Passado o parêntese ortodoxo, o presidente Lula retorna gostosamente a seus pendores neopopulistas. Tiradas as vantagens do período inicial em que presidiu ao bom comportamento em termos de gestão econômico-financeira – auferindo a economia os benefícios correspondentes, e dando inclusive ao presidente a oportunidade de jactar-se de posição credora junto ao FMI -, Luiz Inácio Lula da Silva parece que se cansou da fantasia.
Bem antes da famigerada marolinha, Sua Excelência mudou o curso, dentro da estratégia da governança no segundo mandato. Como o esquema do primeiro naufragou em escândalos e tribunais, o plano ‘B’ pós-reeleição seria o da ampliação da base governamental, com a inchação do ministério e o reforço nas bases do empreguismo e do assistencialismo.
Tal estratégia visa à criação de sólida base de apoio, e não só junto à população carente, para o benfeitor Lula e seus eventuais herdeiros políticos. O problema com tal receita programática é a um tempo ético e econômico. Em outras palavras, valendo-se de recursos públicos, a administração do PT privilegia, em benefício próprio, a formação de base clientelista, e o faz através de medidas tanto a curto, quanto a médio e longo prazos.
No que tange às desonerações fiscais, de início, em meio à crise financeira, existiam fundados motivos para a redução das alíquotas que incidem sobre a venda de veículos econômicos. Através desse incentivo à demanda, as montadoras não dispensaram empregados. Tais desonerações, no entanto, continuam, abrangendo também eletro-domésticos (geladeiras, fogões e lavadoras), móveis, bens de capital e construção civil.
Em função dessas vantagens, há um aquecimento da procura, e consequente elevação de preços, eis que a oferta de bens não é suficiente para atender a demanda acrescida.
Assim, segundo economistas, o estímulo ao consumo por isenções e crédito fará a economia rapidamente bater no teto da capacidade. Por outro lado, o investimento vai adicionar mais demanda na economia. Pode obrigar o Banco Central a rever a política monetária. A alça da taxa de juros, inda que transitória, é uma possibilidade (a taxa Selic baixou de 13,75%, em dezembro de 2008, para 8,75%).
Nesse quadro, crêem alguns que a discussão sobre estímulos já deveria ter mudado de direção. Há risco de desequilíbrios, como inflação e problemas na balança comercial.
No campo do superávit fiscal, houve uma certa reação, com um superávit primário de R$11,3 bilhões. Este é o melhor desempenho em um ano (no mês anterior houve déficit de R$7,7 bilhões, o pior do ano). De janeiro a outubro, o superávit do Governo Central é de R$27,6 bilhões, menos de um terço dos R$95,9 bilhões obtidos em igual período do ano anterior.
Embora o governo atribua a diferença ao impacto da crise, especialistas apontam para o aumento dos gastos com pessoal de 18,4% - na chamada rubrica dos gastos correntes – que, por causa do reajuste do funcionalismo, pressionou bastante o desempenho fiscal.
Por último, no que tange ao desempenho externo da economia, em função da apreciação do real em relação ao dólar estadunidense, e do resultante incremento nas importações, redução nas exportações, aumento das despesas com viagens e turismo, além da elevação sazonal das remessas de empresas estrangeiras sediadas no Brasil, projeta-se um déficit importante, da ordem de vinte bilhões de dólares em nossa balança de transações correntes.
Aumentará, por conseguinte, a dívida externa, além da correspondente alça dos juros respectivos.
Como se vê, o comportamento da economia mostrará perfil menos auspicioso, em termos de avaliação anual.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
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