sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Marina e as vitórias de Pirro dos ruralistas

                      

       A Comissão Mista do Congresso continua no seu trabalho de desconstruir a Medida Provisória sobre o Código Florestal. Ontem, nova derrota do governo Dilma Rousseff que sequer logra arregimentar a respectiva e tão decantada base de apoio.
       Das duas uma, ou a maioria parlamentar é uma miragem – e nesse aspecto seria bom lembrar as palavras candentes do lider do PMDB, Deputado Henrique Alves, ao blasonar do respectivo orgulho de encabeçar a própria bancada na sua coesa oposição ao governo, apoiando a emenda de anistia aos desmatadores. Então, o partido de Michel Temer é oposição, sendo enganosa a versão de que vista a camisa da situação?  Ou a resposta seria outra, com bastas pitadas de oportunismo: o PMDB fecha e não abre, quando se trata das dotações que a seu critério lhe são devidas. Aí eles são governo e desde criancinhas. Quando, no entanto, os ventos (e os interesses) sopram para outras bandas, eles, como diria um sábio político, hoje de novo cortejado pelo PT, não estão nem aí.
        Fica difícil entender por que o governo dílmico se submete a tais injunções. Acaso não continua a ter a caneta das nomeações e das obras sob encomenda? Porque então o Planalto se curva e nada faz para pôr cobro a atitudes de bancadas que talvez houvessem postura diversa, se D. Dilma e seu gabinete tivessem memória e estudassem sábias palavras de tarimbados políticos como o Presidente Theodore Roosevelt[1],  que gostava de referir-se a dois símbolos, a cenoura e o bastão (the carrot and the stick), de que os ruralistas teriam condições de bem captar o profundo sentido semântico.
        Pois vejam só, meus caros e ilustres passageiros do bonde da história: este tal de Roosevelt, que andou pelas nossas florestas quando elas eram densas, quase impenetráveis, marcou grande  presença no governo americano, aplicando essa singela doutrina.     
       Mas voltemos às insânias ruralistas. Desta feita, por quinze a doze, eles derrubaram na comissão mista as Áreas de Proteção Permanente (APPs), nas margens dos rios intermitentes. O relator Senador Luiz Henrique, de Santa Catarina, antes assinara o código florestal estadual (cuja constitucionalidade é contestada), o qual entre disposições encolhia drasticamente as APPs no estado. Essa demagogia só aumentara a devastação das lavouras e das pequenas propriedades no estado. A estupidez humana, misturada com a ganância, assola mais do que os desastres naturais. Porque esses, se acirrados por erros do passado, podem pelo menos protestar a inocência da ignorância. O que se pode dizer de gente que abre caminho para as grandes inundações – como vimos nas Alagoas, no norte fluminense (despojado das antigas defesas das matas ciliares) e na própria terra dos barriga-verde ?
        Nas savanas, na aridez nordestina, no desaparecimento das florestas e do Pantanal,  só se poderão cantar  os cavaleiros do novo Apocalipse, com os negros corcéis da Corrupção, o tordilho da Demagogia e a besta sarnenta do Desmatamento. Mas então será tarde demais para loas e mágicas poções. O canto será diverso: de uma terra rica e opulenta, das verdes matas e dos grandes rios, a quem iremos louvar pelos altos sonhos de riqueza se por toda parte se há de deparar o gesto horrendo da esturricada miséria ?   
          E aí o que há de sobrar para os trezentos picaretas, os tartufos e os corruptos, diante do tribunal do povo enfurecido ?
         Gente,então tudo foi lamentável erro, cousa realmente do demo ?
         Há uma escritora que celebrizou-se pela sua Marcha da Loucura. Se não tivesse [2]morrido faz tempo, até se poderia pensar que se inspirou nos cavaleiros ruralistas, que apesar de perderem qualquer plebiscito perante o Povo Soberano, pela inépcia do governo de um partido que foi de Chico Mendes e hoje nada faz para defender e restabelecer o ambientalismo de Marina Silva.
          No outro dia, para grande raiva de um cultor do ruralismo, ela representou o verdadeiro Brasil, aquele país grande e generoso, que gostaria de crescer no respeito ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentado.
         Ainda é tempo de repensar e de expulsar os mercadores do templo antes que seja tarde. Lula se desfez de Marina por causa do incômodo que lhe dava com o seu conhecimento da terra. Preferiu Mangabeira Unger.
        Nunca é tarde para pregar a boa nova.
        Marina na verdade incomoda. Vejam o nobre deputado Aldo Rebello, ministro dos esportes da presidente Dilma.
        Está chegando a hora do Povo brasileiro. Não o das presepadas, das maracutaias, mas aquele que acredita no trabalho, no equilíbrio com recursos naturais que ninguém tem no mundo.
       No passado,  falou-se de vassouras e coisas do gênero. A casa do Brasil é grande mas carece de ser preservada. Vamos dar férias aos aproveitadores e aos cidadãos que não são comuns.
      Pensemos em Marina. Analfabeta, ela estudou. Pobre, ela se enriqueceu com o saber das gentes, não com o ouro que qualquer ladrão pode levar. Integra, simples, e no entanto altaneira.
     Gente, é hora de trocar de exemplo. É hora de pensar em um Brasil grande, mas sem as loucuras dos militares. Aberto, forte, generoso, que respeita o trabalho e crê na têmpera e no espírito grande de  povo amante da Paz.
     Vamos abrir alas para esta nossa guerreira. Chega de imitações!
     Com pouco mais de minuto de propaganda política obrigatória, ela colheu vinte milhões de votos. Está chegando a hora da reação, aquela boa e bem brasileira. Que tal virar este  jogo, antes  que seja demasiado tarde ?



[1] O vigésimo sexto presidente dos EUA (1901-1909)
[2] Barbara W. Tuchman, ‘The March of Folly’, Alfred A.Knopf, New York, 1984.

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