quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

É a economia, estúpido ! (II)

                                             
            Às vésperas do Natal, coloquei várias perguntas para o atual governo. Entrementes, houve queda acentuada no saldo comercial. O perfil do Brasil exportador continua baseado em produtos de base (commodities). Se não somos mais monoexportadores (café, açúcar, pau-brasil), a presença dos manufaturados não é tal que tenhamos um avanço no modelo.
           Esse modelo de país agrário e exportador de matérias primas (soja, minério de ferro) nos coloca na vanguarda daquelas nações mais expostas às variações para menos nas crises. Os produtos com mais alto índice tecnológico tendem a ser menos suscetíveis a quedas pronunciadas nas cotações. Tal não ocorre com os produtos primários, que continuam a ser o forte de nossa pauta.
           Em 2012 houve um superávit de US$ 19,438 bilhões, o menor desde 2002 (quando se marcou US$ 13,195 bilhões).  Como dependemos da balança comercial para equilibrar o déficit na balança de contas correntes, um saldo menor não é um bom sinal.
           Há dois fatores importantes para explicar essa flexão. O nosso intercâmbio com a Argentina se ressente da crise na economia portenha, com o desrespeito, na marra, da presidente Cristina Kirchner e de seus ministros pelas disposições do Mercosul. As nossas exportações para lá são bloqueadas administrativamente, criando-se uma quarentena artificial para o ingresso de nossos produtos industriais no mercado argentino, por força do desequilíbrio no intercâmbio e da consequente falta de divisas para que se normalize o comércio. Diante de uma situação temporária que, com o passar dos meses, tende a se tornar perene, o governo Dilma adota uma postura maternal – de resto, arremedando o modelo paternalista da anterior administração petista - que se caracteriza pelo não-apoio de nossos exportadores, e a vista grossa a um sistemático desrespeito da normas do Mercosul de parte das autoridades argentinas.
          O outro fator importante está na queda de nossas exportações de minério de ferro (por força da crise econômica que afeta os importadores – e em especial a China, que virou nosso maior parceiro comercial) e nas vendas de carne bovina.  Vários países – como a Rússia – e anteriormente Japão, China, África do Sul, Arábia Saudita, Chile e Jordânia estão impondo barreiras às nossas exportações a pretexto de haver sido detectado o agente causador da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecido como o “mal da vaca louca”, em animal morto no Paraná em 2010.
          A defesa brasileira se apóia em posição da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), segundo a qual o Brasil tem ‘risco insignificante’ da doença. Nesse sentido, o Brasil já expressou à OMC preocupação com a instrumentalização de tal informação. Não ajudou a reforçar  nossa posição, o atraso havido na devida comunicação relativa à ocorrência.  
          Dispomos de amplas reservas em divisas que nos afastam de eventuais crises decorrentes de falta de meios de pagamento. Dadas as despesas dos brasileiros na rubrica invisíveis, e como o real já não é visto com o favor de antes, haverá um passivo maior a resgatar, eis que serão menores as compensações com inversões de curto prazo, além de investimentos em nossa economia.
          Como os dados da economia não mais tem a excelência anterior – o recurso ao superávit primário tem de ser maquiado (mudanças ad hoc na contabilização das importações de petróleo e derivados), além da retirada do cômputo do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 
           São malabarismos do dr.Mantega que buscam dar um aspecto de Vila Poniatowski à nossa prestação contas. Além das conhecidas capitalizações, esses remendos na macro-economia não enganam a ninguém, salvo a dupla governante.
          É por essas e por outras que o Economist ousou sugerir o afastamento do atual mago da economia brasileira. Se a reação – pronta, rasteira e previsível – não terá tardado de parte de sua protetora, que, em meio às negaças e saltos-mortais da respectiva encenação, terá gasto mais tinta e afeto (no sentido psicológico) de que se fazia mister.Que dona Dilma não cometa o erro de pensar que  tudo vai bem, senhora marquesa.   O disfarce não engana, na medida em que sabemos quem puxa os cordéis. O pior engano é o auto-induzido. Já passou tempo demasiado para que se verifique que os indicadores só tendem a piorar.

 
( Fontes:  O Globo,  Veja, Folha de S. Paulo )         

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