quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Fim do Abismo Fiscal ?

                                                                              
          Depois da aprovação pelo Senado Federal, e por 89 votos a favor, e apenas 8 contra (cinco republicanos e três democratas),  a matéria passou para a Casa de Representantes. A despeito de que o acordo costurado pelo Vice-presidente Joe Biden (Dem.) e o líder da minoria, Mitch McConnell (Rep.) incluísse aumento de impostos (o que para o GOP tem sido anátema), com maiores taxas tributárias para contribuintes na faixa dos US$ 400 mil e acima, não parecia provável que a tropa do Speaker John Boehner tivesse cacife para arcar com o ônus da responsabilidade da ativação do ‘abismo fiscal’.
            Entre choro e ranger de dentes, foi o que ocorreu, com maioria da Câmara Baixa ratificando o acordo selado pelo Senado. Assinale-se que anteriormente o Speaker tivera de recuar, ao ver que boa parte de sua bancada, não o apoiaria em acordo alinhavado com Obama. Foi o que aconteceu também desta vez. Por 257 votos a favor e 167 contra, a Casa ratificou o que o Senado determinara. A vitória na Câmara resultou da grande maioria da bancada minoritária democrata (172 votos), e o aporte de 85 republicanos. Foram contrários 151 republicanos e dezesseis democratas, esses da bancada dos chamados blue fiscal dogs [1](que é o remanescente da bancada de democratas conservadores dos tempos em que o Sul tocava pelos acordes do Partido Democrata).
            Nessas condições, no final, um conjunto de sufrágios democratas na Câmara, com aporte republicano, endossou o que fora aprovado no Senado com grande maioria. Enfraquecido pelo último pleito, a facção do Tea Party não mais teve condições de impedir o aumento (moderado) de impostos sobre os contribuintes mais abastados.
           Com a votação bipartidária na Câmara alta, a Casa de Representantes se descobriu sem condições políticas de barrar o acordo entre democratas e republicanos. Com uma bancada menor do que a do shellacking (tunda) de 2010, e ainda com as sombras do gerrymandering, os deputados republicanos podem ser radicais, mas não adeptos de harakiris políticos. Por isso, a minoria democrata, apoiada por amplas defecções no GOP, preparou o prato servido ao povo americano, poupando-lhe das artificiais agruras do dito fiscal cliff.
           Ao apresentar na Casa Branca o acordo a duras penas selado no Palácio do Capitólio,  o Presidente Barack Obama – com o principal fautor do entendimento, o Vice Joe Biden (com a sua grande experiência no Senado) a seu lado, em rara manifestação presidencial de reconhecimento explícito – não deixou de sublinhar que a nova lei aumentará os impostos dos 2% de americanos mais ricos, poupando a classe média,  afastando os fantasmas de ulterior recessão na difícil recuperação da economia estadunidense.
           Por outro lado, Obama deixou claro que, diante do seguinte calendário fiscal – quando em fevereiro p.f. se terá de aprovar novo teto para a dívida pública fiscal, ele não concordará com novas exigências para viabilizar o pagamento de compromissos que, na prática, já foram tomadas pela autoridade competente. A maior desenvoltura do recém-confirmado ocupante da Casa Branca reflete não só a realidade da vitória nos comícios de terça-feira, seis de novembro, mas também o recuo perante a opinião pública dos radicais do GOP, em uma refrega cujo novo desenvolvimento indica um tropeço político do Partido Republicano.
           Desse modo, não obstante as declarações contrastantes, aguardam-se novas representações para o eleitorado em fevereiro próximo, quando se aprovará novo teto para a dívida pública fiscal. O aludido espetáculo, antes realizado de forma burocrática, agora, em sua versão política, posto que não seja encenado por primeira vez, é de presumir-se igualmente que se há de encontrar jeito para novos entendimentos, que não excluem o indispensável posturing (que traduziria como jogo prévio para a arquibancada). Se a Casa de John Boehner continuar refratária a acordos, quem sabe, malgrado o gerrymandering republicano e o fenômeno da concentração urbana de maiorias pró-democratas (o que desperdiça o voto liberal), não se poderia excluir que os democratas voltassem a predominar na câmara baixa, com o afastamento do gridlock (paralisia legislativa), o que por ora é sonho de noite de verão.
           Mas por ora a turma republicana há de preferir a relativa discrição. A taça do perdedor em geral não costuma ser reclamada.  Fica a um canto, esperando melhores ventos, para uma nova – e quem sabe? – mais bem-sucedida tentativa.  Por enquanto, o silêncio na turma do líder da maioria na Câmara, Dep. Eric Cantor (R/VA) e senador Jim DeMint (R/S.C), se não obrigatório, parece a atitude mais conveniente...

 

( Fontes:  O Globo,  CNN )



[1] Cachorros azuis (a cor do partido democrata ) fiscais.

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