segunda-feira, 20 de abril de 2009

A Cúpula das Américas

Otimistas e pessimistas ao analisarem o transcurso e os resultados da Cúpula encontrarão fatos que se coadunem com o próprio juízo da impostação da conferência. Assim, os que tendem para avaliação negativa apontarão para a circunstância de que a conferência não logrou sequer aprovar uma declaração final, listando os diversos pontos do consenso entre os líderes do Continente. Já os que fazem do Encontro juízo positivo, sinalizarão que a sua importância reside menos na produção de um documento do que na evidência do processo bem-sucedido, em atmosfera de cordialidade, e na abertura de perspectivas de relacionamento.
Para quem previa a confrontação, a evolução da reunião mostrou o êxito na abertura de Obama. Nada mais ilustrativo deste desenvolvimento que o aperto de mão entre o Presidente estadunidense e Hugo Chávez. Se o caudilho venezuelano inviabilizou o consenso para a ratificação do documento final – cujos 97 tópicos haviam consumido oito meses de negociação – ao negar-lhe o apoio da Alba (Alternativa Bolivariana para os Povos da América), não escapa a ninguém que se trata de gesto de circunstância, com o intúito de marcar posição.
A grande ausente da reunião – Cuba – teve marcada a sua presença, através das posturas positivas tanto da nova Administração Obama, quanto do próprio Raul Castro. Em nítido contraste com a estagnação e o imobilismo recíprocos – que caracterizaram as relações entre Washington e Havana durante todas estas décadas do embargo, com a única exceção do quadriênio de Jimmy Carter – Obama vem infundindo novo espírito a tal complexa interação, respondendo aos compromissos da campanha e aos acenos do novo líder cubano.
Entre tantas semelhanças com os primeiros meses da Administração Roosevelt, Barack Obama parece igualmente intento a lançar pontes, assim como o seu grande antecessor decidira reatar os laços diplomáticos com a Rússia, depois de mais de dez anos sem relações por causa da tomada do poder em Moscou pelos sovietes de Lenin.
Os três dias da reunião passaram depressa. Tão depressa que alguns dos 34 presidentes não mais se encontravam em Trinidad-Tobago para ouvir a solitária leitura do documento pelo trinitário Patrick Manning, e muito menos para integrar a foto ‘histórica’ da Cúpula.
Tais aspectos, contudo, enfatizam o caráter de processo assinalado pela conferência, como se a discussão dos diferentes temas (Cuba, relações com a superpotência, combate ao narcotráfico, energia, reforço dos organismos multilaterais regionais, fundo para apoio ao micro-crédito, educação) mais importasse do que a conclusão de eventuais acordos.
Obama pode não estar na foto oficial, por ter viajado antes. Não obstante, poucos hão de negar que na história das relações interamericanas se entra em nova fase, também aqui tipificada pela abertura para o diálogo, em que a carga do passado não deverá mais ter o peso de antes.

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