quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O Mensalão do Arruda

As cenas do governador José Roberto Arruda (DEM) embolsando dinheiro solicitamente entregue pelo delator premiado Durval Barbosa nos trazem à lembrança a imagem do funcionário dos Correios & Telégrafos olimpicamente recebendo gorjeta de três mil reais. Se a qualidade do vídeo do proto-mensalão – que escandalizou o país pela casual desenvoltura do funcionário corrompido – é muito superior aos do novo mensalão, por sua vez o nível dos infratores ora flagrado pelas câmeras da Polícia Federal representa claro progresso em termos de importância política.
O governador Arruda, antes político-propaganda do DEM, aquele que lograra a volta às alturas do poder depois de uma primeira queda – a sua cassação, no episódio das listas de votação do painel eletrônico do Senado – hoje, por conta de comportamento também irresponsável, se redescobre no penoso abandono que é a sina de todos os expostos à cólera dos deuses.
Na provação senatorial, a desgraça o colheu em papel secundário, ao lado do protagonista, Antonio Carlos Magalhães, que padeceu então curta eclipse política. Desta feita, porém, ele está em primeiro plano, como sucessor do mestre Joaquim Roriz. Guardando, é verdade, no aspecto um pouco dos ares modestos do Arruda de antes, exercia cargo que pressupunha certa grandeza.
Se se fala do governador de Brasília empregando tempos do passado, será decerto porque a sua nova queda se apresenta como algo inexorável, por todo o lamaçal que já nos foi dado deparar. No entanto, toda essa corrupção, em que o cômico se mistura com o grotesco – como no sketch do deputado distrital que literalmente forra as vestes com a pecúnia dos corruptores ativos – não pode voltar aos lôbregos recantos onde vá reflorescer, após a inevitável baixa no ibope de tais cenas.
Seja pela lei das probabilidades, seja pela ubiquidade da corrupção que viaja das prefeituras dos grotões interioranos para a ribalta do Distrito Federal, afigura-se acaso pensável que os três mensalões, dois em Brasília e um em Minas, constituam exemplos isolados, nefandos mostrengos, que inexistem em outros estados da Federação ?
Enquanto não houver verdadeira reforma política – todos os grandes personagens da verdadeira política a enaltecem, posto que dela fujam como o diabo da cruz – estaremos condenados a assistir mais filmes pouco imaginosos do gênero, em que a sopa das siglas políticas se dissolve na tristemente chamada base aliada, que, a exemplo dos mercenários, não atua por princípios, convicções ou ideologias.
Se continuarmos a admitir e até a dizer, que todos agem assim, e que não há jeito, não estaremos apenas projetando no futuro de nosso país a própria indigência moral, sob o manto do mais entranhado cinismo ?
E preparem-se não para as floradas da serra, mas para o espoucar de cinco, dez, quem sabe mais, mensalões para outras tantas bases aliadas...

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