A Folha publica hoje artigo de Conrado Hübner Mendes em que se trata de dois temas caros à Jair Bolsonaro - armar e desmatar.
Se não há maiores dúvidas quanto ao caráter potencialmente nocivo desses dois tópicos, manda a objetividade restringir a discussão àquele que é ainda mais potencial-mente negativo sinalizado pelo tópico do desmatamento que tem uma carga ainda mais negativa do que aquela do armamentismo.
Pois a tara bolsonarista por armas compete ainda com a tara bolsonarista por devastação ambiental. O que o Presidente está fazendo com devastação ambiental aparece como ainda pior do que a sua mania de aumentar os arsenais do armamentismo.
Ambas são práticas maléficas, mas salta aos olhos que a segunda é ainda mais grave do que a primeira. Por isso, creio oportuno transcrever a segunda in extenso, e as razões de sinalizar essa parte do artigo de Conrado Hubner Mendes me parecem evidentes pois o mal maior requer um maior detalhamento, eis que apresenta maior potencialidade de trazer ainda mais mal à nossa gente.
É decerto forçoso reconhecer que a "tara bolsonarista por armas compete com a tara também bolsonarista pela devastação ambiental. Há quatro consequências do desmatamento: econômica, humanitária climática e sanitária. "Desmatamento empobrece, não enriquece. Aniquila povos e modos de vida. Savaniza o bioma amazônico e tira água da sua torneira. É nossa maior contribuição à mudança climática, que condena o futuro a uma vida inóspita. Se não bastasse, desmatamento potencializa epidemias.
"Desmatar produz uma quinta consequência: a fragilização da soberania nacional. Soberania não é só garantia jurídica no papel, pois pressupõe condições materiais para exercê-la. Nação soberana não renuncia status de potência ambiental, não despreza as possibilidades de inovação da biodiversidade, não abre mão da maior riqueza da economia pós-carbono do século 21 por puro apego ao extrativismo do século dezenove.
" O desmatamento amazônico não guarda nenhuma relação com o interesse nacional. Em 2020, disparou e voltou a bater recorde histórico (aumento de 34% na taxa de derrubada), efeito direto da radical política desprotecionista do ministério. O mundo de grileiros, garimpeiros e madeireiros é um mundo fora da lei. E ainda faz crescer o PIBB, o Produto Interno da Brutalidade Brasileira. O PIBB é adversário do PIB>
" Bolsonaro definha o Estado, boicota a ciência e insulta cientistas, intimida professores, estigmatiza universidades e centros de pesquisa, assedia artistas e jornalistas, arma quadrilha com fuzil e queima riqueza pós carbono. Bolsonaro canta o cântico da soberania, mas sacrifica tudo o que a soberania precisa.
"Caudilho que deprime o país economicamente, culturalmente e mentalmente, rasga o fino tecido de civilidade que pensávamos costurar. Busca substituir liberdade civil por liberdade grileira e miliciana, poder público por poder privado e paramilitar, força da lei por lei da força. Não vai ter golpe, vai ter bando armado, medo e morte da periferia ao centro.
"Entre os mortos, oficiais da polícia que mais morre e mata no mundo. Oficiais que precisam ser salvos do bolsonarismo. Soberano, nessa história, só o crime."
(Fonte: artigo de Conrado Hübner Mendes : Contra a Soberania, armar e desmatar Folha de S. Paulo )
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