O Brasil é um grande país, com a
correspondente potencialidade esportiva. No primeiro dia, por uma conjunção
feliz de circunstâncias logramos três medalhas. Dentro do sistêmico otimismo da
mídia, alinhou-se o Brasil logo abaixo dos três dianteiros, como se a
participação previsível de nosso país fosse a de encostar nas potências
esportivas – Estados Unidos e China em
uma visão de sonho, totalmente não correspondida pelos dias subsequentes.
Não sei se o vezo é dos comentaristas
esportivos, que cultivam o oba-oba patrioteiro, ou então caem no modelo Galvão
Bueno. Este senhor é o estatístico do otimismo, e brinda os
telespectadores com uma sucessão de
róseas previsões, baseadas em situações aleatórias, que podem mudar de um
momento para outro. Esse otimismo verde-amarelo profissional, desfiado
compulsivamente durante as partidas, será mesmo do gosto da audiência ? Para
mim, em matéria lúdica e em especial na que julgamos deter a primazia mundial,
tenho fundadas dúvidas se o cidadão brasileiro não treme nas bases, enquanto
ouve projeções estatisticas, fundadas na consistência das nuvens. Magalhães
Pinto dizia que política era feito nuvem, a gente olha e vê de uma forma, olha
outra vez e a coisa parece diferente. O torcedor não é um alucinado. Quer que o seu time ganhe, e mais ainda a seleção canarinho, mas alia esse desejo a uma cautela entranhada, que se resume em não cantar vitória antes do tempo.
Pois não é isso o que esses profissionais do patriotismo nos impingem nas suas narrações ?
Quando vimos a Espanha jogar e vencer com categoria, praticando um futebol novo, que se baseia na posse de bola, e na capacidade de todos os jogadores – inclusive o goleiro – de saber passar a pelota se possível redonda e controlável para os seus companheiros, será que não assaltou ao torcedor comum um secreto temor de que devemos melhorar no nosso conjunto, para que a próxima Copa não nos lembre o final da Jules Rimet de 1950 ? Porque é bom que se frise, que o Brasil de Flavio Costa, com Ademir, Danilo,Jair da Rosa Pinto e tantos outros era de longe a melhor seleção. Perdemos não por causa de Obdúlio Varela e do tal gol de Ghigia, mas porque pensamos que o caneco era nosso, depois das vitórias no turno final de 7x l sobre a Suécia e 6x1 na Espanha. O otimismo era tanto que os jogadores chegaram a aceitar as faixas de campeão distribuídas na concentração em São Januário.
Doeu deveras o sepulcral silêncio quando a celeste meteu aquele gol meio-frango em Barbosa,e os duzentos mil torcedores no Maracanã viram acontecer o impensável, quase o impossível. O chamado ‘maracanazo’ de que tanto se gabaram os uruguaios.
Nos dias que correm, o otimismo patrioteiro continua a regra, embora os seus praticantes, pelas bordoadas no campo, não o externalizam com as descabeladas previsões de antes.
Continuamos a perseguir o ouro olímpico no futebol. Vamos indo em frente, e devemos ter respeito pelo adversário. Se Honduras chegou onde chegou, não é lícito pensar que a próxima quarta-de-final são favas contadas...
Mesmo nos esportes de grupo, em que antes éramos temíveis, ora alternamos derrotas e vitórias, tanto no volley masculino e feminino, e ainda mais no basquete, que não parece ser o nosso forte (se não me engano, a nossa principal colocação foi em 1948, nas Olimpíadas de Londres, com o bronze).
Mas depois dessa comprida caminhada, o que eu gostaria na verdade de saber é o que realmente em prol do nosso esporte amador o Ministério dos Esportes, que desde a prisidência Lula virou apanágio do PCdoB.
Chocaram e não só a mim as grosserias do Sr. Aldo Rebelo, que ao desmerecer da distinção feita a Marina Silva, partiu para ridículas assertivas de privilégios reais. Senhor Rebelo, acaso ignora a trilha de trabalho e de esforço que caracteriza a nobre candidata à Presidência que, dispondo de pouco mais de um minuto de tempo na propaganda eleitoral gratuita, chegou perto, no primeiro turno, dos vinte milhões de votos ?
Marina Silva , no lugar do Ministro, buscaria ajudar nossos atletas, e criar-lhes condições para que possam um dia traduzir a potencialidade brasileira no esporte. O senhor fez mais de setenta audiências públicas supostamente para dialogar com a população sobre o Código Florestal. Tomou cuidado, no entanto, de não consultar nenhum especialista no ramo...
Agora, depois da saída de Orlando Silva do Esporte, o senhor além de brigar com a Fifa, o que fez para dar meios e modos aos nossos atletas de treinarem ?
O Brasil não é o Lichtenstein, mas se somarmos as medalhas que vamos colhendo em Londres, será que não lhe assalta o pensamento (e a responsabilidade) do papel que faremos daqui a quatro anos ?
Toda a troupe carioca – Sérgio Cabral, Eduardo Paes, com a adição de Lula e Carlos Nuzman, o eterno presidente do Comitê Olímpico Brasileiro – soube impressionar com hábeis videos o Comitê Olímpico.
Com o passar dos dias, e a performance deplorável de nossos atletas – por enquanto, com exíguas exceções – de que serviu a sua visita a Londres, Presidente Dilma Rousseff ? O que havia por trás dela, em termos de esforço, de verbas e de atenções para atletas muita vez deixados ao léu, e só lembrados de passagem pelos usuais dirigentes, como o referido Nuzman. Os resultados não caem do céu, assim como os antigos esperavam das míticas cornucópias.
Não há ninguém que mais deseje ser desmentido que o autor dessas linhas. Mas vendo a sucessão dos fracassos, das eliminações muita vez canhestras e decorrentes de um preparo técnico displicente ou ausente, a esperança aqui margeia um quase desesperado otimismo.
O cenário é conhecido. Esquecidos depressa na hipótese do malogro, serão endeusados e os seus méritos atribuídos à visão do governo, se conseguirem aquilo para o qual as estruturas e as dotações do administração de turno nada fez para tornar realidade. Dão engulhos os espetáculos de instrumentalização das instâncias ditas responsáveis, em que atletas esquecidos e abandonados conseguem apesar de tudo surpreender pelo próprio talento, como foi o caso no salto triplo de Adhemar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico, em 1952 e 1956.
O povo não é bobo e tampouco o são os abnegados atletas que, apesar da inútil burocracia estatal e o sólitos aspones arrebatam prêmios, fundados unicamente não em treinamento abrangente e competente, mas no seu intrínseco valor pessoal e no esforço anônimo e ingente, arrancado de uma existência dura, sem quaisquer facilidades substanciais das entidades administrativas. E a quem enganará a tentativa dos cartolas de reclamar parte dos aplausos no êxito desses humildes heróis do povo brasileiro ?
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