Com destaque, a imprensa noticia que o governo quer que novos veículos reduzam emissões de poluentes em 33 %. E, com ainda maior realce, se anuncia que até 2014 os carros terão de poluir menos !
Deveremos então louvar as autoridades pela sua firmeza em estabelecer para as montadoras prazos mandatórios, dentro do escopo de proteger o povo brasileiro da poluição pelo monóxido de carbono ?
Como se sabe, por uma série de razões, inclusive ideológicas, se permitiu a desnacionalização das montadoras de automóveis e demais veículos. Ao contrário de outros países, em níveis similares de desenvolvimento, o Brasil não dispõe de uma grande montadora de capital nacional.
Não é característica irrelevante. As montadoras aqui instaladas são sucursais de matrizes estrangeiras, a cujas ordens se acham subordinadas. Nessa crise financeira internacional, as filiais brasileiras tem ajudado pressurosamente as centrais europeias ou americanas.
O próprio governo Lula lhes tem dado uma generosa mão, máxime através das desonerações fiscais, com que se intenta alavancar o consumo, mormente junto ao público de relativa baixa renda na aquisição de veículos ditos populares, a preços mais módicos e a perder de vista. Essa demanda ativada se reflete na publicidade que engorda as edições dos jornais em determinados dias, com despropositada profusão de cadernos propagandísticos (sem falar das atinentes repercussões ambientais).
É discutível que para a reativação da economia sejam prioritários os segmentos da indústria automobilística (voltada aqui para os consumidores de rendas mais baixas) e dos gastos correntes (com a inchação do emprego estatal). Tais, no entanto, são considerações acessórias.
Surpreende, na verdade, a passividade, no particular, dos órgãos governamentais na proteção da saúde do povo brasileiro.
Talvez uma das poucas iniciativas elogiáveis da Administração Fernando Collor terá sido a sua observação de que as viaturas então fabricadas no Brasil eram verdadeiras carroças.
Foi, sem dúvida, em consequência de inegável constatação factual da negligência das montadoras estrangeiras, em nos destinar modelos já obsoletos e de baixa tecnologia, que, decerto assustadas com eventuais reações não-retóricas, essas sucursais cuidaram de melhorar os respectivos produtos para o mercado brasileiro.
Ao serem divulgadas as novas metas obrigatórias de redução de emissão de monóxido de carbono para 2013 e 2014, aprovadas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o presidente da Comissão de Energia e Meio Ambiente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o senhor Henry Joseph Júnior disse: “Não vejo nenhum problema”.
Não é estranhável que o sr. Henry Joseph Júnior assim se manifeste. Além da extensão bastante considerável de tempo alocada às montadoras para se adequarem aos noveis requisitos, a condescendência do órgão governamental não fica por aí. A proteção do brasileiro do monóxido de carbono (CO) será fixada no Brasil em l,3g/km (passando dos atuais 2g/km) para os veículos que pesam até 1.700kg, e em 2g/km (no caso de veículos de maior peso).
Esses parâmetros, é bom que se frise, valerão para este país em desenvolvimento em 2013 e 2014. Em compensação, na União Europeia, desde 2005, o limite é 1 g/km (válido para veículos que pesem até 2610 kg) !
Dessarte, as manchetes dos jornais, com a sua mensagem de determinações imperativas a partir de 2014, como podemos qualificá-las, senão como mais um elemento de deplorável laxismo ? Haverá outra maneira de descrever esquema que consigna o homem brasileiro à expectativa de menor taxa de poluição daqui a cinco anos, a qual será inferior em qualidade àquela de que fruem os habitantes da União Europeia na atualidade ?
Tampouco semelha necessário que alguém seja versado em artes divinatórias para prever que em 2014 a diferença qualitativa de proteção ambiental entre os que vivem na União Europeia e os brasileiros deverá ser ainda maior e sempre em benefício dos europeus ?
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
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