David Goldman afinal ganhou a partida, como mostraram as imagens do padrasto levando Sean, com a camisa da seleção brasileira, em meio ao tumulto em torno da entrada do Consulado-Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro.
João Paulo Lins e Silva protege o menino contra o assédio de fotógrafos, ávidos de imagens do sofrimento alheio, que costumam render bom público. Por sua vez, o deputado estadunidense, que se erigira em acompanhante oficioso de David, censura o que chamou de ‘circo’ a rodear a criança. Para ele, como para a parte americana, a entrega deveria ter sido feita sob a discrição da garagem consular, longe dos olhos nervosos da rua.
Há um outro circo a rodear o menino Sean, ora levado em triunfo para os Estados Unidos. Avançam já os paradigmáticos quinze minutos de notoriedade, que a mídia concede: o jato fretado pela NBC, que por isso detém a exclusividade da cobertura; as tomadas do pai radiante ao lado do filho; a residência da família Goldman, em cidadezinha de New Jersey, cercada pela nômade e volúvel parafernália da mídia.
Arrancado do convívio da família brasileira, com quem vivia há cinco anos, em plena véspera de Natal, em sentença no mínimo apressada do juiz Gilmar Mendes, cujo caráter desumano ele não trepidou em afrontar, contrariando não só a recentíssima liminar de seu colega do Supremo, Ministro Marco Aurélio Mello, senão a longa e humana tradição da trégua de boa vontade que distingue o Natal.
Terá exagerado a emocionada e confrangida avó materna, Silvana Bianchi, quando tornou a acusar o governo brasileiro de usar seu neto como moeda de troca na aprovação de acordo comercial ? O Senador Frank Lautenberg parece concordar com esta interpretação: “Isso( a devolução do menino ao pai) não aconteceu porque fomos bonzinhos.” Correlacionando a decisão de Gilmar Mendes e o interesse do governo do Brasil, aduziu o Senador democrata por New Jersey: “Aconteceu porque nós decidimos ser duros e bloquear medida que daria ao Brasil o equivalente a US$ 2,5 bilhões em oportunidades comerciais”. A notícia da Folha acrescenta que “o Itamaraty nega qualquer relação entre os fatos”.
Na pressa de atender à vontade de Washington – que toma a peito os interesses dos próprios nacionais -, o ministro Gilmar Mendes sequer cuidou de garantir os direitos de visitação da família brasileira ao menino Sean, direitos esses que haviam sido assegurados pela Justiça brasileira a David Goldman.
Sem fazer que a reciprocidade fosse respeitada, a parte americana não tem agora qualquer pressa em conceder o direito, que deve estar inscrito na tal Convenção de Haia a que tanto respeito dizem professar. A esse propósito, David já indicou o andor da carruagem, quanto às visitas da avó materna: “Levará um tempo, mas não vou negar a eles que se encontrem.”
Apesar da vontade do menino Sean de ficar no Brasil – consoante escreveu no cartão de Natal destinado ao padrasto João Paulo – a que a justiça brasileira fez ouvidos moucos, não se discute o bom entendimento entre pai e filho.
O que aqui se discute é o caráter abrupto da transferência, realizada de forma traumática e em momento que não poderia ser mais inadequado para o menino.
David Goldman ora conta com o interesse de políticos e do público, de que são leais servidores os meios de comunicação. Mas isso tudo vai passar e restará o entorno familiar do pai, na companhia dos avós paternos. Serão bastantes para as necessidades inclusive psicológicas do menino, habituado ao amor e ao carinho do círculo da família brasileira ?
De sua parte, em contraste com os préstimos americanos ao pai David, caberá agora ao advogado Sérgio Tostes e a avó Silvana Bianchi reclamarem a ajuda do governo brasileiro. Será acaso indício promissor o silêncio da não-resposta do Presidente Lula à súplica da avó pela atenção humana que seria quiçá lícito esperar do homem cordial brasileiro ?
(Fontes: O Globo e Folha de S.Paulo )
sábado, 26 de dezembro de 2009
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