O Brasil é imenso país que, como aprendemos, vai do Oiapoque ao Chuí. A sua área tropical será possivelmente a maior dentre as nações nos dois hemisférios.
Bem sabemos que os nossos governos, tanto o federal quanto os estaduais, não se têm comportado de forma responsável na preservação do meio ambiente. A nossa túnica não se afigura assim tão alva a ponto de que estendamos o dedo acusador para outros quintais, sem que primeiro não cuidemos de dar o exemplo, e que a ênfase seja menos no fácil discurso do que na complexa práxis.
O objeto deste blog não será, no entanto, os preocupantes fenômenos climáticos causados pelo aquecimento global (tornados, ciclones, etc. antes nunca vistos por nossas bandas), mas a necessidade do combate preventivo dos governos federal, estadual e municipal contra as manifestações endêmicas e epidêmicas exacerbadas por este mesmo aquecimento global.
A Bahia, terra de nossa primeira capital, tem evidenciado, nos últimos tempos, desempenho no que concerne à proteção da respectiva população que só tende a ser qualificado como abaixo de medíocre. Com efeito, no verão passado, a epidemia de dengue na região de Itabuna constitui uma chaga aberta para sobretudo a administração do governador Jacques Wagner (PT).
No Brasil, muitos políticos acreditam na instrumentalização do discurso para eludirem os efeitos da própria displicência, negligência e incompetência (as mais das vezes uma mistura das três), quando confrontados por um surto epidêmico. Recordo-me, a respeito, das entrevistas televisadas de funcionária de terceiro escalão da prefeitura do Rio de Janeiro, em 2007, cuja mensagem era essencialmente derrotista (nada havia a fazer contra a avassaladora dengue). Quem sabe temerosos do ‘contágio’ do Aedes Aegypti, nem o secretário municipal, nem o Prefeito Cesar Maia se dignavam responder às inquietações dos cariocas.
Nesse caso, a desídia municipal - a par de cooperação também insatisfatória dos poderes federal e estadual – muito contribuiu decerto para o surto epidêmico e as muitas mortes causadas pela dengue no Rio de Janeiro.
A irrupção da meningite meningocócita no sul da Bahia, em surto que foi a princípio abafado, com a preocupação de evitar a diminuição do afluxo turístico àquela região, provocou a morte de quatro pessoas em Porto Seguro, em outubro de 2009. Não obstante o total de oito casos naquela área, o Estado se empenhou em tranquilizar os eventuais turistas do feriado de Finados, dizendo que o problema tinho sido ‘pontual’ e que não oferecia perigo aos visitantes.
Agora a meningite eclode em torno da capital, nas áreas da população carente, em que as condições sanitárias são ainda mais precárias. E também nesta área metropolitana da Bahia, a omissão governamental se faz acintosamente presente. Não, leitor, o oxímoro não é empregado por lapso. É proposital, para acentuar os justos reclamos dos habitantes desvalidos, que, diante da inércia federal, estadual e municipal, ora recorrem, na expressão d’O Globo, a uma revolta da vacina às avessas.
Ao contrário da falta de informação que motivara a rebelião de populares contra Oswaldo Cruz, no início do século passado, hoje os moradores das áreas de risco reclamam justamente pela ação preventiva da vacinação.
São 128 óbitos registrados no corrente ano – cinco a mais do que em todo o ano passado – que pela incidência já deveriam ter acionado o Ministério da Saúde para a distribuição à população ameaçada das doses da vacina de imunização contra a meningite.
Vemos, no entanto, populares em passeatas de protesto, com cartazes que clamam pela intervenção sanitária, e, em resposta, aparece na televisão outra funcionária para anunciar não a urgente ação do Estado, mas para dizer das dificuldades da distribuição das vacinas, que no critério burocrático ainda não se justificaria. Dessarte, na terra dos desperdícios se opta por economizar quando mais cresce o epifenômeno.
Na Bahia como no Rio de Janeiro a conscientização dos habitantes é a precondição de uma luta eficaz contra as epidemias. Os governantes não se devem esconder atrás dos biombos de funcionários de baixo escalão, com as sovadas desculpas da suposta falta de motivos para a intervenção sanitária.
Emergências sanitárias podem surgir e não devem ser submetidas aos requisitos procusteanos da burocracia do Ministério da Saúde. Quantas mortes serão necessárias para que o Dr. José Gomes Temporão resolva agir ?
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
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