Sem despertar a atenção de antes, nem ser mais julgada capaz de merecer tratamento prioritário na escala mundial da política internacional, a interminável crise de Honduras se arrasta dentro da presente monotonia das altercações da política interna do país centro-americano.
Com efeito, distantes estão os ecos do inconsueto ingresso de José Manuel Zelaya na missão brasileira – que induziram o Ministro das Relações Exteriores do Brasil a acreditar cabível fosse a questão avocada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas – e da alçada do diapasão das escaramuças entre os grupamentos do presidente interino, Roberto Micheletti, e do presidente deposto, Manuel Zelaya.
A ‘materialização’ de Zelaya na Embaixada do Brasil não teve o efeito estratégico previsto pelo coronel Chávez. Tampouco a criação ad hoc da singular caracterização do presidente deposto como ‘hóspede’ obteve os resultados colimados pelas partes interessadas. A própria modificação do papel da chancelaria nacional – ao invés da concessão do asilo na diplomacia de estado, segundo as normas de direito internacional público, a transformação da embaixada em virtual escritório de campanha de Zelaya e abrigo de dezenas de pessoas, entre familiares, partidários e agregados – tende a apontar para a eventual adequação ao nível das práticas locais.
Nem o acordo costurado pela diplomacia estadunidense, subitamente redesperta após aparente longo letargo, foi em última análise eficaz em vencer o marasmo da quizília e em determinar, por fim, a implementação de solução consensual negociada, antes perseguida com a habitual ineficácia pela OEA, e por vã mediação do Presidente Oscar Arias.
Se os protagonistas da crise terão aquiescido às linhas gerais do acordo, tanto o Congresso deixou de votá-lo no prazo estipulado, quanto Zelaya optou afinal por dissociar-se do texto acordado. Nesses baixios de política interiorana, determinar quem é responsável de que semelha ingrato e inútil trabalho, embora talvez nos partícipes não exista qualquer dúvida sobre o escopo de tão profusas e exasperantes negaças.
O arguto convite evangélico – quem não tem culpa, que lance a primeira pedra – lá seria bem compreendido, seja por quem desejava subverter o processo eleitoral, seja por quem se excedera na penalização da transgressão.
Tampouco faz sentido tentar impedir a realização do pleito. Comprovada a sua isenção e lisura, quer na campanha e no acesso às urnas, quer na apuração, as distinções entre quem se acha na presidência não se afiguram de maior importância, se levarmos em conta que, estatutariamente, é a justiça quem as preside. A menos que as intenções da parte supostamente perdedora não sejam assim tão cândidas.
Com o passar dos meses, por conseguinte, a centro-americanidade da crise se afirmou sempre mais, acima das fumaças de liderança do caudilho Chávez e de outros associados, por motivos mais ideológicos do que diplomáticos.
Dessarte, terá sido prematuro o lamento de que Washington renunciara à própria liderança abaixo do Rio Grande. À primeira vista, se os instrumentos mudaram, os atuais – começando pelo cancelamento dos vistos diplomáticos – possuem validade similar, posto que tendam a ganhar nas aparências.
sábado, 21 de novembro de 2009
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