A despeito das ameaças do Ayatollah Ali Khamenei, o Supremo Líder da Teocracia iraniana, a sexta-feira, dezoito de setembro, dia reservado à manifestação de apoio ao povo palestino, transcorreu segundo o cenário previsto.
De início, o presidente Mahmoud Ahmadinejad pronunciou o habitual violento discurso, em que voltou a taxar de uma ‘mentira’ o Holocausto. No seu entender, seria um falso pretexto para justificar a criação do estado de Israel, em 1948.
Consoante o aranzel, para Ahmadinejad o regime israelense ‘não tem futuro. A sua vida chegou ao fim.’
Sem dignar-se a explicar como tal anunciado fato se refletia na realidade, tornou a reiterar que a confrontação com o ‘regime sionista’ constituía um dever nacional e religioso.
Por ter sobejas razões para não confiar em grandes afluxos de público procedente dos bairros de Teerã, a ditadura iraniana, como todos os regimes de similar pelugem, dispõe nas comemorações da sexta-feira – o dia santo para os muçulmanos – de esquema de transporte bastante eficiente.
Assim, se não há maior dificuldade para lotar as cadeiras da assistência para a arenga de Ahmadinejad – decerto a nomenclatura clerical, os altos funcionários e demais integrantes dos partidários da linha dura de Khamenei-Ahmadinejad não ousariam faltar a solenidades dessa natureza - , o mesmo não ocorre para emprestar às grandes marchas de rua e aos comícios a parecença imponente que só as multidões podem conferir.
Nesse aspecto, a teocracia iraniana, na verdade, não inova em relação à prática dos regimes autoritários do presente e do passado. Recordo-me, por exemplo, que no México, durante o longo reinado dos sucessivos sexênios presidenciais do antigo PRI, as aglomerações de entusiastas partídários do oficialismo eram carreadas de ônibus, trazendo não só as bandeirinhas, mas também os respectivos guias para entoarem os slogans, depois repetidos pelos diversos grupos.
No caso do Irã, as multidões também vêm de ônibus, das localidades interioranas menos expostas à deletéria propaganda dos reformistas.
Por sua vez, escarnecendo da tentativa de intimidação feitas por Khamenei, a oposição não careceu de preocupar-se com medidas logísticas de transporte de massa. Os partidários do campo reformista acorreram em grande número. Muitos daqueles que votaram no candidato Mir Hussein Moussavi traziam a cor verde em sinal de repúdio ao pleito fraudado e de reconfirmação das grandes manifestações que se sucederam à eleição presidencial de 12 de junho último.
Os três principais líderes reformistas – o citado Moussavi, o também candidato Mehdi Karroubi e o ex-presidente Mohammad Khatami – participaram da jornada de protesto, afrontando por conseguinte as ordens peremptórias do Ayatollah Ali Khamenei.
Segundo se determinou, as forças policiais se mantiveram à margem, deixando às turbas vindas do interior e à milícia basij – que brandiam cadeias de metal – o trabalho de confrontar os grupos de reformistas. Os choques existiram, mas não houve grandes excessos de violência, nem registro de mortes. Sem embargo, o líder reformista e ex-presidente Mohammad Khatami foi atacado por bandos de adeptos do regime, chegando a ser jogado ao chão. Khatami foi resgatado pelo grupo reformista, que enfrentou e repeliu aqueles que o assediavam.
Negociações com o Ocidente.
O Presidente Ahmadinejad, ao repetir as suas estultas negações do Holocausto, não terá preparado o ambiente para as próximas conversações, a se realizarem por ocasião da tradicional retomada das atividades diplomáticas, quando da tradicional abertura dos trabalhos da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Ahmadinejad, a par de não encontrar interlocutores no Ocidente que não hajam verberado as suas rituais e absurdas assertivas, tampouco terá facilitado as condições de diálogo nas reuniões previstas para discutir as perspectivas do programa nuclear iraniano.
As conversações devem realizar-se a primeiro de outubro. Além dos Estados Unidos, está prevista a presença do Reino Unido, França, Alemanha, Russia e China. Quanto ao local da reunião, pode ser em Genebra, Viena e Istambul.
O Irã apresentou proposta de uma reunião em papel intitulado ‘Cooperação, Paz e Justiça’. Quanto à seriedade deste documento – que trata de tópicos políticos, sociais e econômicos, clama por reforma das Nações Unidas e acordo de paz para o Oriente Médio, além de um desarmamento nuclear universal – a ausência de qualquer menção ao programa nuclear iraniano já fornece uma boa indicação.
Nesse sentido, o senhor Ahmadinejad tem reafirmado com insistência que o Irã jamais suspenderá a produção de combustível nuclear, eis que o seu país não pretende renunciar aos próprios direitos fundamentais.
(Fonte: International Herald Tribune)
domingo, 20 de setembro de 2009
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