quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Pobre América Latina

                                              
          Houve a época em que o domínio militar por Moscou da Europa Oriental se assinalara pelas chamadas democracias adjetivadas. A fórmula poderia variar, mas o significado não. Eram países cativos, na área de influência do Kremlin. O resquício do legado ateniense entrava no quadro como Pilatos no credo.
          O coronel Hugo Chávez, de seu leito no hospital de Cuba, pode estar consciente ou não. São segredos guardados contra o peito pelos companheiros Maduro e Villegas. O que no caso interessa para o chavismo é a instrumentalização desse poder, enquanto ela for suscetível de ser mantida.
          Dentro de tradição, decerto penosa, mas ainda florescente, a história política venezuelana é sucessão de longas ditaduras que, no século passado, Romulo Bettencourt acreditara haver interrompido.
          O chavismo constitui o avatar mais recente do regime autoritário. Não deveria surpreender, portanto, que as vestes democráticas aplicadas pelo caudilho na dita república bolivariana sejam apenas travestimentos.
         Na camisa de força do regime, há limite para as sutilezas jurídicas.
         A Suprema Corte venezuelana, a que recorrera em desespero de causa Henrique Capriles, o candidato opositor derrotado na última eleição, manifestou-se com o desenvolto cinismo jurídico tão característico da alfaiataria autoritária.
          É o direito do mais forte, que alguns pensam somente sobreviver nas fábulas de La Fontaine. É brutal, animal mesmo, no próprio descaramento do recurso à força nua, sem qualquer vestígio de equidade ou sutileza jurídica.
          Dadas as leis da medicina terrena, o caudilho Hugo Chávez Frias estaria no limbo cubano, a meio caminho do ingresso no panteão dos homens fortes da América Latina. Entrementes, os seus eventuais órfãos cuidam de valer-se do antigo prestígio para agarrar-se às franjas de poder remanescente, na esperança de atravessarem incólumes os tempos interessantes que estão pela frente.   
         É empresa problemática, ainda mais árdua do que navegar entre Silla e Caribde. Sendo gente pequena, despojada do carisma do guia, o horizonte está longe de ser promissor.
         Sem descontar, é verdade, a messiânica alternativa de novo sebastianismo. Fora com os formalismos jurídicos, pois, no estado presente de desinformação, quem pode negar que o companheiro Chávez não há de levantar-se do catre dos irmãos Castro, e regressar para o ansioso, expectante seio do movimento chavista ?

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