O ainda Presidente do Senado Federal, José Sarney, não terá demonstrado ontem muito ardor patriótico, em não comparecendo à parada do Sete de Setembro. No palanque principal, envergando trajes com as cores nacionais, estavam o Presidente e a Primeira Dama, ladeado pelo Presidente da França, Nicolas Sarkozy e o Presidente do Supremo Tribunal, Gilmar Mendes.
O Senador José Sarney será um homem prudente. Evitou contatos com jornalistas, populares e até com o plenário do Senado nos momentos em que o termômetro da crise atingiu a níveis para ele inquietantes. A despeito de apegar-se à curul para onde voltara depois de desmerecer sistematicamente do valor da palavra, ao denegar por demasiadas vezes qualquer propósito de pleitear o cargo, o oligarca do Nordeste não é de afrontar situações difíceis e constrangedoras quando no público exercício de suas funções.
Para aferrar-se à presidência da antiga Câmara Alta, o Senador Sarney (representa o Amapá, eis que houve por bem ceder o Maranhão a familiares e prepostos) não trepidou em aliar-se a Renan Calheiros (com a sua dita tropa de choque) e a Fernando Collor, dois personagens que dispensam maiores apresentações. Tampouco parece importar-lhe a circunstância de que a dele mera presença à testa do Senado é imensa pedra no caminho da governabilidade, estropiando reuniões da mesa diretora e criando confrangedora série de conflitos verbais e toda sorte de empecilhos para a eventual recuperação como instituição perante a opinião pública desta desmoralizada Câmara.
Dizia da alegada cautela do Presidente Sarney. Escondendo-se do povo, e fugindo portanto às respectivas responsabilidades cívicas, o Senador pelo Amapá, malgrado a matreirice cabocla, foi ausência assaz notada no palanque das autoridades na capital da República.
Lá estavam a contestá-lo os estudantes – essa perene vanguarda que tanto redime a indiferença dos que se refugiam no cinismo do ‘para quê ?’e do ‘não adianta mesmo’- vindos não se sabe de onde. Na simplicidade das faixas ‘Fora Sarney !’, dizem mais do que suarentas altas autoridades, que transpiram profusamente no próprio constrangimento.
Embora se achassem em espaço público, coube a esta verdadeira tropa republicana – não confundi-la, por favor, com a choldra dos clientes e dos capangas – enfrentar a sólita prepotente violência dos esbirros e dos chamados ‘seguranças’, que aos argumentos substituíram safanões, socos e pontapés.
Não importa. Os estudantes são a voz do povo e eles se fizeram ouvir, em grande e pequeno número, por esses brasís afora.
Sarney, se te resta algum real apego àqueles valores litúrgicos que declaras amiúde prezar sobremaneira, é mais do que chegada a hora de descer da cadeira presidencial. Talvez seja possível que o ato possa ainda ser visto como renúncia. Se não, e sem maior proveito para o respectivo clã, as coisas de repente podem mudar em debandada.
Por mais poderoso que seja o teu protetor, ele te irá abandonar se a vontade do Povo se tornar atroadora.
Assim como o Marquês de Barbacena, em carta imortal, teve a coragem de predizer ao Soberano estarem contados os dias de seu reinado, como o Sete de abril de 1831 demonstraria penosamente a Sua Majestade Pedro I.
E para ti, Sarney, que não és rei, a máxima continua a valer.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
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