domingo, 2 de novembro de 2008

Eleição Americana - a Hora da Decisão

Depois da longa campanha das primárias entre os democratas - nos republicanos, a liderança de John McCain se afirmou mais cedo de forma incontestável – que, após o discurso de Hillary Clinton em junho, reconhecendo a vitória de Barack Obama, e as duas Convenções (em Denver e St. Paul), com a designação oficial dos dois candidatos dos principais partidos americanos, chegamos afinal à véspera das eleições de terça-feira, quatro de novembro.
Em meu último comentário sobre o pleito, escrevi que considerava Barack Obama como o possível vencedor, mas não tinha elementos que, a meu ver, me habilitassem a apontá-lo como o provável ganhador. Resta, portanto, agora analisar os dados disponíveis para verificar se há mudanças no quadro que justifiquem reformulações.
Como se sabe, os comícios de quatro de novembro não se referem apenas à escolha do Primeiro Mandatário estadunidense. Haverá eleições para Governadores, para o Senado Federal e a Câmara de Representantes. A julgar pelas pesquisas de opinião, deverá surgir das urnas um reforço da maioria democrata no Senado e na Câmara. Não se discute qual o partido que vencerá, existindo consenso sobre a vantagem dos democratas. O que é objeto de divergência é a amplitude da nova maioria democrata no Congresso. Segundo o instituto Gallup, cuja seriedade não é contestada, há previsão de 55 democratas e 41 republicanos. O Senado se compõe de cem senadores, e a atual maioria democrata é a menor possível (51 membros). A estimativa do Gallup para o Senado é, portanto, conservadora. Quanto à Câmara de Representantes – o mandato de seus membros é de dois anos e, por conseguinte, ela está sendo renovada por inteiro, o que não é o caso do Senado – o Gallup estima a bancada democrata em 238 e a republicana em 170. Aqui o crescimento dos democratas seria maior.

Eleição presidencial. O fortalecimento da candidatura de Obama pode ser observado na invejável situação de seus fundos de campanha, que lhe consentiram até a compra em horário prime em sete grandes redes televisivas de meia hora para um informercial (i.e., uma matéria paga de propaganda do candidato). Já a situação financeira da campanha de McCain sequer permitiria que considerasse tal hipótese.
No que concerne a adesões de personalidades, também a vantagem se acha com Obama, que recebeu o apoio – o que não é comum – de republicanos ilustres, como o ex-Secretário de Estado Colin Powell.
Em termos de previsões de opinião, se há um excesso de pesquisas, a tendência prevalente é a de registrar o triunfo de Obama (as margens variam entre nove e dois pontos percentuais), embora tenha aparecido pesquisa de uma rede de direita que indica a vitória de McCain por um ponto percentual. Os totais de uma média de onze pesquisas apontam 50,2% para Obama e 43,6% para McCain, com cerca de 6,2% de indecisos.
Todo esse acúmulo de notícias favoráveis ao contendor democrata o levaram a recomendar cautela aos seus correligionários, sublinhando o aspecto perigoso de um clima de “já ganhou”. Nesse sentido, Obama não reduziu as suas aparições, empenhando-se como se o resultado não estivesse decidido.
Por seu lado, o candidato republicano, inda que consciente de achar-se em desvantagem nas pesquisas, tem mantido um programa de intervenções em estados contestados (v.g., Virgínia, Ohio, Pennsilvania) de quem considera encontrar-se ainda a partida em aberto. A esse propósito, cabe assinalar que a vice de McCain, Sarah Palin – personalidade carismática que rapidamente passou de desconhecida à celebridade – constitui um fator não-negligenciável nesta campanha, ao contrário do veterano senador Joe Biden, vice de Obama. A governadora do Alaska, com todas as suas notórias lacunas de experiência, mereceria um estudo à parte, pelo que veio a significar na atual campanha presidencial. Se o espaço não o permite, semelha importante frisar que a aposta de McCain – no que tange estritamente à campanha – se provou acertada, dado o inegável aporte trazido para a chapa republicana pela presença de Sarah Palin.
Ao formular um prognóstico, o articulista não pode se deixar confundir pela preferência pessoal. Não restará dúvida ao leitor deste blog que para mim o Senador por Illinois é o melhor candidato. A sua vitória, outrossim, representaria marco considerável na história política estadunidense, por guindar, por primeira vez, à presidência um afro-americano. Existe, a par disso, a consciência de que seria melhor que um democrata sucedesse a George W. Bush e aos republicanos. A sua eleição em 2000, por uma inédita sentença da Suprema Corte, teve não poucas conseqüências para a grande democracia, como a desastrosa intervenção militar no Iraque, a desregulamentação dos mercados (de que a presente crise financeira se origina), sem falar da investida contra as liberdades democráticas e processuais. Tudo isso está aí para demonstrar a necessidade de uma real mudança, e quase a exigir uma nova administração, que saiba virar a página.
No entanto, e a despeito da importância da presidência americana, é bom lembrar que o mundo não vota nesta eleição. Quem a decidirá serão os cidadãos americanos, com as suas idiossincrasias, os seus temores e preconceitos, mas também com a sua percepção de uma crise grave, que pode afetar-lhes o nivel de vida.
Espero que Barack Obama vença a eleição. Contudo, não distingo elementos no quadro político que me levem a considerar o Senador por Illinois como o vencedor provável. Para mim, ele é o possível vencedor, porque incumbe computar o chamado fator Bradley, que é estimado em cerca de sete pontos. Dessarte, se somarmos indecisos e o fator Bradley, a vantagem ostensiva de Obama logrará resistir ? É o que as urnas de quatro de novembro determinarão. Por ora, além de torcer pela vitória de Obama, só resta valer-me de uma expressão traduzida do inglês : a eleição está muito apertada para que se possa indicar o vencedor.

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