terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Fenômenos só brasileiros ?

A Candidatura do PSDB

Há a impressão, bastante difusa, no meio político de que os tucanos têm propensão natural para tornar o aparentemente simples complicado, e o fácil, difícil. Será distorção propalada por adversários, e, no entanto, o que está ocorrendo com a atual não-candidatura do PSDB à presidência da república tende a mostrar que essa opinião não é assim tão disparatada.
Todas as pesquisas apontam para a constante liderança de José Serra como eventual candidato do PSDB a presidente. A sua curva de preferências se mantém entre 36 e 40 % dos sufrágios. Nada mau, sobretudo para alguém que não dispõe de metade da exposição de outros pré-candidatos, e muito menos de qualquer publicidade comparável àquela dispensada à pré-candidata ungida pelo Presidente Lula.
A par de continuar a dizer que o seu prazo de opção será em março - de resto, o limite legal para a própria desincompatibilização – Serra assiste, com ostensiva impassibilidade, a persistente contestação pelo Governador de Minas, Aécio Neves, de sua prerrogativa, consoante outorgada pelo eleitorado, de ser o candidato do PSDB.
Diante dos rios de propaganda destinados à pré-candidata Dilma Rousseff , de que os píncaros da popularidade do presidente em exercício decerto aumentam o afluxo, causa espanto a pacata obstinação do Governador de São Paulo de não só ater-se aos prazos extremos da legislação, senão conservar em quase banho-maria as respectivas mensagens ao eleitorado.
Entrementes, aumenta a pressão, vinda notadamente da nervosa direção tucana, sobre o suposto desafiante Aécio, que, até agora, não parece abalado pelo fato de que a sua candidatura alternativa não decole, malgrado a aturada postura de lançá-la na arena.
Como todo mineiro, além de preservar a respectiva discrição, Aécio será também um realista. Nessa hipótese, terá a alternativa de compor a chapa com Serra – a chamada puro-sangue – ou de privilegiar a própria continuação no Estado, concentrando seus esforços na eleição de seu supersecretário para Governador. Esta última, se não pode ser descartada, tem menos atrativos do que a candidatura à vice-presidência. Neste caso, o jovem Aécio dá a precedência ao veterano Serra, enquanto postula o segundo posto na República. Também nada mau, à primeira vista.
O futuro há de indicar se tais prescrições, que o comum dos mortais não desdenharia, aplicam-se de igual modo ao alto tucanato.

O destino dos Fichas-sujas.

Depois da visita recebida de próceres do MCCE (movimento de combate à corrupção eleitoral), encabeçados por Dom Dimas Lara, Secretário-Geral da CNBB, o Presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP) se terá, inda que a contragosto, convencido que não é politicamente desejável nem recomendável manter na gaveta o projeto de lei de iniciativa popular, assinado por um milhão e trezentos mil eleitores, e que visa a barrar aos fichas-sujas a possibilidade de candidatar-se ao Congresso.
Como se sabe, ora está nas mãos dos líderes partidários a decisão sobre a votação do projeto. Eis que Sua Excelência proporá ao colégio dos líderes que o dito projeto seja votado. No entanto, a graciosa anuência de Temer tem um preço. O deputado paulista - que, a exemplo de tantos outros representantes, do baixo e do alto clero, tem problemas na justiça – fará apenas uma sugestão: ao invés da condenação em primeira instância, como reza o projeto, a inegibilidade do candidato com ficha suja será determinada para aqueles condenados em segunda instância. A alegada razão seria garantir o direito dos candidatos, eis que a condenação por um tribunal ensejaria a apreciação do caso por um órgão colegiado.
Com isso, o escopo moralizador do projeto popular fica cerceado de modo significativo, eis que aumenta consideravelmente o tempo hábil deste sursis para o eventual candidato ao Congresso. E, diga-se de passagem, não é questão de lana caprina, visto que cerca de 40% dos senhores congressistas têm indiciamento ou condenações na Justiça.

O Flamengo e sua Torcida

Antigamente, o costume era a concessão dos bis, tri e hexacampeonatos, para aqueles países ou equipes, que os houvessem conquistado em série ininterrupta de êxitos. Hoje, não sei se por conta dos campeonatos mundiais. o multiplicativo se aplica sempre, sejam contínuos ou espaçados os títulos. Nada contra, embora a dificuldade – e o consequente mérito - do sistema anterior de contagem não se afigura suscetível de comparação com o modo facilitário do paradigma atual.
Não há negar que o Flamengo dispõe da maior torcida no Brasil. O seu maior rival paulista, o Corinthians, comanda também grandes multidões e dedicações desmedidas, como o registram inclusive filmes e não apenas documentários.
A paixão clubística que é um fenômeno universal – estão aí os famigerados hooligans a espalharem confusão, badernas e até terror nos países visitados – e, se respeitados os limites do bom senso e do direito alheio, não há nada a objetar.
Já nos dizia Aristóteles que a virtude se acha no meio termo. Talvez seja difícil para o torcedor ser equânime e aceitar mudo, na arquibancada, um penalty marcado contra o próprio time. Todos deploramos os doestos dirigidos à senhora genitora do juiz. Como adeptos de um clube determinado, será natural que o sentido de justiça de cada um possa sofrer de panes ocasionais, desde que restringidas ao domínio das palavras e ao respeito pelo outro.
Assim como existem limites para a liberdade de palavra – quem admitiria como justo o falso grito de “Fogo !”, em um teatro repleto ? – também os há para atitudes que poderiam ser consideradas como provocatórias – v.g., colocar-se o torcedor vascaíno, devidamente uniformizado, no meio da torcida rubro-negra.
Sei que é difícil àqueles sob o jugo da paixão clubística e da necessidade de identificação que o uso da camiseta semelha conferir, controlarem a própria emoção. Manda, portanto, igualmente o bom senso que se dê um tanto de rédea larga para os exultantes torcedores de equipe como o Flamengo que há muitos anos não ganhava o campeonato nacional.
Fê-lo sob a direção do mineiro Andrade – para quem a diretoria, como soi acontecer, torcia de início o nariz –, empurrado (quase literalmente) por Adriano, sem falar na habilidade veterana de Petcovitch e a união dos jogadores. Por isso, a explosão da alegria dos muitos é bem-vinda, desde que sempre dentro dos parâmetros do bom senso, e portanto fora dos desatinos consignados nos códigos competentes.
Antes de concluir esse registro, parece oportuno recomendar aos meios de comunicação, escritos e televisivos, que na sua ânsia de cultivar oi polloi [1], essa grande e majoritária multidão formada pela expressão ‘torcida do Flamengo’, guardem um mínimo de compostura e de respeito pelos adversários, todos coexistentes em um universo lúdico, e que não implica em confrontações guerreiras. É bom não esquecer que se trata apenas de um clube, e não da designação abstrusa, como a ‘de nação rubro-negra’. Em jogos que não sejam de seleção – e mesmo nestes um mínimo de comedimento é imperativo – os locutores não devem ser servos de clube algum.
Assim, não devem hesitar em gritar ‘gol’ mesmo quando é feito pelo outro time. Um pouco de respeito por ambas as equipes deve ser judiciosamente respeitado. Afinal, o locutor – televisivo ou radiofônico – precisa ser um narrador - até empolgado - do jogo, mas nunca um torcedor.
O público merece essa comezinha atenção.
[1] Os muitos (grego clássico)

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