Convidado para evento em São Paulo, com as mesuras, atenções e vantagens atinentes ao seu renome, não decerto diminuído pela distinção do Prêmio Nobel, o economista Paul Krugman – que também escreve para o New York Times – veio soar um alerta em meio à festiva atmosfera do mercado econômico-financeiro brasileiro, que a inconteste liderança da Paulicéia epitomiza por excelência.
Krugman não é novel assistente do filme ora protagonizado pelo Brasil. O estudioso e articulista – que tem o laurel de Estocolmo a elevar-lhe o coturno e a audiência – depois de referir-se ao óbvio – nosso país desfruta hoje de indubitável preferência junto aos inversores internacionais, o que acarreta excessiva valorização do real resultante desse afluxo especulativo – retirou de tais premissas conclusão que se denominaria o outro verso da medalha: a aparente benesse constitui problema sério, que pode afetar o crescimento da economia brasileira nos próximos anos.
As previsões que nos traz Mr. Krugman não são exatamente profecias de Cassandra. Qualquer economista, com o necessário preparo e conhecimento, tenderá a expressá-las como ponderável possibilidade, se bem que suas palavras carecerão do impacto que forçosamente acompanha às de personalidade com a fama deste especial convidado.
A litania dos sinais negativos – em especial a apreciação do real, o que barateia as importações e encarece as nossas exportações, com a consequência do desequilíbrio da balança comercial – acende a luz vermelha de um eventual perigo.
Sem embargo, Krugman reconheceu que, em razão de suas políticas macroeconômicas, o Brasil demonstrou ao ensejo da crise financeira internacional que tinha meios para enfrentar a procela, adotando medidas e se comportando “como um país mais avançado como a Suécia e a Grã-Bretanha”, o que conferiu à sua trajetória até agora “uma história com final feliz”.
Se o público sequioso das opiniões de Mr. Krugman foi pago com moeda um tanto tingida por posturas preconceituosas, como se fôramos ainda um país de “là bas”, a parte mais picante e quiçá mais acerba, consoante os preceitos da retórica, o economista laureado a reservou para o final. Segundo ele, “a história sugere que não é bom ser a cereja do bolo”, aludindo em seguida ao México, em princípios dos noventa o destino ideal dos investimentos, e indo à moratória em 1994.
Dessarte, de acordo com Krugman, em termos de taxa de câmbio efetiva, o Brasil está sendo levado a um território desconhecido. Não existe nada que indique que o país poderá continuar exportando da forma em que o real se acha cotado. Novamente, os mercados estão perdendo contato com a realidade.
Como se repete o sovado filme da euforia dos mercados, agora em relação ao Brasil, veio o Dr. Krugman com forma deveras estranha de manifestar a sua satisfação de ser especialmente convidado a discursar em nossa terra: está ele considerando até a possibilidade de se desfazer dos investimentos que tem em títulos brasileiros.
Diante da reação dos jornalistas, acabou por reconhecer que, em matéria de receitas para o câmbio, as autoridades financeiras brasileiras tinham tomado medidas acertadas, a exemplo da taxação sobre aplicações externas.
Em tal sentido, Mr. Krugman recomendou que se incremente o acúmulo das reservas, “mesmo que vocês não queiram”.
Quanto ao desenrolar da crise financeira internacional, disse acreditar que a ‘fase apocalíptica’ do ciclo já tenha sido superado. Não obstante, após aludir a ulteriores choques, como o atual de Dubai, não exclui – de forma um tanto contraditória – que o pior ainda possa estar por vir, mormente nos Estados Unidos e na Europa.
Em conclusão, os patrocinadores do evento em São Paulo pagaram talvez demasiado caro para ouvir do professor Paul Krugman comentários que, em verdade, não são originais nem mesmo novos. Para os provincianos, porém, terão a pátina do Nobel estrangeiro, inda que com abundantes pitadas dos preconceitos que moram acima dos trópicos.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
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