O que fazer do Congresso ? Será que
Suas Excelências, do alto de suas regalias corporativas, pensam gozar do
respeito do Povo brasileiro ?
Não sei, ou
melhor, não me animo a respondê-lo de modo enfático. De um lado, existe um portentoso
fosso, criado por inúmeras vantagens auto-atribuídas e por horário e carga semanal de trabalho que o
cidadão comum – essa categoria a que, segundo Lula da Silva, os
parlamentares não pertencem - encara com
raiva ou desencanto. Por outro lado, o cidadão brasileiro encara o Parlamento em Brasília como o cúmulo do artificialismo corporativo. Trabalham em geral por um dia inteiro – a quarta-feira – viajam na terça e na quinta (sempre às expensas do contribuinte), enquanto o corpo auxiliar de assessores (e dos inevitáveis aspones) dispõe de outro horário também absurdo, eis que só podem assinar o ponto de tarde...
Trabalham pouco – veja-se a enorme carga de vetos presidenciais pendentes, e a judicialização crescente dos respectivos encargos – mas na estapafúrdia ciranda dos partidos, a maioria sem qualquer ideologia que não a sede de prebendas, ocupam descaradamente o horário nobre da televisão, com as suas repetidas inserções e vazias mensagens.
Sem embargo, se pouco labutam – a ponto que nenhum patrão no mundo real os aguentaria por muito - exigem mundos e fundos do erário público. Numa debochada retribuição pelo que auferem, não se percatam do afrontoso descompasso ao se colocarem, no cômputo imparcial das Nações Unidas, como o segundo Congresso mais caro no mundo !
Como se tal não bastasse, ora preside o Senado quem já se demitiu no passado para evitar a cassação. De novo, a cidadania - espicaçada pelos jovens que pelo próprio zelo e insistência nos acenam, apesar de tudo, com um futuro de esperanças – se movimenta, tanto no espaço herziano com milhões de assinaturas, quanto nas cercanias do Congresso, a exigir do presidente Renan Calheiros a renúncia.
Ele tergiversa, diz que também já foi jovem, e chega a tocar na velha tecla de um suposto preconceito anti-nordestino. Se a recusa persistir, no entanto, ela irá alastrar-se, e como Anteu, há de retirar das entranhas da terra a força inexorável das causas populares, a que irão acudir os indecisos e os timoratos de hoje.
Não é nota de pé de página, embora pareça. Blairo Maggi,do Partido da República, tem na corrente quarta-feira – o dia útil dos senhores congressistas – a eleição prevista para a presidência da Comissão de Meio Ambiente do Senado !
Como determinar, se é um escárnio, ou maneira agressiva de assinalar o que vale o P.V. na sua atual direção ou, até mesmo, a expressão ao revés da desimportância que o estamento político atribui aos recursos naturais em um país que ainda os guarda bastantes para despertar não só a inveja de outrem, mas a cupidez dos exploradores ? Eles têm pressa em abater as florestas restantes, acabar com os aquíferos, e um vastíssimo etcetera, para transformar o Brasil em um grande areal ou, bafejados pela sorte, em enorme savana !
E, no final, tudo se encaixa: num Senado presidido por Renan Calheiros, Blairo Maggi deve presidir a Comissão do Meio Ambiente !
(Fonte : O Globo )
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