sábado, 5 de janeiro de 2013

Lula e Dilma

                                                         
           Agora que a presidente Dilma Rousseff cruzou o cabo da Boa Esperança de seu mandato, pode ser tentada comparação não só entre estilos de administrar, mas também da possibilidade de lograr um bom governo.
           O modelo de Lula nos seus oito anos foi sempre o de um presidencialismo parlamentarista. Menos por escolha do que por necessidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou mutatis mutandis o modelo francês, em que o presidente dá as grandes linhas  e cuida de política exterior, e o virtual primeiro ministro  trata da administração.
           Lula teve essencialmente dois primeiros ministros – José Dirceu e Dilma Rousseff. As suas funções de gerenciamento das demais pastas terão tido variações de tônica, dada a maior experiência política do primeiro em relação à segunda. No entanto, essa atividade administrativa se caracteriza pelo seu mando com respeito aos demais ministros (não foi o próprio Dirceu, no seu discurso de despedida, forçado pelo escândalo do mensalão e das revelações de Roberto Jefferson, que então se reportou ‘ao seu governo’ ?)
           Já o que se poderia chamar de modelo de Dilma  não admite ser havido como uma cópia do estilo introduzido por seu criador. Na sua administração, embora a presidente se esforce em preencher os dois papéis (o de presidente e o de gestora administrativa), por sua natureza e conhecimento prévio, ela estará sempre mais para gerente do que para chefe de estado no sentido gaullista.
           A sua atenção ao varejo em detrimento do atacado, que ela decerto contestará, se vê corroborada pelo respectivo detalhismo. Como não refuga o trabalho, a presidente não delega. Nesse contexto, tende a preferir assessores com nível ministerial, a ministros de estado. Nesse sentido, por uma ou outra razão, ficam pendentes as decisões de sua palavra, seja por determinação explícita, seja por temor reverencial.
          Entre outros males, caímos no micro-gerenciamento, com duas possíveis consequências: o atraso na decisão, com perda de oportunidade; e, na prática, a fragmentação no emprego da autoridade, com igual desperdício da importância temporal das respectivas determinações.
         O tempo de chefe de estado e governo é precioso. Não lhe pode escapar uma visão global de sua magna tarefa. Se, entretanto, principiar a pensar em ser factível duplicar o próprio tempo  - no sentido de pensar grande e cuidar de temas e tópicos específicos – a consequência inelutável será a predominância do particular sobre o geral, com o correlato prejuízo.  
         Tampouco o presidente carece de apegar-se a lemas e princípios que a prática vem demonstrando de pouca serventia. Um exemplo: qual o sentido, presidente Dilma, de criar mais uma estatal, e ainda por cima da grei da Infraero, quando a experiência prática evidencia a respectiva inutilidade, se estivermos interessados não em modelos patrimonialistas ou clientelistas, mas em boa governança ?
        No que tange ao seu Ministro da Fazenda, Guido Mantega, que herdou do governo anterior, ter-se-á detido para pensar em que aproveitam ao Brasil todos esses malabarismos ?  A inflação está aí e não serão piruetas contábeis que irão afastá-la. A senhora preferiu colocar o Banco Central sob a asa do Ministério da Fazenda.
       Antes de nos decidirmos a mexer em um sistema que, bem ou mal, está funcionando a contento, carecemos de perguntar-nos acerca de o que acontecerá quando o espírito do dragão estiver fora do frasco. Desmerecer do Plano Real – inda que não frontalmente, o que, convenhamos, seria atitude demencial – é um propósito para lá de questionável. Até mesmo o seu patrono político, com toda a sua limitação, preferiu fazer o dever de casa, e enquanto o fez, o Brasil e sua economia lhe agradeceram profusamente.
      Se houver interesse, passaremos em oportunidade futura a tratar de um tópico cuja relevância grita dos telhados: o (a) Presidente não pode ser um Gulliver em Lilliput. Precisa pensar grande, respeitar a herança recebida, e multiplicar o respectivo pensamento através de agentes dignos desse nome.


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