terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

De Política, Lá e Cá

                                         

          Começando pela eleição italiana, depois de semanas de nervosas predições aconteceu o que há muitos anos, com pequenas modificações, tem marcado o panorama itálico.
           Dividido entre tantos pretendentes a ter maioria nos palácios de Montecitorio (Câmara de Deputados) e Madama (Senado), de modo a instalar-se no Palácio Chigi (Primeiro Ministro), o mundo político peninsular fragmentou-se mais uma vez, cada um de sua parte em condições de proclamar a sua ‘vitória’.
           Tal espetáculo só mesmo seria imaginável na velha Itália, em que a reunificação feita pela Casa de Savoia se espelharia, em realidade, na profusão de antigos reinos, ducados, principados, para não falar da república de mais longa vida, e no Estado Pontifício nascido de uma doação que, na verdade, nunca houve.
          No entanto, Pier Luigi Bersani venceu, ainda que de forma apertada, a eleição tanto para o Senado (31,63%) quanto para a Câmara (29,54%). É, contudo, uma vitória no photo-chart, eis que Silvio Berlusconi, na reta final, aproximou-se muito da coalizão da esquerda, com 30,72%, para o Senado, e 29,18% para a Câmara.
         Como o gabinete a ser formado precisa ser respaldado com maiorias na Câmara e no Senado, e levado em conta o fato de que o partido do Primeiro Ministro Mario Monti teve um patamar baixo de votos – cerca de dez por cento em ambas as Casas – a governabilidade não se afigura factível apenas com a juntada do partido do atual Presidente do Conselho.
         Havendo o partido de Beppo Grillo atingido cerca de 20% do total, e sendo a proposta eleitoral do comediante uma verdadeira anti-proposta, com a negação dos políticos e da detestada austeridade, em princípio – na Itália todas as considerações políticas são possíveis – ter-se-ía que excluir da formação de gabinete o movimento do signore Grillo.   Como, no entanto, as fórmulas na constituição parlamentarista italiana são múltiplas, e podem incluir todo gênero de apoio externo negociado, não me atreveria a considerar fora do jogo das alianças esse bloco parlamentar.
         O que causou no passado, os tropeços e as quedas dos gabinetes foi a baixa confiabilidade das alianças de sustentação, sujeitas à rápida erosão e a possibilidade, nunca descartável, de insinuantes e desequilibrantes propostas alternativas da associação de partidos capitaneada pelo Cavaliere. A par disso, os governos têm de replicar no Senado, o mesmo esquema da Câmara, vale dizer a condição de manter uma maioria, o que duplica a dificuldade do jogo, sobretudo se tiver de recorrer a pequenos partidos de pouca confiabilidade.
        Por sua vez, através do Atlântico – e desta feita a imagem corresponde à realidade – o velho estadista Fernando Henrique Cardoso, que é um homem cordial, como nos foi dito ser próprio do nosso ethos, sabe igualmente dizer a palavra justa, e não se perder, como tantos outros mais jovens, nos meandros de um discurso de pouco impacto.
         Dilma ainda está fazendo o seu aprendizado na política. Se estivesse mais adiantada, teria evitado a areia movediça da declaração peremptória de não ter herdado “nada” da gestão tucana.
        Como isso é patente e gritantemente falso, avançando dessa forma desconsiderada, d. Dilma fica sujeita a ouvir o seguinte:
        “O que é que a gente pode fazer quando a pessoa é ingrata ?  Nada. Cospe no prato que comeu.” E só para completar: “ Quem não tem projeto é quem está no governo, porque eles pegaram o nosso.”
         FH tornou a defender o nome de Aécio como candidato, mas ainda não tem pressa:  “Não é o momento. Temos uma candidatura em construção. Não queremos uma pessoa, mas uma opinião.”
        O ex-Presidente tem toda a razão. Tanto em um caso, quanto noutro.

 

( Fontes:  CNN,  International  Herald Tribune, Folha de S. Paulo )

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