio Vargas, se podem explorar os lençóis em águas profundas. Se a profundidade ora aumenta, e se as conseqüentes dificuldades da empresa estenderão os prazos em que essa considerável riqueza se achará realmente disponível, devemos aproveitar esse espaço de tempo para que aporte tão substancial possa ajudar-nos a realmente desenvolver o Brasil.
Precisamos, dessarte, evitar os erros do passado. Conforme nos ensina mestre Jaime Cortesão, o ouro de Minas Gerais, gasto com prodigalidade pelos soberanos portugueses, se escoou em boa parte, por força dos ruinosos termos de intercãmbio entre Portugal e a Inglaterra estabelecidos pelo tratado de Methuen, para os cofres da City e daí serviu para financiar a colonização da Nova Inglaterra ! Simplificando, Minas contribuíu com o seu ouro (e diamantes) para alavancar o desenvolvimento de o que seriam os Estados Unidos !
Há outros exemplos de riquezas desperdiçadas. Longa seria a enumeração de perdidas oportunidades na efetivação do potencial de nosso país. Se o Brasil já alcançou resultados significativos, ainda existem demasiadas lacunas em nosso projeto nacional. É hora, portanto, de ter presente o interesse da Nação e não ambições corporativas. Evitemos os gastos suntuários e a má utilização dos recursos futuros do pré-sal. Esses recursos pertencem à Nação. Não os pulverizemos em gastos clientelistas e em despesas improdutivas. Pensemos grande, nunca em proveitos sectários, corporativos e que tais. Não é para projetos demagógicos, para engordar a burocracia, e para aquinhoar feudos que se desenvolveu esta tecnologia para desenvolver tais recursos de nossa terra.
O projeto Brasil ainda enfrenta muitos pontos de estrangulamento. Com o fundo do pré-sal é mister priorizar a saúde, a sanidade pública, a educação em todos os níveis, a recuperação das rodovias e a construção de ferrovias, a criação de uma sociedade mais justa no campo e na cidade, o fortalecimento da segurança para a grande maioria da população honesta, e o combate aos feudos ou áreas em que o Estado está ausente. Não será através do assistencialismo que desenvolveremos o nosso país. O brasileiro não carece de caridade. Ele precisa, ao invés, viver em ambientes dignos, longe do desgoverno e da corrupção. Ele tem direito a educação, saúde e emprego. Se nos livrarmos da burocracia – essa herança da colônia – e se não encararmos os recursos do pré-sal como uma pródiga dádiva , poderemos ambicionar a que o Brasil deixe, por fim, de ser o eterno país do futuro.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Dos Jornais - X
OS JORNAIS - X
O GLOBO (2.09.08)
FOLHA DE S. PAULO
Eleições Americanas. Terminada a Convenção de Denver, o resultado das pesquisas varia entre um pequeno incremento do candidato democrata sobre o republicano (48% para Obama e 47% para McCain, segundo a CNN) ou uma vantagem maior, de 50% para Obama e 43% para McCain (conforme a Gallup). Assim, de um aumento pífio, no primeiro caso, se passaria a uma diferença substancial, no segundo. Findo o show democrata, a volatilidade do eleitorado estaria refletida na considerável discrepância entre pesquisas pós-Denver.
Já a Convenção de St. Paul, em Minnesota tem sido consideravelmente afetada pelo furacão Gustav. Os efeitos políticos desse fenômeno atmosférico têm sido favoráveis para o candidato John McCain, que tem procurado projetar-se como um líder de iniciativa, através de intensa pregação de solidariedade às vítimas atingidas pelo furacão. Outro efeito colateral, igualmente benéfico para McCain, foi o cancelamento das intervenções de Bush junior e de seu Vice Dick Cheney, anteriormente previstas para o primeiro dia da Convenção. Com isso, McCain fica livre do relativo constrangimento da presença de Bush e Cheney, cujos atuais índices de impopularidade são bastante altos. No entanto, não está ainda afastada a possibilidade de que Presidente e Vice-Presidente compareçam à Convencão (ou participem eletronicamente) no seu último dia, com o que McCain veria justamente a sua aclamação acompanhada pela presença desconfortável de Bush e Cheney.
Voltando ao campo democrata, existe um outro fator que pesa como uma incognita quanto ao desempenho de Obama nas eleições de novembro. A sua indicação pelo Partido Democrata como candidato à presidência é um dado histórico, porque por primeira vez um candidato negro concorre à Casa Branca por um dos dois grandes partidos estadunidenses. A par disso, Obama se assinala como um Senador politicamente liberal, o que na terra de Tio Sam significa ser de esquerda moderada, o que não é exatamente um trunfo junto ao conservador eleitorado americano.
A sua condição de afro-americano representa um componente importante e facilitou a vitória de Obama naqueles estados sulistas em que o contingente negro se afigura determinante. No entanto, o fator racial não aparece nas pesquisas, porque implicaria em reconhecimento de preconceito pela população branca. A pergunta que permanece no ar será até que ponto esse fator irá atuar no segredo das urnas.
Na história política americana, o Partido Democrata se assinalou igualmente pela indicação à presidência em 1928 do governador de New York, Al Smith – que era católico. A despeito do apoio que teve de correligionários importantes – como do próprio Franklin Delano Roosevelt – Al Smith foi fragorosamente derrotado por Herbert Hoover (que depois não conseguiria reeleger-se pela depressão econômica anunciada pela queda da Bolsa de Wall Street em 1929). Até a eleição do católico John F. Kennedy em 1960, todos os presidentes americanos continuaram a ser protestantes. O pleito de novembro determinará até que ponto existe um paralelo entre essas duas indicações presidenciais.
O GLOBO (2.09.08)
FOLHA DE S. PAULO
Eleições Americanas. Terminada a Convenção de Denver, o resultado das pesquisas varia entre um pequeno incremento do candidato democrata sobre o republicano (48% para Obama e 47% para McCain, segundo a CNN) ou uma vantagem maior, de 50% para Obama e 43% para McCain (conforme a Gallup). Assim, de um aumento pífio, no primeiro caso, se passaria a uma diferença substancial, no segundo. Findo o show democrata, a volatilidade do eleitorado estaria refletida na considerável discrepância entre pesquisas pós-Denver.
Já a Convenção de St. Paul, em Minnesota tem sido consideravelmente afetada pelo furacão Gustav. Os efeitos políticos desse fenômeno atmosférico têm sido favoráveis para o candidato John McCain, que tem procurado projetar-se como um líder de iniciativa, através de intensa pregação de solidariedade às vítimas atingidas pelo furacão. Outro efeito colateral, igualmente benéfico para McCain, foi o cancelamento das intervenções de Bush junior e de seu Vice Dick Cheney, anteriormente previstas para o primeiro dia da Convenção. Com isso, McCain fica livre do relativo constrangimento da presença de Bush e Cheney, cujos atuais índices de impopularidade são bastante altos. No entanto, não está ainda afastada a possibilidade de que Presidente e Vice-Presidente compareçam à Convencão (ou participem eletronicamente) no seu último dia, com o que McCain veria justamente a sua aclamação acompanhada pela presença desconfortável de Bush e Cheney.
Voltando ao campo democrata, existe um outro fator que pesa como uma incognita quanto ao desempenho de Obama nas eleições de novembro. A sua indicação pelo Partido Democrata como candidato à presidência é um dado histórico, porque por primeira vez um candidato negro concorre à Casa Branca por um dos dois grandes partidos estadunidenses. A par disso, Obama se assinala como um Senador politicamente liberal, o que na terra de Tio Sam significa ser de esquerda moderada, o que não é exatamente um trunfo junto ao conservador eleitorado americano.
A sua condição de afro-americano representa um componente importante e facilitou a vitória de Obama naqueles estados sulistas em que o contingente negro se afigura determinante. No entanto, o fator racial não aparece nas pesquisas, porque implicaria em reconhecimento de preconceito pela população branca. A pergunta que permanece no ar será até que ponto esse fator irá atuar no segredo das urnas.
Na história política americana, o Partido Democrata se assinalou igualmente pela indicação à presidência em 1928 do governador de New York, Al Smith – que era católico. A despeito do apoio que teve de correligionários importantes – como do próprio Franklin Delano Roosevelt – Al Smith foi fragorosamente derrotado por Herbert Hoover (que depois não conseguiria reeleger-se pela depressão econômica anunciada pela queda da Bolsa de Wall Street em 1929). Até a eleição do católico John F. Kennedy em 1960, todos os presidentes americanos continuaram a ser protestantes. O pleito de novembro determinará até que ponto existe um paralelo entre essas duas indicações presidenciais.
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