segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Facciosismo Político, Lá e Cá

                                     

       Podem ser impressionantes os traços comuns entre movimentos políticos que, à primeira vista, pareceriam opostos e inconciliáveis. No entanto, a intolerância sectária tenderá a surpreender o observador que analise com a necessária frieza o respectivo comportamento.
       Gostaria de partilhar com o leitor dois episódios que transcorrem em cenários assaz diversos e que pelas ideologias envolvidas não semelhariam suscetíveis de comparação.
        A oposição do Partido Republicano move  dura campanha contra duas indicações ministeriais do Presidente Obama. No caso do ex-Senador Chuck Hagel, republicano moderado, herói e veterano de guerra condecorado, o que mais espanta é a fragilidade dos questionamentos contra Hagel levantados pelos senadores John McCain (Arizona) e Lindsey Graham (Carolina do Sul) para deixar pendente a decisão do Senado sobre a proposta de designação. Afastadas as dúvidas sobre posições de Hagel acerca de Israel e Irã, agora a bancada do GOP ameaça com um filibuster para inviabilizar a indicação de Obama.
         A ferocidade republicana contra Chuck Hagel e também John Brennan, indicado como Diretor da CIA, não tem paralelo histórico. Colocar as nomeações presidenciais pendentes de uma super-maioria de sessenta votos (o necessário para anular a filibuster) só ocorreu duas vezes no Senado, desde 1917.
        O líder da maioria democrata, Harry Reid (Nevada) denunciou, da tribuna do Senado, os republicanos por um ‘teatro político’ perigoso. Não obstante, Reid tem alguma culpa em cartório, porque em acordo com o líder da minoria, Mitch McConnell  permitiu que se perdesse a oportunidade de uma reforma substancial do instrumento da ‘filibuster’.  Ao ensejar que essa prática – tão bem descrita no filme de Frank Capra com James StewartO Senhor Smith vai para Washington  - continue, protegida por uma barreira tão alta como a de sessenta votos, o líder democrata tornou possível o bloqueio dessa nomeação, apesar de os democratas disporem de 55 votos (num total de cem senadores).
         Em termos de opinião pública, a direita republicana terá dificuldade em esgrimir essas táticas de oposição extrema contra um republicano, o que pela dureza das táticas dilatórias diante de um candidato do próprio partido, e com ótima fé de ofício, põe a nu o caráter faccioso e oportunista dessa postura parlamentar. Excluída uma súbita e pouco provável mudança de posição do GOP, a decisão do Senado fica adiada para o fim do mês (após recesso de dez dias), eis que nenhum senador republicano – nessa belicosa atmosfera – veio votar em favor do antigo Senador republicano pelo estado de Nebraska...  E dizer-se, diante de tão ferrenha e inamistosa atitude, que não faz muito Barack Obama ainda considerava possível reviver o bipartidismo em Washington...
         O mesmo espírito faccioso reponta na também surpreendente tática agressiva do estamento castrista cubano contra a blogueira Yoani Sanchez. A revista VEJA já alertara em reportagem sobre a algo patética – e legalmente descabida -  reunião na embaixada cubana promovida pelo embaixador Carlos Zamora Rodríguez, com a participação de funcionário brasileiro do Planalto e de militantes do PT e do PCdoB. O nervosismo dos apparatchicks cubanos é compreensível, se tivermos presente o longo isolamento político e o clima repressivo instituído pela ditadura dos irmãos Castro. Gilberto Carvalho se fez representar pelo subordinado Ricardo Poppi Martins na aludida reunião, quando foi apresentado – oh surpresa! – um dossiê contra a blogueira, de que VEJA pode ver a inanidade das supostas denúncias.
         Todos sabemos quão chegado é o PT a um dossiê,como altas figuras do partido já o evidenciaram em mais de uma oportunidade. A coletânea feita pelos secretas cubanos respeita a indigência tanto moral, quanto política dessas mágicas geringonças que, no caso em tela, refletem apenas a mesquinharia inerente aos próprios feitores e o caráter intrinsicamente rasteiro da coletânea.
         Yoani Sanchez, que entre as suas condecorações tem as sevícias e torturas sofridas pela sua oposição ao castro-comunismo, e a longa e mesquinha proibição a exercer o direito de ir e vir, terá muito provavelmente pela frente manifestações  espontâneas, encomendadas por Havana e a sua sucursal petista. Na Bahia de Jacques Wagner, a chegada de Yoani foi perturbada por agressivos militantes, a ponto de ter de sair por uma porta lateral. 
          Se tais recepções encomendadas e se outras novidades enodoarem a honrosa visita da blogueira cubana – afinal somos o primeiro país por ela escolhido em longo roteiro – seria de todo interesse que o animoso zelo da militância encomendada por braço estrangeiro não crie situações de maior desconforto que se choquem com a proverbial hospitalidade brasileira.
          Não sei se os Ministros que o Senador Alvaro Dias (PSDB) pretende convocar estarão disponíveis, dentro da usual blindagem da base de apoio. Mas de qualquer modo a advertência a que se evitem besteiras e impropriedades está no ar. Nem a corajosa Yoani Sanchez faz por merecê-lo, nem o governo deveria atolar-se em um terreno de bitolada e policiesca interferência que terá muito de reminiscente com a ditadura castrista, mas nada tem a ver com o Brasil democrático e hospitaleiro.

 
( Fontes:  VEJA  e  O Globo on line)

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