Do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, já se disse muito e decerto o bastante para questionar a oportunidade de sua visita oficial ao Brasil.
A esse propósito, o governador José Serra, em artigo publicado na Folha de São Paulo de ontem, faz ponderada avaliação do quão indesejável é a vinda do governante iraniano a nosso país.
Não será o primeiro governante autoritário – e ainda por cima egresso de eleições fraudulentas – que porventura seja recebido nos palácios de Brasília. Sem embargo, este senhor, de aparência nada presidencial, inova à sua maneira também neste campo. Pois, na verdade Ahmadinejad está, na teocracia iraniana, mais para primeiro-ministro do que presidente. Dessa forma, poderíamos chamá-lo quando muito de subditador, subordinado que é ao Ayatollah Ali Khamenei, Líder Supremo do Irã.
Dos excessos da ditadura dos ayatollahs, da bárbara repressão contra os movimentos de pacífica resistência democrática, dos farsescos julgamentos feitos para coagir a população e que não se pejam de condenar à morte por supostos delitos de opinião cidadãos iranianos, das torturas e ignominiosas sevícias que emulam às do regime do Xá, é geral o conhecimento e a repulsa dos países democráticos.
Nada disso carece de ser demonstrado ou sequer discutido. São tópicos de amplo consenso, como é igualmente generalizada a convicção que afasta Ahmadinejad, o negador do Holocausto, de ser recebido por governantes ocidentais.
O que cabe perguntar será que motivos terão induzido o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva a reiterar, em ocasião tão inoportuna, o convite ao senhor Mahmoud Ahmadinejad.
Será acaso o incremento do intercâmbio comercial ? Desde os tempos de Fernando Collor se fala dessa perspectiva. Contudo, o comércio bilateral, pelo seu acentuado desequilíbrio – que nos favorece -, parece ter poucas condições de crescimento, pela falta de o que comprar do Irã, sendo o petróleo o seu principal produto de exportação.
No domínio político, se nos ativermos aos interesses e objetivos da democracia brasileira, tampouco deparamos horizontes comuns. É um escárnio que este senhor seja recebido pelos presidentes de Senado e Câmara. A par dos problemas que enfrentam, seria crível deles esperar atitude sobranceira, que marcasse posição contra representante de regime autoritário, em que só ingressam no parlamento os aprovados pelo crivo dos ayatollahs ?
Mais se analise a questão, e mais se reforça o juízo de que a insistência na visita denota um aventureirismo ideológico, que é por sua vez decorrência – sobretudo no segundo mandato de Lula – de veleitário protagonismo que pouco ou nada tem a ver com as concepções prevalentes em chancelaria digna deste nome.
Menosprezando os interesses permanentes de Estado, sopram aos ouvidos de Lula – já inebriado na cena internacional por cumprimentos que acredita duradouros – iniciativas controversas. Assim, a estranha acolhida de Zelaya como ‘hóspede’ na embaixada em Honduras, a quase hostilidade à Colômbia e os respaldos repetidos ao caudilho Chávez, e agora, no instante em que Teerã volta atrás em acordo sobre o seu projeto nuclear, a defesa por Nosso Guia do direito do Irã a um programa nuclear para uso pacífico...
Quem a esta altura pode crer nas boas intenções do regime iraniano em desenvolver o átomo com intúitos de paz ? Como abraçar este senhor para as objetivas da imprensa, e julgar possível dar-lhe caução, sem incorrer nas consequências da falta de atendibilidade ?
Se tem Lula alguma visão, além do gesto imediato de receber com rapapés um pária internacional, pensará acaso que ouvir os cantos da sereia de passadas ideologias lhe ajudará a mantê-lo no pedestal, em que o colocaram os que agora, sem válida motivação, estouvadamente contraria ?
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Com certeza, as observações do Serra sobre a vinda do Ahmadinejad foram ponderadas. Ponderadíssimas, como sempre, aliás. O Serra é, realmente, alguém que sabe ponderar muito bem sobre como fazer mal a este país. Mas, felizmente, o Lula pondera melhor. Pondera, por exemplo, que os mesmos argumentos que são usados contra o Irã, pela dita "comunidade internacional", podem ser usados também contra o Brasil, e contra todos que, muito justa e razoavelmente, já perceberam que a única defesa possível contra a arrogância imperialista é o domínio da tecnologia militar nuclear. Sem ela, estamos à mercê daqueles que a dominam.
Há um interessante livro do embaixador Mauro Mendes de Azeredo sobre o modo como os detentores americanos desta tecnologia se comportaram no mundo pós guerra. Não há como achar que, derrepente, eles ficaram bonzinhos... O blogueiro deveria dar uma lida (ou relida). Ajudaria a desopilar seu senso de julgamento político
Postar um comentário