A apreciação do real diante do dólar americano – ontem, o dólar comercial foi cotado R$1,7815 para compra – coloca problemas tanto para a balança comercial, quanto para a de transações de bens correntes.
No que tange à balança comercial, o real forte barateia as aquisições em dólar, eis que as aquisições em divisas – e, portanto, em dólar, que é a moeda mais utilizada em nossas importações – se tornam menos onerosas. Como resultado, as importações tendem a aumentar ao se tornarem comparativamente mais vantajosas.
Por outro lado, no que respeita às exportações de produtos brasileiros, elas ficam mais caras, eis que a sua cotação convertida em dólares aumentará, em função da sobrevalorização do real perante o dólar.
Se o equilíbrio da relação cambial e a apreciação da moeda nacional não só representam fator de prestígio para a economia respectiva, assim como sinalização positiva para os investimentos, dada a estabilidade que denotam, um real forte pode significar – como indicado acima – um fator não necessariamente favorável, por estimular desequilíbrio nas contas externas.
Dessarte, entende-se o desejo do Ministro Guido Mantega do real cotado em torno de 2,70 em relação ao dólar, pelo que importaria de incentivo às exportações e de controle às importações. Aliás, à guisa de exemplo nesse sentido, a política financeira seguida por Beijing ressalta dramaticamente a importância de uma cotação ‘fraca’ da respectiva moeda. Com efeito, a principal razão dos enormes superávits da balança comercial da República Popular da China está justamente na artificial subvalorização do yuan chinês em relação ao dólar americano.
Se a apreciação do real tende a fazer ‘encolher’ o tradicional saldo da balança comercial, tornando as nossas exportações de bens menos competitivas porque mais caras, a par de atrair mais importações, pelas vantagens comparativas de preço, as desvantagens sistêmicas não param por aí, sobretudo se atendermos para características específicas da economia brasileira.
Para o desequilíbrio no balanço de bens e serviços, é mister computar as remessas de lucros e dividendos das multinacionais com sucursais no Brasil, como é o caso de todas as montadoras de veículos e de alguns bancos. A pressão para o déficit não é das menores, visto que, pelos dados fornecidos, existe um déficit acumulado nessas remessas de US$ 19, 920 bilhões (até novembro). As montadoras de automóveis ‘agradecem’ as generosas desonerações fiscais procedidas pelo governo brasileiro (para incentivar as aquisições de carros econômicos), com o que incrementam as suas transferências para matrizes afetadas pela crise internacional.
Outro fator a agravar o desequilíbrio no balanço de bens e transações correntes é o aumento das viagens para o exterior, com déficit acumulado (até novembro) de US$ 4,898 bilhões.
Computados todos os dados – os positivos e os negativos – a conta de transações correntes – em que são computadas as trocas de bens e serviços com o exterior – deverá fechar 2009 com um déficit de US$ 22,0 bilhões.
Conquanto as previsões para 2010 sejam ainda piores – déficit em transações correntes entre US$ 40,0 e US$ 63,0 bilhões –, as perspectivas para a entrada de capitais (IED – investimento estrangeiro direto), se mantidas, tendem a tranquilizar o mercado, eis que se projeta entrada de US$ 45 bilhões.
Tudo dependerá, assim, se as tendências ao neopopulismo governamental, sob a pressão de um ano eleitoral, não se agravarem, que os dados macro-econômicos acima referidos não registrem outras variações mais desestabilizadoras do cenário econômico-financeiro brasileiro.
( Fonte: O Globo )
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
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