No sistema bipartidário americano, o Partido
Republicano se tem marcado na atualidade por identificar-se sempre mais com
tendência direitista predominante. Nesse contexto, não vê contradição na defesa
dos privilégios das classes mais abastadas.
Assim, o GOP é um partido de minoria mas não das minorias. Se abraçasse este segundo caminho,
teria uma visão abrangente e inclusiva, o que não é absolutamente o caso. Ao invés, o Partido Democrata se caracteriza pela defesa das minorias, aquelas autênticas, cujos direitos, muita vez contestados ou dificultados, precisam ser afirmados, restabelecidos e resguardados.
Nesse sentido, não há deveras qualquer semelhança entre as camadas dos endinheirados, em que milhões (e bilhões !) de dólares podem traduzir-se no exercício de influência (e por conseguinte poder), e os milhões de pessoas que por sexo, raça, origem, condição social e eventual opção lutam diuturnamente por condições existenciais dignas desse nome.
O presente partido Republicano é, na verdade, o resultado de uma involução. Representa o resultado da aliança entre a corrente evangélica e uma maioria conservadora. Quando o Sul profundo se sentiu traído pela política de direitos civis do sulista Lyndon Johnson, estavam criadas as condições para que a antiga ligação entre o partido democrata e o sul reacionário se desfizesse, e o partido Republicano (o partido de Lincoln !) se tornasse o aliado natural do sul ultra-conservador (o que em outras latitudes se denomina retrógrado ou reacionário).
A infusão em apreciável escala da carga dita conservadora e militante no GOP teria outra consequência no perfil de sua composição. Dada a própria tendência radical, ela não poderia coexistir com ala moderada da associação. Por isso, a inflexão do GOP para a direita militante teve forçosamente de implicar no abandono das relações de tolerância com os republicanos da corrente moderada. E a consequência dessa postura se espelha hoje no caráter residual da representação moderada, que por métodos diversos tem sido sistematicamente neutralizada e enxotada do Grand Old Party.
A última eleição mostrou para a direção do Partido Republicano os perigos que as suas atuais alianças podem implicar para a respectiva estratégia de poder. A ligação com a plutocracia e o velho Sul não mais se traduz em fórmula de resultados confiáveis, dada a crescente conscientização das minorias não-privilegiadas, pelo partido Democrata e notadamente a campanha pró-reeleição de Obama.
E, sem embargo, a resposta hodierna do Partido Republicano não implica em uma sua eventual abertura para o Povo americano. Com efeito, a escolha do GOP é a de uma agremiação que, por um lado, se apega à sua visão direitista e conservadora, e por outro, através de artifícios e mecanismos sui-generis, se empenha em canalizar a seu proveito a vontade popular.
Desde muito, é verdade, o GOP recorre a tais meios para prevalecer nos processos eleitorais. Tem tentado criar uma larga rede de empecilhos – v.g., exigência de identificação suplementar de categorias minoritárias (velhos, negros, deficientes físicos, etc.), abolição do sufrágio antecipado, retardamento do processo de votação, etc.
Como disse o Presidente, o voto não deve ser dificultado e atrasado por filas intermináveis. No estado do Ohio, dada a sua importância para a determinação da eleição, o partido Democrata teve de vencer uma barragem portentosa, que tendia a dificultar e a desencorajar o voto das minorias, que favorecia a Obama.
Nesse ponto, o que o GOP intenta dificultar se insere na antiga tradição do Sul, em que o voto do negro devia enfrentar os diversos artifícios do obscurantismo, colocados adrede pelas mesas de votação para impossibilitar o maior número possível de votos de afro-americanos.
Agora, essa estratégia anti-popular do Partido Republicano, com base nas maiorias obtidas em assembleias estaduais (em função da ‘tunda’ de 2010 e do consequente gerrymandering nas eleições para a Câmara de Representantes) parte agora para mais um artifício tendente a desvirtuar a expressão do mandato popular.
Como se sabe, a eleição para Presidente da República é teoricamente indireta, eis que cada estado elege um número fixo de representantes, correspondente ao último censo. Até o presente, ao candidato vencedor no estado são atribuídos todos os votos eleitorais do estado, o que tem determinado, até o presente, com uma única e clamorosa exceção neste século, que o vencedor do cômputo geral dos votos também o seja na soma dos votos eleitorais.
Com a sua estratégia anti-povo, o GOP agora tentará fazer que em determinados estados – nos quais tem maioria na assembleia – se introduza a partilha de eleitores segundo aqueles distritos em que prevalecer este ou aquele partido. A introdução dessa regra em um número substancial de estados, tenderia a distorcer o resultado, de forma que, por exemplo, Mitt Romney poderia ser o vencedor no colégio eleitoral, apesar de derrotado na maioria dos estados, e no voto do conjunto do país.
Assim como a maioria na Casa de Representantes, hoje nominalmente pertencente ao GOP, não se reflete na proporção de votos atribuídos ao presidente e a seu contendor republicano nos estados respectivos, o aparente desígnio do Partido Republicano seria o de mudar o cômputo da votação no colégio eleitoral, de forma a que seja eleito o candidato minoritário e nâo aquele sufragado pela maioria do povo americano.
Se é claro o escopo de tal manobra, há de intuir-se que a democracia americana enfrentaria um grande desafio, se forem levados a termo tais propósitos que visam justamente a contrariar a vontade do Povo Americano.
Seria um desastroso recuo que sinceramente espero não se materialize.
( Fonte: Uma nova estrada,
manipulada, para a presidência, de Albert R. Hunt, apud International Herald Tribune) .
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