Houve violentos choques entre estudantes e as forças de segurança, ao ensejo do Dia Nacional do Estudante, que é um feriado para comemorar a morte de três estudantes, assassinados em 1953 pelo regime do Xá Reza Pahlevi.
Dada a forte repressão pela teocracia do Supremo Líder Ali Khamenei aos movimentos democráticos, já se previa que a massa estudantil – que apoia o candidato esbulhado nas eleições de junho, e líder oposicionista Mir Hussein Moussavi – iria organizar passeatas de protesto contra a situação.
Para evitar manifestações de dissenso, as autoridades cercaram as universidades com barricadas. Por outro lado, diversos líderes estudantis foram presos, determinou-se aos correspondentes estrangeiros que se mantivessem afastados, e se bloquearam os contatos pela internet. Não obstante tais esforços, grandes multidões de estudantes se reuniram nos campus universitários na segunda de manhã, portando bandeiras ou faixas verdes – o sinal distintivo do movimento – gritando ‘Alá é grande!’e ‘Morte ao Ditador !’. Os protestos se realizaram não só em Teerã, senão em Mashad, Isfahan, Kerman, Hamadan e outras cidades.
As confrontações entre estudantes e a milícia Basij foram bastante intensas. Nuvens de gás lacrimogêneo se elevaram nas ruas de Teerã e outros centros, a que os oposicionistas responderam com pedras e incêndios localizados.
Verifica-se, igualmente, escalada na agressividade retórica contra a revolução islâmica. Assim, manifestantes queimaram um poster do Ayatollah Khomeini, líder da revolução de 1979, e até o presente figura reverenciada no Irã. Por outro lado, outro grupo de estudantes marchou com bandeira, em que a palavra ‘Allah’, acrescentada depois da Revolução, havia sido retirada.
Dentre os slogans escandidos na Universidade Sharif, se ouviu ‘Morte ao opressor, seja o Xá, seja o Líder Supremo !’
Além dessas palavras de ordem, em que se questiona a supremacia clerical e a própria legitimidade da revolução islâmica, enquanto se repisa o seu caráter repressor e anti-democrático, à criatividade do movimento estudantil tampouco escapou a Rússia que – a exemplo do Brasil – cuidou de reconhecer prontamente a eleição de Ahmadinejad, a despeito dos graves indícios de fraude generalizada.
Assim, zombando do anti-americanismo ritual do regime iraniano, os estudantes levaram bandeira da Federação Russa, para queimá-la em seguida.
No domingo, o candidato Mir Hussein Moussavi em declaração caracterizou o movimento democrátivo como ‘vivo’, não obstante a repressão governamental. Advertiu as autoridades no sentido de que não poderiam sufocar os protestos com prisões de estudantes, visto que um em cada vinte iranianos é estudante universitário.
Na declaração Moussavi criticou a vontade do poder de fazer o povo esquecer as eleições. ‘Como podemos fazer para que eles entendam que não é esta a questão? Não é sobre quem é presidente ou não, a questão é que eles venderam uma grande nação’.
Akbar Hashemi Rafsanjani, político influente, e ex-presidente, se manifestou em apoio ao movimento : ‘Não é justo colocar os Basij e os Guardas Revolucionários (Exército) para confrontar o povo.’
A brutalidade e a insensibilidade do regime o levou a prender mais de vinte màes de estudantes mortos, reunidas em luto pelo sacrifício de seus filhos, vitimados pelas forças da repressão, ao ensejo dos protestos pelas eleições fraudadas de doze de junho. As mães se reuniam em vigilia no Parque Leleh, no centro de Teerã, desde a morte em junho de Neda Agha-Soltan. O encontro já fora atacado pela polícia, mas neste último sábado, por primeira vez, as mães foram presas.
É importante assinalar que, malgrado a selvageria do regime dos ayatollahs, com os seus julgamentos encenados, as condenações à morte e a longas penas de prisão, as sevícias e torturas nos porões da repressão, se observa fenômeno similar ao verificado na reação popular à ditadura corrupta do Xá Reza Pahlevi. Ao invés de obedecer às nervosas injunções do Líder Supremo Ali Khamenei e de seu primeiro servidor Mahmoud Ahmadinejad, o movimento de protesto não recua, e insensivelmente vai crescendo a revolta dos estudantes, não mais centrada em um acontecimento pontual, como o foi a fraude de doze de junho, mas progressivamente voltada contra as causas de tal situação, vale dizer a hegemonia teocrática do regime dos ayatollahs. Nesse contexto, assinala-se o enrijecimento da situação, aplicando métodos do Xá para reprimir o movimento democrático, o que fatalmente contribuirá para a progressiva radicalização da resistência popular. Se os resultados do atual processo revolucionário no Irã são ainda imprevisíveis , a história nos ensina que as tiranias mais cedo ou mais tarde estão destinadas a passar sob as forcas caudinas.
Nesse contexto, não se afigura dos mais atilados o critério do presidente Lula em associar-se a um pária internacional, e até mesmo desgastar-se publicamente na Alemanha, ao pedir paciência para com Teerã. E em seguida manda seu ministro assinar acordos com país ora submetido às sanções do Conselho de Segurança. Nesse quadro, a comparação com a reiterada posição quanto a Honduras, nos mostra que a boa política diplomática não pode servir a dois senhores. Ou é política de Estado, como era praticada no Brasil, ou é de cunho ideológico, com as inevitáveis contradições que tal discricionarismo determina.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
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