Segundo proclama, com triunfalismo oficialista, o Ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, a devastação da mata amazônica em 2009 será a menor da série histórica. Ela está em 9.000 km2. Essa extensão foi determinada conforme os dados do sistema Deter (detecta desmatamento acima de 25 hectares) – o qual é menos preciso do que o sistema Prodes (detecta desmatamento acima de 6,5 hectares).
Minc atribuiu a queda do desmatamento às ações de repressão. Só em 2009 o Ibama bloqueou a produção em mais de 2,6 mil km2 desmatados ilegalmente e aplicou mais de R$ 1 bilhão em multas. ‘Da queda do desmatamento, 90% foram por causa de pancada’, aduziu Carlos Minc.
Corresponde à realidade a rósea visão do oficialismo ? Se quisermos ver a perspectiva amazônica através das lentes do Dr. Pangloss, poderemos nos sentir mais felizes, mas nada nos assegura que estejamos nos aproximando do controle do desmatamento.
Para tanto, será oportuno que tenhamos presente a análise de Claudio Angelo. Afinal, escoimado o oba-oba dos comunicados oficiais, 9000 km2 é quase uma Jamaica. Por outro lado, o ‘ano fiscal’ da derrubada fecha com um viés de forte alta: julho de 2009 termina com um aumento de 93% em relação a julho de 2008, consoante o sistema SAD, do Imazon.
Segundo Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon, a retomada da devastação pode ser explicada por dois fatores principais: i. afrouxamento das medidas de controle do governo, que ajudaram a derrubar o desmate sobretudo no verão amazônico de 2008; ii. e um surto de grilagem que explodiu em 2009.
Grilagem ? Sim, devemos agradecer tal surto à Medida Provisória 458, a infame MP da grilagem, na linguagem do situacionismo, a MP da regularização fundiária.
A princípio, pode parecer estranho que a MP 458, aprovada em junho último, haja impulsionado a derrubada a partir do início do ano de 2009. A resposta é simples: já no início do ano havia sinalizações do governo de que a dita MP seria sancionada, o que bastou para atiçar a especulação.
Evidências dessa atividade criminosa induzida por tais estranhos incentivos oficiais estão na mudança da geografia do desmatamento. Áreas sem atividade agropecuária forte aparecem desmatadas, e entre elas, o eixo da rodovia Br-163, no Pará, assim como o sul do Amazonas ingressam nos ‘pontos quentes’da Amazônia.
Durante a sua gestão, Marina Silva criou unidades de conservação no ‘arco da grilagem’ do oeste paraense e no sul do Amazonas. A passagem do bastão para Carlos Minc, cujas bazófias não lhe disfarçam a fraqueza como ministro, teve, entre outros resultados negativos, a retirada por Lula desses parques do papel, e a fortiori a armação da bomba-relógio da MP 458.
Se nos detivermos no exame do quadro atual do panorama amazônico – visto da ponte do INPE – a falta de uma política séria de preservação de um dos nossos maiores recursos naturais se desnudará de forma brutal: o Amazonas já mostra as suas chagas, mas é a principal área salva do insano desmatamento; o Pará continua na triste marcha batida para as imensas solidões das savanas; o Mato Grosso – de que o nome, de luxuriante realidade, já se transforma em irônica denominação de antanho, está prestes a completar a melancólica faina da destruição. Quanto aos demais, com exceção de Rondônia, o escarmentado otimismo ainda é cabível, embora, à falta de uma política geral de controle, a força da inércia não pode ser descontada.
Infelizmente, a presidência Lula, ostensivamente pró-ambientalista, mas em realidade disposta a todas – ou quase todas - as concessões a ruralistas e desmatadores, não é um farol que transmita confiança à verde nau dos ecologistas, a enfrentar as vagas portentosas de um mar em borrasca.
( Fonte: Folha de São Paulo )
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário