Na segunda-feira, 21 de dezembro, foi inaugurada com festa e presidente da república a estação do metrô General Osório, em Ipanema. Apesar do atraso na cerimônia, causado por ‘problemas de agenda’ da principal autoridade, a ocasião transcorreu sem outros percalços, em meio à compreensível alegria de que não só mais um bairro fosse servido por esta rede de transporte, mas também pela anunciada integração entre as linhas um e dois, com o fim da baldeação no Estácio.
A 22 de dezembro, assinalara o lentíssimo progresso do metrô carioca, que costuma avançar uma estação a cada quatro anos. As obras são realizadas pelo governo do estado, posto que financiadas pelo governo federal. Assim tem sido nos últimos quadriênios, o que, somado às interrupções políticas do passado, além de tornar demasiado vagarosa a extensão dessa rede viária, limitou bastante até agora a sua amplitude territorial.
Com todo o júbilo da conquista da sede olímpica para o Rio de Janeiro, em 2016, é estranhável o silêncio que cerca o indispensável prolongamento das linhas para atender às exigências do magno evento.
A esse respeito, minha experiência profissional me possibilitou conhecer do grande benefício que as Olimpíadas de Atenas causaram, entre outros, para aquela cidade.
As novas linhas, pelo seu conforto e funcionalidade (os usuários dispõem na plataforma da informação dos horários das duas próximas composições), além de sua abrangência territorial, são um legado para o povo ateniense (e as correntes turísticas) de um evento esportivo moderno, que fora buscar as próprias raízes na antiguidade.
Lamentavelmente, por ora, a buliçosa inauguração de 21 de dezembro está mais para vila Potiomkin[1] do que sinalização de efetiva melhoria no atendimento ao público. Com efeito, o que se verificou no dia seguinte à normalização do serviço, foram cenas de grande atropelo e desconforto para os passageiros, inclusive com desmaios. A própria concessionária reconheceu a responsabilidade, distribuindo bilhetes gratuitos a usuários.
No entanto, a despeito de as deficiências no serviço não mais aparecerem nas páginas dos jornais, esta omissão não significa necessariamente que tenham deixado de existir.
O desconforto dos transportes de massa no Rio de Janeiro constitui uma carga que é imposta às massas de trabalhadores por duas razões principais: (a) maximização do lucro da concessionária; e (b) indiferença da concessionária com o bem-estar do usuário. Essa característica sócio-cultural chega ao ponto de que, com a benévola negligência das autoridades, muita vez a alegada melhora das prestações seja apenas de fachada ou de nome, não se refletindo em real adequação do serviço às exigências mínimas do público.
É motivo, portanto, de não pequena estranheza a alegação da concessionária do metrô no Rio de Janeiro pelas continuadas falhas no serviço (vagões em precário estado de conservação, ar condicionado deficiente, considerável atropelo nas horas do rush e consequente enorme desconforto dos usuários). A razão de todas essas dificuldades se acharia na falta de vagões, que só estariam disponíveis em 2011 !
Se a concessão do metrô é competência e responsabilidade do Estado, pergunto-me, Senhor Governador, o que estão fazendo as suas autoridades prepostas, para admitirem um tal despautério de parte da concessionária ?
Não era segredo para ninguém que adentrasse o túnel Sá Freire Alvim – em cuja entrada se localizava o acesso aos trabalhos da nova estação – a data de inauguração de tais serviços, com o calendário móvel dos dias de obra realizada e por fazer. Tão elogiável publicidade para ciência do contribuinte – e eventual usuário – não encontra nenhuma contrapartida na evidente necessidade de reequipar e reaparelhar as composições do metrô ?
Que planejamento é este que não computa o aumento do público que carece de ser atendido por um serviço moderno e confiável ? Não seria preferível que a super-via imitasse um metrô eficiente e confortável, ao invés de permitir que as coisas descambassem para que o metrô, disfuncional e desconfortável, viesse a arremedar a super-via ?
Os dois desserviços são inaceitáveis. Por isso, nem inaugurações festivas, nem designações enganosas. O que o público deseja e merece é atendimento decente e eficiente, seja nos trens da Central, seja no metrô.
Com a palavra, o Senhor Governador Sérgio Cabral.
[1] Inaugurações montadas pelo Príncipe Potiomkin, em que cenários de supostos camponeses prósperos eram colocados no caminho do cortejo da czarina Catarina, em suas viagens pelo interior do Império.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
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