Discurso de Mitt
Romney
Foi decerto previsível o discurso de Romney
na Convenção de Tampa. Sem qualquer suspense
no que tange tanto à respectiva designação, quanto à indicação do companheiro de chapa, a
alocução do candidato republicano cingiu-se
a trabalhar sobre o óbvio, com o seu apelo aos eleitores decepcionados com
Barack Obama.
Mitt Romney serve-se da oportunidade que
se lhe oferece, pela circunstância de que o 44º presidente não logrou
proporcionar ao povo americano a mudança (change), com que lhe acenara em 2008.
Sem embargo de haver escolhido o principal ponto fraco de Obama, como há de soar a frase de que ele Romney ‘queria que o presidente Obama houvesse sido bem-sucedido porque quero que os EUA sejam bem-sucedidos’?
Esta assertiva dessora hipocrisia por todas as suas sílabas, diante da sistemática negativa do GOP em dar sequer um voto de confiança às iniciativas do Presidente, antes e depois de ter logrado o controle de um dos órgãos do Legislativo. Tal oposição seria marcada pelo lema do líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, de tudo fazer para que Obama seja presidente de um só mandato, e mais tarde, depois do shellacking (tunda) das eleições intermediárias de 2010, pela implacável implementação do bloqueio das ações do governo estadunidense pela raivosa maioria direitista da Câmara, com Eric Cantor, na liderança da bancada e Paul Ryan, como ideólogo do conservadorismo militante, dentro da linha de um Robin Hood às avessas.
Nesse contexto, a frase de Romney parece tão falsa quanto uma nota de três dólares.
Reeditando o passado, os republicanos, com o Tea Party à frente, não visaram o interesse dos Estados Unidos quando criaram a crise artificial relacionada com o teto da dívida. Todo o observador político há de demonstrar que a elevação do teto da dívida pública sempre fora tratada como uma obrigação burocrática. A sua única instrumentalização fora contra a Administração de Bill Clinton, nos tempos do Contrato com a América de Newt Gingrich. Ironicamente, seria sob esse presidente democrático que o orçamento americano findaria com saldo positivo, circunstância de que o seu sucessor, George Bush jr. cuidaria de transformá-los em crescentes déficits, com as suas guerras e a redução dos tributos em favor dos ricos.
O Presidente
egípcio e o Secretário-Geral da ONU surpreendem aos ayatollahs
Com efeito, o presidente Mursi, do Egito, em seu discurso, criticou o regime do Presidente Bashar al-Assad, da Síria, dizendo ser missão ética apoiar o povo sírio contra o ‘regime opressivo de Damasco’.
Em linha similar, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, na presença do Líder Supremo, Ayatollah Ali Khamenei, exigiu ‘total cooperação com as resoluções das Nações Unidas e com a Agência Internacional de Energia Atômica’.
Para quem era acusado de timidez e de falta de afirmação no próprio cargo, o secretário-geral terá silenciado tais comentários, ao asseverar perante o Supremo Líder Khamenei: ‘eu rejeito fortemente as ameaças de qualquer país-membro contra outro ou tentativas ultrajantes de negar fatos históricos como o Holocausto. Alegar que outro integrante das Nações Unidas, Israel, não tem o direito de existir, descrevendo-o em termos racistas, é não apenas completamente errado como mina todos os princípios com os quais nos comprometemos.’ E, nessa mesma corajosa linha, instou “os países a pararem com as provocações e as ameaças inflamatórias. Uma guerra de palavras pode rapidamente se transformar numa guerra de violência.”
O Secretário-Geral das Nações Unidas mostrou, em terreno iraniano, que pode ter a têmpera de seu afastado predecessor, Dag Hammarskjold. E a comunidade internacional e a causa da Paz ganham com isto.
( Fonte: O Globo )