Causa espécie o viés que a grande imprensa brasileira tem dado à cobertura política nos Estados Unidos. As eleições parciais – lá designadas como off-year, isto é, fora de estação – chegam a ser descritas como a primeira derrota de Obama, o que pode corresponder à perspectiva do jornal e de seu correspondente, mas que não encontram eco nos grandes órgãos de comunicação estadunidenses. Esse noticiário negativo dos jornais brasileiros igualmente ocorre na avaliação de grandes temas, como por exemplo a reforma da saúde, em que o pessimismo do articulista constitui a tônica da informação.
Mas afastemos essas visões preconceituosas – e que mais parecem atender a condicionantes de política interna brasileira – e tratemos de distinguir o que efetivamente aconteceu na democracia americana.
Nas eleições para governador nos estados de New Jersey e Virginia, venceram os republicanos Christopher J. Christie e Robert F. McDonnell. No estado vizinho de New York, o democrata Jon S.Corzine disputava a reeleição. Este, enfraquecido pela sua impopularidade, assistiu a que o Partido Republicano vencesse nesse estado depois de doze anos de domínio democrata. Já a Virginia é tradicionalmente republicana, embora Obama tenha sido o primeiro candidato democrata a vencer no estado desde 1964 (Lyndon Johnson). Na cidade de New York, o prefeito Michael R. Bloomberg concorreu como independente a um sem-precedente terceiro mandato e, para espanto de muitos, venceu de forma apertada por diferença de 5%. Por sua vez, o prefeito democrata de Boston, Thomas Menino obteve um quinto mandato.
Talvez a maior surpresa estaria em uma disputa para mandato de cerca de um ano na Câmara de Representantes. Na acirrada disputa entre Douglas L. Hoffman, candidato do Partido Conservador (e apoiado pela direita republicana) e o democrata Bill Owen pelo 23º Distrito Congressual, a vitória foi de Owen (a primeira de um Democrata em 150 anos).
Se os resultados desta eleição off-year, pelas suas características contrastantes, não fornecem base para asserções genéricas como as dispensadas por nossa imprensa, tampouco dão motivo para que a Casa Branca encontre razão para atribuir eventuais sucessos do Partido Democrata à influência de Barack Obama.
Na verdade, consoante o porta-voz presidencial, Robert Gibbs, questões locais determinaram as escolhas de New Jersey e Virginia. Com efeito, as pesquisas de boca de urna apontam problemas locais como determinantes nessas duas eleições estaduais. Nesse sentido, a maioria dos eleitores nestes Estados reafirmou o seu apoio ao Presidente e considerou a economia como a principal preocupação.
Na verdadeira eleição intermediária – a marcada para novembro de 2010 – estarão em disputa 39 postos de governador de Estado, toda a Câmara de Representantes e 38 cadeiras no Senado. Esse encontro aprazado com a Nação foi desastroso para o Presidente Bill Clinton (1994), vencido pelo fracasso na Proposta de Reforma da Saúde, e pela revolução republicano-direitista, capitaneada por New Gingrich, com o seu Contract with America.
Para o Presidente Barack Obama e o Partido Democrata, serão decisivos para determinar a manutenção da atual maioria democrata no Congresso – ou uma dramática reversão em favor do G.O.P. – a eventual aprovação por este Congresso de uma Reforma do Plano Geral de Saúde (por primeira vez em mais de quarenta anos) e a evolução dos conflitos herdados de Bush júnior, no Afeganistão e no Iraque.
O êxito da Administração Obama – e as perspectivas de um domínio sustentado do Partido Democrata – dependem desses tópicos e, sem dúvida, da evolução da situação econômica, uma vez superado outro descalabro legado por George W. Bush, o malsinado 43º Presidente dos Estados Unidos.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
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