Depois de estranho silêncio da Ministra Dilma Rousseff sobre o apagão, talvez observação do Governador Aécio Neves tenha tido o condão de que ela não mais se escondesse por trás da sombra do Ministro Edison Lobão.
Mineiramente, assim se manifestou o pré-candidato do PSDB: “Não creio que do ponto de vista técnico o apagão tenha efeitos na campanha. Agora, a operação para blindar a ministra Dilma, isso passa a ideia de fragilidade em sua candidatura”.
É difícil não entrever em tais declarações a causa eficiente para a entrevista na tarde do mesmo dia da pré-candidata do oficialismo e responsável pelo planejamento do setor elétrico no governo Lula.
Dignou-se então a Ministra-Chefa da Casa Civil informar a sociedade, 48 horas após o colapso na energia, que o sistema foi “inteiramente recuperado” e que, “para o Governo, esse episódio está encerrado.”
Deveríamos então ficar aliviados com a alvissareira notícia, transmitida por Sua Excelência com o tom peremptório que se casa com sua personalidade, a despeito dos intentos dos publicitários de turno de vesti-la com pele de cordeiro, reminiscente do Lula, ‘paz e amor’ da eleição de 2002 ?
Não tanto, pois para quem afiança que o sistema foi “inteiramente recuperado”, e que com a suavidade de um ucase[1] determina que “para o governo, esse episódio está encerrado”, desperta no mínimo assombro que ela acrescente não estar o Brasil “livre de blecaute”. Para que tal ocorra, se apressa em aduzir, o nível de investimentos no setor elétrico teria que ser elevadíssimo.
Interessante notar, a propósito, que o governo Lula só investiu 38% das dotações alocadas para o setor energético. Fica então a pergunta do porque desta drástica redução de quase dois terços para o aparelhamento do sistema. Decerto, não se há de reputar elevadíssimos os montantes rotineiros de que o sistema carece.
Sem entrar de imediato na análise da incongruência do autoritário encerramento de discussão de um caso não resolvido, assinale-se que o Ministro de Minas e Energia, Édison Lobão, acorreu, pressuroso, no apoio à Ministra-Chefa, pronunciando, do alto de sua competência, que o apagão “é assunto encerrado”.
A situação escarnece dos apodos oposicionistas de que o Presidente Lula e seus auxiliares, tanto executivos, quanto legislativos, partam para a blindagem extrema da pré-candidata Dilma, seja no Congresso, seja alhures. Nada de interrogatórios parlamentares, nada de quesitos importunos de oposicionistas que, porventura, a coloquem em dificuldade.
Semelha peculiar deveras o açodamento de Dilma, Lobão & Cia. de encerrar o debate sobre o molesto acontecimento. Exemplos passados avivam suspeitas de que as hostes governistam temam no episódio a verdade, assim como o demo estremece diante da cruz. Se não, qual o motivo verossímil de tal açodamento ? Não seria interessante para a Administração conhecer os fatos – sempre na presunção de que ainda não os saiba – pois, esta ciência lhe será útil no futuro, auxiliando-a quem sabe a prevenir desastres tão embaraçosos ? Ou serão os raios de Júpiter, esta divindade desde muito decaída, a terem, além dos tempos de FHC, uma nova sobrevida ?
A ocultação das circunstâncias que determinam ocorrências desagradáveis será sempre tentação dos governos no exercício de suas funções. No caso presente, esses intentos são canhestros e inúteis. Como a pretensa causa meteorológica foi afastada por quem de direito, seria oportuno e inteligente apurar-se as causas reais do apagão. Oportuno, porque o encerramento do assunto não satisfaz, e inteligente, pela simples razão de que, mais cedo ou mais tarde, os fatores determinantes virão a lume.
Tais motivações são alvitradas, presumindo a existência de boa fé na Administração. Tentar espichar o silêncio contra vento e maré atiça o faro de investigadores radicais, dentro da chã sabedoria de que para ações e fatos comprometedores a esperança só reside nos férreos segredos do desespero.
[1] Decreto imperial na antiga Rússia.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
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