sábado, 26 de janeiro de 2013

Rescaldo de Fim de Semana

                                      

O aluguel da miséria

         A matéria da Folha não é só indicativa da miséria indígena, mas também da benigna negligência da Funai.  Como se reporta, parte da comunidade é contra o ‘aluguel’ de terras da reserva para a exploração ilegal de madeira.
         Os empresários madeireiros pagam quinze reais pelo metro cúbico da madeira que é depois revendida por em torno de mil reais. Por vezes, compõem esse embuste a oferta de aparelhos eletrônicos, bebidas e até prostitutas.
        As áreas mais desmatadas incluem Lagoa Comprida e Cana Brava/Guajajara, ambas no Maranhão, com 27,6% e 15,3% de desmate, e Anambé, no Pará, com 13,5%. Seguem-se, nessa melancólica lista da explotação da miséria, ainda o Maranhão, o inconteste campeão da bolsa-família, com o Alto Turiaçu (8 % desmatado) e Vale do Guaporé (6,8%) e Pirineus de Souza (3,9%), ambos no Mato Grosso.
        No supracitado Anambé, o aluguel parcial de território acabou por transformar-se em perda de controle da área.  Em Moju, a 266 km de Belém, o pouco controle indígena sobre o terreno foi perdido, a ponto de que o posto da Funai no local teve de ser abandonado, quando um funcionário foi ameaçado por madeireiro.

 

De novo, a praça Tahrir

        É digna de nota a rapidez do desencanto das multidões que derrubaram há dois anos a ditadura trintenal de Hosni Mubarak.
        A história está cheia de revoluções de que o sangue de seus mártires adubou o terreno para a entrada em cena de oportunistas e até mesmo de deslavados adversários  dos ideais que levaram à queda do tirano da vez.
       Veja o ilustre passageiro o que ora sucede na milenar terra que é uma dádiva do Nilo. Escorada na Fraternidade Muçulmana, essa sociedade surgida para redimir a terra egípcia de longo cativeiro ideológico e que se tornou a ancestral dos movimentos islamitas em todas as Arábias, o velho partido alcançou o objetivo desde muito perseguido.
        Logrou fazer eleger o próprio militante Mohamed Morsi presidente do Egito. E, malgrado fale de democracia, os seus frutos são outros, com uma constituição que escarnece dos ideais e dos propósitos da campanha que levou à derribada de Mubarak.
        Se os manifestantes da praça Tahrir continuam os mesmos, os que mudam são seus opositores no poder. Depois da junta militar do marechal Tantawi, a eleição de Morsi trouxe de volta  o que já parecia banido.Portanto tudo permanece como dantes.
       Os ideais dos manifestantes serviram para abrir o caminho ao preposto da Fraternidade Muçulmana para empolgar o mando. No entanto, a sensação da mesmice e da revolução traída os leva de volta para a antiga praça, aonde lhes toca chocar-se com as antigas forças da ordem, que agora defendem a outros senhores.
        De  certa forma, a incessante batalha continua.  Tampouco difere o vasto cenário e o exército de combatentes por uma liberdade tão arisca, quanto inatingível na aparência.
        Do outro lado, as legiões da repressão vestem o mesmo uniforme de antes. A única variável está na entidade símbolo que ora assume a direção da interminável guerra.
        Como se vê, repete-se o sovado dito. Tudo muda para que tudo continue como  antes.

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo,  International Herald Tribune )

Um comentário:

Maria Dalila Bohrer disse...

O aluguel da Miséria:
O comentário denuncia uma realidade macabra. Nesta sociedade capitalista da exploração até o esgotamento das matérias primas, da vida, o homem é elemento secundário, o indio é igual a bicho, até é bom que seja eliminado...
A FUNAI há tempo agoniza na "UTI".
Não é por acaso que o último filme de Meirelles- XINGU - foi retirado das salas de cinema, em todo o pais, por falta de audiência.