domingo, 13 de setembro de 2009

Colcha de Retalhos XXI

Golpe em Honduras : Posição americana

Cresce o isolamento do governo Micheletti em Honduras. Para sinalizar a própria insatisfação com a pouca disposição dos golpistas hondurenhos em chegar a acordo, de forma a possibilitar a reassunção do Presidente José Manuel Zelaya (afastado do poder em 28 de junho último), o Departamento de Estado revogou os vistos concedidos ao Presidente Roberto Micheletti e aos catorze juízes da Suprema Corte. É, com efeito, da parte do Judiciário de Honduras que se verifica talvez a maior resistência à viabilização da volta de Zelaya à presidência.
Nessa saraivada de anulações de vistos foi também incluído o do atual Ministro do Exterior, Carlos López. A esse propósito, semelha oportuno assinalar que a chamada elite dominante centro-americana considera não só evidência de status, mas também indispensável instrumento dispor de visto diplomático para o ingresso nos Estados Unidos.
Por isso, a revogação do visto pelo Governo estadunidense é havida como verdadeira capitis diminutio. Além de significar sério desprestígio, essa camada de centro-americanos a interpreta como limitação de peso, tal é o seu desejo de frequentar e, sobretudo, comprar na metrópole americana.
Tal iniciativa do State Department não se afigura, portanto, como algo de somenos importância.
Mais até do que o simultâneo corte, pela governamental Millenium Corporation, de onze milhões de dólares aplicado na ajuda prestada à Honduras, a revogação dos vistos sinalizará para o grupo de Micheletti de que não mais poderá contar a relativa moderação da Administração Obama, evidenciada até o presente.
Nesse sentido, torna-se muito mais provável que tanto a OEA, quanto o mediador Oscar Arias encontrem doravante maior flexibilidade de parte do governo golpista.

Irã: Ameaças do Líder Khamenei

A crescente identificação do Supremo Líder Ayatollah Ali Khamenei com seu subordinado na teocracia iraniana, o Presidente Mahmoud Ahmadinejad, é desenvolvimento, decerto previsível – após o pronto e despejado apoio à reeleição fraudulenta de Ahmadinejad – que porém sinaliza igualmente, por sua modificação de postura, o relativo enfraquecimento do Supremo Lider.
Com efeito, consoante o modelo instituído pelo Imã Khomeini, na teocracia iraniana, o Líder pairava acima da política, desempenhando o papel de árbitro in extremis.
Ao descer para a refrega, Khamenei se torna o mais alto representante da facção conservadora. Nesse sentido, Khamenei, cuja ascensão política ao topo da hierarquia iraniana sinaliza a própria fraqueza intelectual e doutrinal junto ao estamento teológico de Kom, se torna na prática refém dos segmentos interessados na manutenção da face conservadora e repressora do poder, em detrimento de sua feição democrática, consubstanciada na adesão de camadas popular e estudantil, no que representou o aspecto dual da democracia clerical iraniana.
Despojando-se da ficção de imparcialidade, Khamenei veio a público no ritual sermão da sexta-feira (o dia santo para os muçulmanos) para ameaçar os líderes oposicionistas – leia-se Mehdi Karroubi, antigo presidente do Parlamento, e Mir Hussein Moussavi, ex-primeiro ministro e o candidato espoliado na eleição de doze de junho – de ‘resposta áspera’ se continuarem a desafiar o establishment islâmico.
Tal advertência foi interpretada como ameaça de prisão de Karroubi e Moussavi, o que implicará em agravamento da crise, com consequências imprevisíveis. A notar que os esbirros da segurança política já fecharam os escritórios de Karroubi e Moussavi, além de prender os seus principais assessores.
Sabedor da própria intrínseca fraqueza dos tiranos, Khamenei afirmou que “o sistema tolera diferentes opiniões desde que não haja falsas acusações, boatos e mentiras”. Dentro desse nervosismo, o líder supremo anunciou que não se há de tolerar que a oposição instrumentalize para os próprios fins a última sexta-feira do mês de Ramadã, ao ensejo do tradicional comício de respaldo ao movimento palestino.
Os manifestantes que apoiam Moussavi indicaram que pretendem comparecer ao comício usando roupas de cor verde, que é marca registrada das multidões de partidários do candidato derrotado, em seus protestos contra a fraude do sistema.
Na mesma linha, o clérigo Karroubi, que tem sido bastante ativo em expressar a respectiva discordância da linha Khamenei-Ahmadinejad, prometeu igualmente participar da manifestação.

(Fonte: International Herald Tribune)

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