sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Novas de Romney, Obama, Mursi e Ban Ki-Moon


                  
Discurso de Mitt Romney

 
       Foi decerto previsível o discurso de Romney na Convenção de Tampa. Sem qualquer suspense no que tange tanto à respectiva designação, quanto  à indicação do companheiro de chapa, a alocução do candidato republicano  cingiu-se a trabalhar sobre o óbvio, com o seu apelo aos eleitores decepcionados com Barack Obama.
       Mitt Romney serve-se da oportunidade que se lhe oferece, pela circunstância de que o 44º presidente não logrou proporcionar ao povo americano a mudança (change), com que lhe acenara em 2008.
      Sem embargo de haver escolhido o principal ponto fraco de Obama, como há de soar a frase de que ele Romney ‘queria que o presidente Obama houvesse sido bem-sucedido porque quero que os EUA sejam bem-sucedidos’?
     Esta assertiva dessora hipocrisia por todas as suas sílabas, diante da sistemática negativa do GOP em dar sequer um voto de confiança às iniciativas do Presidente, antes e depois de ter logrado o controle de um dos órgãos do Legislativo. Tal oposição  seria marcada pelo lema do líder da minoria no Senado, Mitch McConnell, de tudo fazer para que Obama seja presidente de um só mandato, e mais tarde, depois do shellacking (tunda) das eleições intermediárias de 2010, pela implacável implementação do bloqueio das ações do governo estadunidense pela raivosa maioria direitista da Câmara, com Eric Cantor, na liderança da bancada e Paul Ryan, como ideólogo do conservadorismo militante, dentro da linha de um Robin Hood às avessas.
     Nesse contexto, a frase de Romney parece tão falsa quanto uma nota de três dólares.

 
Qual a reação de Obama ?   

 
      Na Convenção de Charlotte, na Carolina do Norte, prevista para a próxima semana, Obama não pode sequer pensar  nas miragens do bipartidismo e no ramo de oliveira. O seu olhar e a sua mente devem voltar-se para um distante antecessor seu,  Harry S. Truman, o 33º presidente, que confrontou através de sua pregação  o Congresso (de maioria republicana). Ao expor a maioria do GOP do-nothing (nada fazendo), Truman mostrara a insinceridade republicana que para tentar garantir a eleição de Thomas Dewey, trabalhava contra o interesse nacional, bloqueando todos os projetos em prol da sociedade americana.
      Reeditando o passado, os republicanos, com o Tea Party à frente, não visaram o interesse dos Estados Unidos quando criaram a crise artificial relacionada com o teto da dívida. Todo o observador político há de demonstrar que a elevação do teto da dívida pública sempre fora tratada como uma obrigação burocrática. A sua única instrumentalização fora contra a Administração de Bill Clinton, nos tempos do Contrato com a América de Newt Gingrich. Ironicamente, seria sob esse presidente democrático que o orçamento americano findaria com saldo positivo, circunstância de que o seu sucessor, George Bush jr. cuidaria de transformá-los em crescentes déficits, com as suas guerras e a redução dos tributos em favor dos ricos.
 

O Presidente egípcio e o Secretário-Geral da ONU surpreendem aos ayatollahs     

 
      O recém-empossado Mohamed Mursi foi uma presença incômoda no que os anfitriões iranianos tinham preparado como um ‘show’ de unidade a respaldar a própria política.
      Com efeito, o presidente Mursi, do Egito, em seu discurso, criticou o regime do Presidente Bashar al-Assad, da Síria, dizendo ser missão ética apoiar o povo sírio contra o ‘regime opressivo de Damasco’.
     Em linha similar, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, na presença do Líder Supremo, Ayatollah Ali Khamenei, exigiu ‘total cooperação com as resoluções das Nações Unidas e com a Agência Internacional de Energia Atômica’.
     Para quem era acusado de timidez e de falta de afirmação no próprio cargo, o secretário-geral terá silenciado tais comentários, ao asseverar perante o Supremo Líder Khamenei: ‘eu rejeito fortemente as ameaças de qualquer país-membro contra outro ou tentativas ultrajantes de negar fatos históricos como o Holocausto. Alegar que outro integrante das Nações Unidas, Israel, não tem o direito de existir, descrevendo-o em termos racistas, é não apenas completamente errado como mina todos os princípios com os quais nos comprometemos.’ E, nessa mesma corajosa linha, instou “os países a pararem com as provocações e as ameaças inflamatórias. Uma guerra de palavras pode rapidamente se transformar numa guerra de violência.”
     O Secretário-Geral das Nações Unidas mostrou, em terreno iraniano, que pode ter a têmpera de seu afastado predecessor, Dag Hammarskjold. E a comunidade internacional e a causa da Paz ganham com isto.

 

( Fonte:  O Globo )  

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Um Julgamento para a História ?


                           
           Será difícil para os interessados – e são decerto muitos e nem sempre estão nas fileiras dos eleitos para cargos públicos – desfazer ou redimensionar o previsível efeito da Ação Penal 470 (ou o juízo do Mensalão) no pano de fundo dos costumes da classe política.
          Porque ontem foi vibrado um golpe preocupante para aqueles que partem da premissa de ser a impunidade a regra não-escrita mas observada no Brasil, no que tange aos eventuais delitos da chamada classe política.
         Ontem, com o voto do Ministro Cezar Peluso, duas conclusões colaterais e independentes podem ser expressas.
         Por primeira vez, uma alta autoridade – João Paulo Cunha foi presidente da Câmara dos Deputados e exerceu interinamente a presidência da república – será condenado pelo Supremo Tribunal Federal a pelo menos seis anos de prisão. Os crimes que lhe foram atribuídos são os de corrupção passiva e peculato.
         Anteriormente, a Ministra Carmen Lúcia propusera uma imagem feliz quanto à certeza da impunidade do então presidente da Câmara, ao enviar sua esposa para receber no Banco Rural a propina de cinquenta mil recebida de Marco Valério.
        Posto que não esteja de acordo com todas as opiniões do ministro Cezar Peluso (e o blog é disso testemunha), apraz-me assinalar-lhe as qualidades de juiz, e o quanto se ressentirá o Supremo de seu aporte, como o próprio elogio do Presidente Ayres Britto, ao elencar-lhe as características profissionais o deixou meridianamente claro. Peluso fez por merecer a cerimônia do adeus que lhe foi prestada, com a intervenção dos principais personagens, inclusive do virtual decano da classe advocatícia, Marcio Thomaz Bastos.
        A relevância deste julgamento está encastoada na primeira página da Folha:  Por oito votos a dois, os ministros do STF decidiram pela primeira condenação de um político envolvido no escândalo do mensalão. (...) Os ministros que votaram pela absolvição foram Ricardo Lewandowski e José Dias Toffoli, que foi assessor de José Dirceu na Casa Civil e advogado do PT. Ainda falta o voto do presidente da corte, Carlos Ayres Britto.’
        Por primeira vez, na parede da História do Brasil, surge a escrita de que a Impunidade não é a necessária companheira da Corrupção.
        Concordo com as observações do Ministro Peluso sobre o que significa a condenação do magistrado em termos de que é realizada por misericórdia.
        Ao condenar por corrupção um importante petista, a sentença do STF, a ser ainda prolatada e transitada em juízo, produzirá dois efeitos, um imediato e outro mediato.
         No capítulo imediato, varrerá com a tese espúria do caixa-dois, ora defendida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e por todos os advogados, muitos de nomeada, defensores dos réus do mensalão.    
        Naquele mediato, sinalizará para quem tem cínica visão (até ontem empiricamente demonstrada) que o caminho dos juquinhas da corrupção, pequenos, médios ou grandes não se afigura doravante tão tranquilo.
         Pode ser que as paredes do futuro assinalem com a provável punição da vasta gama dos corruptos.
        Dessarte, não irão parar na cadeia preferencialmente os pobres, culpados de terem retirado uma casca de árvore protegida.
        É o que a opinião pública – e não a publicada, no usual intento de desmerecer o geral consenso da gente morigerada – gostaria e muito de ver confirmado.
 

 
( Fonte subsidiária: Folha de S. Paulo )

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Eleição Americana: Convenções



                                
       No momento, transcorre a Convenção Republicana, que vai carimbar a candidatura de Mitt Romney a Presidente, e de Paul Ryan, a Vice-Presidente.
       Para um partido que se situa solidamente à direita na área politica, e que procura mostrar a respectiva coerência por vezes através da incoerência factual, o furacão Isaac semelha haver chegado na hora certa.
      Escolher para local de uma grande reunião uma cidade na Flórida, e ainda por cima em agosto, exibe uma crença algo desmedida na sorte climática. A tempestade tropical Isaac – que a caminho de New Orleans virou furacão – recoloca na berlinda diversos tópicos, a partir da responsabilidade humana pelo aquecimento global ( e fenômenos correlatos).
      O único pré-candidato que não saíra formalmente da disputa é o libertário Ron Paul, que compareceu com o seu punhado de delegados. Foi tratado de forma bastante autoritária, eis que só poderia discursar se submetesse a intervenção ao exame do estado-maior da convenção (sob o controle do grupo de Mitt). Como o deputado pelo Texas não se curvou, ensejou pelo menos uma ideia do grau de liberdade de pensamento na dita convenção.
     Quanto aos resultados políticos da reunião de Tampa, provavelmente dará um empurrão no percentual das pesquisas de Romney. O candidato republicano que até agora não conseguira superar Obama, deverá passar à frente, graças ao chamado efeito-convenção.
     Por sua vez, com a convenção de Charlotte, na Carolina do Norte (de 4 a 6 de setembro p.f.), e a formalização da candidatura de Barack H. Obama à reeleição, tudo deverá voltar ao cenário precedente, com a ligeira vantagem do Presidente.
    Salvo erro ou omissão, essa campanha política tenderá a assinalar-se pelo equilíbrio, que é uma decorrência do estado da economia – que prejudica o presidente em exercício – e da falta de appeal específico do candidato republicano, que é um camaleão político, com rateante motivação para o eleitor americano.
    O que fará, talvez, do pleito de 2012 uma daquelas disputas interessantes (no sentido chinês da palavra), um verdadeiro toss-up (cara ou coroa), com todas as atinentes consequências de imprevisibilidade, que pode até estender-se ao domínio de Câmara e Senado.
    Em outras palavras, poderá dar em um cliff-hanger (ou enorme suspense), como foi em 1948 (com a vitória do democrata Harry Truman), ou em 2000 (com o questionável triunfo de George W. Bush, por sentença da Suprema Corte, ao determinar a suspensão da recontagem na Flórida – que daria se levada até o fim a vitória a Al Gore).  
   Que seja o que Deus quiser...

  

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Ainda o Julgamento do Mensalão


                       
         A prolixidade é uma característica de muitos juristas e, por isso, o veterano colunista Janio de Freitas não deveria surpreender-se com a extensão de alguns votos.
         Sem embargo, o juízo avança e, posto que seja imprudente ter certezas, dada a imprevisibilidade de algumas posições, aumenta a possibilidade de  condenação dos réus políticos, como João Paulo Cunha e mais adiante, se se confirmar o alinhamento dos atuais votos com as posições do relator, Ministro Joaquim Barbosa, no que tange a José Dirceu, a Ação penal 470 pode fazer história em termos do Supremo Tribunal Federal.
         Por enquanto, a condenação ainda não é  certeza matemática para o deputado João Paulo Cunha, posto que já se recolham quatro votos a considerá-lo como culpado e dois que o absolvem. Partindo de ministros como o revisor Lewandowski e Dias Toffoli, havidos como favoráveis à absolvição, e incluindo votos pela condenação,  como os de Luiz Fux e de Rosa Weber, tidos antes como incógnitas, aumenta a probabilidade de que  o ex-presidente da Câmara venha a ser condenado.
        Permanecem, no entanto, diversas interrogações. O Ministro Cezar Peluso – que será o primeiro a votar na sessão de amanhã – cairá sob a compulsória na semana seguinte. A dúvida quanto a Peluso – tido como favorável às condenações – está se pleiteará – e a Corte lhe concederá – a oportunidade de votar sobre todos os segmentos, e não apenas o primeiro exposto pelo relator.
       Nesse contexto, o que pode lançar luzes sobre pelo menos um dos votos contrários a que lhe seja concedida tal antecipação, já se prefiguram as posições negativas de Ricardo Lewandowski, o ministro-revisor, e Marco Aurélio Mello. Se a primeira não causa surpresa, a segunda poderia indicar também posição condenatória quanto à pauta dos ministros. Baseiam-se  para recusar ao ministro Peluso este ensejo na circunstância de que os juízes devem ter presente a posição da relatoria, o que não se verificará quanto aos demais segmentos ainda não relatados perante o plenário por Joaquim Barbosa.
       É um tema delicado, que não deveria ser adiantado antes que o principal interessado – no caso o Ministro Peluso – se manifeste expressamente.             
       Outras observações parecem caber. Assim, as condenações dos réus não-políticos como o lobista Marcos Valerio, dois sócios deste, e o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato tendem a configurar-se como virtuais certezas.
      Cresce a presença do Ministro-Relator Joaquim Barbosa no julgamento. Dado o seu domínio da matéria em juízo, em todos os detalhes do processo, os eventuais juízes que não acolhem o seu parecer são muita vez colocados diante de observações pontuais – e em geral de difícil contestação – quanto ao não-acolhimento das recomendações de seu relatório. Será nessa condição que o relator Barbosa comentará aspectos do voto que acaba de ser exposto. Como o faz com brevidade e acuidade, tende a expor pontos do voto que deixaram de apoiar-se em aspectos factuais de elementos de prova específicos antes referidos pelo relator e ora por ele sublinhados.
      Nessas condições – e até o momento os juízes, excetuado o revisor, não têm obtemperado contra essa ‘fiscalização’ – a interveniência do relator após votos discrepantes se tem realizado quase como se fora ex-officio.     
      De certa forma, tal constitui tácita homenagem ao grande trabalho realizado pelo Ministro Joaquim Barbosa. Resta saber como se portarão os Ministros mais antigos do Tribunal quanto à atuação do ministro-relator, no que concernir aos respectivos votos.

 

( Fontes subsidiárias: O Globo, Folha de S. Paulo )

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Notícias do Front (30)

                                  
Ironia climática na Convenção Republicana ?


      Bom senso e política não deviam ser palavras antagônicas,mas por vezes o observador há de perguntar-se por que teimam em contrariar-se ou em adotar posturas que desafiam a prudência.
      A Flórida é um estado americano por onde passam muitos furacões e tempestades tropicais neste época do ano. Às vezes, tais desastres naturais fustigam regiões próximas, com foi o caso do Katrina, cujo aniversário se comemora (?) a 29 de agosto, e que assolou New  Orleans e pôs a nu a incompetência do governo Bush jr.
     Agora, sob o lema – podemos fazer melhor ! – o GOP lança em Tampa a convenção para entronizar a candidatura de Mitt Romney. A despeito da suposta moderação do candidato, forçoso se afigura reconhecer que, a par do nome do ex-governador de Massachusetts, há muitos contrapesos da direita partidária a pesar tanto na plataforma, quanto no seu companheiro de chapa.
     Além de Paul Ryan, com os seus remédios ultra-conservadores, o programa do GOP está na contramão da progressão política, a começar pela proposta reversão da histórica decisão  da Suprema Corte Roe v. Wade, o que equivaleria a reintroduzir a proibição do aborto na sociedade americana.
     Desta feita, o tempo ameaça a festa republicana. Há mais do que uma certa ironia em que um partido onde se aninha a negação do efeito homem sobre o clima, e em que prevalece a filosofia dos petroleiros irmãos Koch (que subvencionam todas as medidas e proposições tendentes a derrubar normas ambientalistas) uma vez mais se descubra a braços com esse maldoso e traiçoeiro clima, a pregar-lhe peças como foi a do furacão Katrina.
     Não há dúvida de que o presidente Barack H. Obama deveria ter feito mais, depois das promessas de Copenhaguen, em prol da defesa da ecologia e do clima, do que  sua pálida performance até o presente. Há esperanças de que em um segundo mandato  sua consciência ambiental se fortaleça. De qualquer forma, nada de bom neste campo pró-ambiental pode ser esperado de Romney & Cia.
 

Guerra Civil Síria    

 
      Bashar al-Assad continua na sua anti-política de terra arrasada. Se até o presente não se serviu do arsenal de armas químicas, este será talvez o único ponto em que terá refreado os respectivos aliados.
     Pelo menos 320 mortes em Daraya, nos  arredores de Damasco, mostra a nua  intenção do extermínio da oposição, o que inclui a matança de inocentes como crianças e jovens.
     Esse massacre, precedido pelo cerco e fechamento de vias de escape, se insere na promessa de combater a ‘todo custo’do ditador, e o torna um candidato  ainda mais certo para o Tribunal Penal Internacional da Haia. Assad pode pensar que o veto russo será a sua varinha mágica, a torná-lo imune da lei penal internacional, malgrado as muitas atrocidades em que o próprio regime se afunda, na tentativa de debelar o levante sírio. Contudo, basta olhar para os muitos réus já indiciados pelo TPI para verificar que há limites para essa intervenção, limites que não costumam resistir à corrosão do tempo e da sobrecarga negativa dos criminosos anteriormente sob a asa do Kremlin.

 

Mensalão: voto de Joaquim Barbosa

 
      Segundo a Folha, o Ministro Joaquim Barbosa apontará erro factual no voto do revisor Ricardo Lewandowski. O esforço do Ministro Barbosa não conseguirá decerto demover o seu colega, por mais que se baseie na razão. É um prognóstico que apreciaria fosse desmentido por Lewandowski, mas tudo parece indicar que ele será refratário a qualquer mudança nesse sentido.
     Seria o mesmo mutatis mutandis que esperar um voto condenatório do Ministro Toffoli neste processo do mensalão.  Há algo de muito errado na designação dos ministros do Supremo. Em um país tão sério e tão apegado a princípios, como o demonstra a comissão senatorial encarregada de avaliar as candidaturas à Suprema Corte, será de surpreender que entrem na composição de nossa mais alta corte nomes que dificilmente lá estariam se acaso submetidos a um exame mais rigoroso e consentâneo com as responsabilidades dos eventuais indicados para tão algo cargo?

 

 
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )

domingo, 26 de agosto de 2012

Ao Deputado Roberto Dinamite, Pres. do CRVG

          
         
            Como um torcedor do Vasco da Gama, Presidente, estou preocupado com a situação do time. Depois de ótimo começo, com pontuação plena, principiamos a perder pontos.
           Por algum tempo, no entanto, a torcida acreditou na possibilidade de o Vasco ser um concorrente sério para o título, assim como no ano passado.
          Por falar em 2111, presidente, recordo-me de seus comentários ao final do campeonato, em que se demonstrou a maneira com que o Vasco foi tungado, por diversos juízes, de oito pontos, através seja da anulação de goals – por infrações que somente o árbitro e quem sabe a comissão técnica da CBF pôde ver – seja pela não marcação de penalties, como no jogo com o Internacional, no Beira Rio, para o qual foi escalado um juiz sem condição física de acompanhar de perto a partida (este senhor, a trinta metros de distância, considerou como ‘simulação’ e deu cartão amarelo ao jogador vascaíno por um foul imaginário, ao invés de assinalar o claro pênalti cometido na área do Internacional).
          Recordei-me das suas declarações bem-comportadas, com o Corinthians já com o título, em que o senhor mostrava que pelo direito o título deveria ser do Vasco. O que me surpreendeu então é que o presidente do CRVG não se manifestasse no momento oportuno, enquanto o que aparecia ser uma operação concertada, contra esse favorecimento acintoso do Corinthians em detrimento do Vasco.
         O senhor há de ter visto a gritaria da direção do Corinthians na semana passada, por causa da validação de um gol em impedimento por um jogador do Santos. Por causa disso, senhor Roberto Dinamite, o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF foi defenestrado, e o bandeirinha suspenso, para submeter-se a um necessário reaprendizado.

        Meu caro Presidente,

        que gritante diferença  entre o tratamento cinco estrelas concedido ao Corinthians pela CBF, por um goal em impedimento validado (que não decidiu campeonato algum), e aquele não-tratamento para um conjunto de operações muito mais graves, eis que implicaram na perda de oito pontos pelo Vasco, que foi por isso relegado ao lugar de vice-campeão do Brasileirão do ano passado ?
        Além da escandalosa diferença de atenção entre um grande clube do Rio de Janeiro e outro grande clube de São Paulo, a que mais devemos atribuir essa manifesta denegação de justiça ? Será que para defender os nossos direitos não caberia um pouco mais de atitude e de reclamação perante as instâncias competentes?

        Senhor Presidente,

        não duvido de seu apreço e entusiasmo pelo Vasco da Gama. No entanto, a ver-se pelo modo com que o senhor está tratando o plantel, alguém poderia até duvidar disso. Como é possível ter um clube em condições de conquistar o campeonato,  desfazendo-se de jogadores como Rômulo (da seleção), Fagner e até Diego Souza, para trazer de volta um Carlos Alberto que, a despeito de torcedor vascaíno, não acrescenta muito em termos de ataque ao Vasco.
        Aliás, o colunista de O Globo, F. Calazans chega a dizer que o Vasco de agora não tem mais ataque, e quem se atreve a contraditá-lo, enquanto deixam sozinho no ataque a Alecsandro ?
        Todos nós compreendemos a sua atitude de manter nominalmente  Ricardo Gomes como técnico, deixando o seu segundo, Cristóvão Borges, à testa da equipe. Com o desfazimento da qualidade do time, tão bem costurado por Ricardo Gomes, e a óbvia incapacidade do substituto de reequilibrar a sua armação, com os ‘valores’ à sua disposição – sem falar na crescente impaciência da torcida com o subtécnico – não será chegada a hora de resolver-se o problema do técnico ?
        Todos nós continuamos dispostos a aguardar pelo regresso de Ricardo Gomes. Só o senhor no entanto terá elementos para saber se e quando essa ansiada volta será possível. Entrementes, parece-me ser urgente a necessidade de (a) fortalecer e não enfraquecer o Vasco; e (b) considerar a hipótese de um substituto para Cristóvão Borges, sempre e quando o nosso prezado técnico Ricardo Gomes não esteja ainda em estado de reassumir plenamente o seu posto.
         Creia-me, com o apreço e a atenção de sempre  de

 

          Mauro  M.  de  Azeredo

          (torcedor do CRVG desde 1948)        

A Hora da Verdade para Dilma ?


                              
       As greves no serviço público tiverem como precursor o movimento dos professores universitários. Quanto à justiça e à urgência desta reivindicação específica, o leitor deste blog conhece a minha posição e não me parece o caso de aqui desenvolvê-la uma vez mais (V. a propósito ‘O Escândalo do Salário dos Professores’, de 30 de junho de 2012).
       Parece-me de toda oportunidade, no entanto, ensaiar uma primeira apreciação de o que significa o desafio da greve  generalizada no serviço público para Dilma Rousseff enquanto presidente da república.
      O tratamento por ela dado ao surto grevista transmitiu, de início, às categorias envolvidas, a impressão de que a presidente tinha mais o que fazer do que ocupar-se com a súbita irrupção no seu gabinete de tais demandas salariais. Ao delegar o assunto à esfera ministerial, deu aos funcionários que cruzavam os braços uma dúplice mensagem: (a) a questão não possuía importância bastante para que chamasse a si própria a responsabilidade de respondê-la; (b) e o corolário disso, vale dizer a maneira tímida com que o segundo escalão se dispôs a tratá-la.
       Por cima disso tudo, pairava o menosprezo presidencial pelo movimento reivindicatório. Esse tipo de reação não semelha aconselhável para as categorias de servidores públicos cujo inchaço numérico correspondera ao empreguismo demagógico implementado pelo lulo-petismo, ao longo de oito anos. A sensação de partilha do poder que se infundiu a muitas dessas levas teria a consequência inexorável de trazer para o serviço público o espírito sindicalista, com todos os seus efeitos não necessariamente consentâneos com as observâncias do funcionalismo de estado.  
       É uma pena que  nos alegados amistosos contatos entre a Presidenta e o seu predecessor não-imediato, i.e., Fernando Henrique Cardoso, ela não haja feito alguma pergunta sobre como FHC encaminhara a solução para um incipiente repto à sua autoridade, como foi a greve dos petroleiros. Ninguém duvida que esse ex-presidente daria uma resposta diversa à questão, do que a porventura dada por Lula da Silva. A esse respeito, semelha difícil pensar que Dilma Rousseff haja reputado de seu interesse conversar a respeito com os seus antecessores, tanto o respectivo criador, quanto aquele a que depois do longo exílio lulista tem de novo convidado aos paços presidenciais.
       A criatura terá acaso desejado frisar a respectiva autonomia e capacidade de juízo? Se foi isso realmente o que ocorreu, mostrou singular falta de sensibilidade e por que não dizer, de senso crítico e da necessidade de valer-se de opiniões de pessoas que conhecem o problema com muito maior profundidade do que a Primeira Magistrada da Nação.
        Como na velha luta entre Anteu e Hércules, aquele só poderá ser derrotado se tiver cortado o acesso às bases. Através da falha inicial, Dilma iria, sem dar-se conta, ensejar o alastramento da greve e a respectiva radicalização, com a descida na arena de outras categorias de serviços estatais.
      De repente, a sociedade se depara com um filme que os seus maiores já conhecem, mas que há muito não costumava aparecer com tal virulência.
     Os movimentos grevistas descambaram para uma atmosfera que tem colocado em xeque a autoridade da Presidente da República. Isto é grave e é também inadmissível.
     Tais paros selvagens levantam questões bastante delicadas e desmoralizantes. A ineficácia do Congresso Nacional e a falta de regulamentação dos dispositivos constitucionais é, nestas ocasiões, exposta com uma dupla crueldade. Primeiro, a mais importante, vale dizer a desídia de Senado e Câmara de cumprir o mandamento constitucional – e isto por décadas a fio – e não regulamentar a atividade de categorias indispensáveis para a defesa da ordem e da saúde públicas.
     Os motins dos bombeiros de meses passados porventura não desnudaram essa escandalosa situação que pode ser hoje replicada em posturas de insubordinação de categorias cuja obediência à hierarquia constitui pressuposto de sua atividade ?
     Há no Brasil um afrouxamento do respeito à lei. Como interpretar de outra forma as chamadas operações-padrão que, na verdade, são uma caricatura das disposições legais, e a fortiori empregadas nesse arremedo sobre os cidadãos, que são aí utilizados como um grupo de vítimas propiciatórias, de forma a extorquir das autoridades à custa da cidadania o atendimento de pleitos que nada têm a ver com as procrusteanas exigências de funcionários em greve branca ?
    Mais grave ainda nesta escala – que outrem diria ter horror em referir – é a criminosa retenção de medicamentos (chegando ao absurdo de inviabilizar tratamentos quimio-terápicos de que literalmente depende a sobrevivência do paciente) que, a par de eticamente censurável e de manifesta ilegalidade, só serve para patentear a baderna prevalente.
     Se este não é o primeiro artigo que escrevo sobre Dilma Rousseff e a autoridade, tampouco aqui será   decerto o caso de repeti-los. O desafio agora vem curvado não pelos anos, mas pela sua irradiação e caráter inaudito. Não adianta mais fingir que o agourento personagem não bate à sua porta. Há evidente urgência  na necessidade de arrostar o problema e solucioná-lo. Senão Sua Excelência corre o risco que, nos antigos mitos, se apresentava àqueles que não logravam deslindar o enigma, ora proposto por estranha e bem moderna esfinge.

 

sábado, 25 de agosto de 2012

Angela Merkel e o Problema grego


                               
        A Grécia volta ao centro das atenções europeias, eis que à sua salvação ou não está estreitamente ligada a questão do euro, e a própria viabilidade da Europa não como mero conceito geográfico, mas como entidade geo-econômica, política e financeira fadada a  presença estável e duradoura no concerto mundial do século XXI.     
       A República Helênica entrou na zona do Euro através de uma série de expedientes contábeis, mediante não só a condescendência das agências classificadoras de risco, mas também da mor parte dos parceiros europeus, quanto à verdadeira situação de sua dívida orçamentária, que a deixaria de fora do clube do euro se a nudez da respectiva economia fosse avaliada com a devida seriedade.
       De uma certa forma, a Grécia é o filho pródigo, cuja volta, festejada pelo pai, desperta o compreensível ciúme dos demais filhos que, ao invés de cair na esbórnia, trabalharam duro na terra paterna, enquanto o outro se dedicava a gozar a vida.
       Daí o problema enfrentado pela Chanceler Angela Merkel. Mais uma vez um Primeiro Ministro grego bate à sua porta encarecendo-lhe um tratamento especial. A questão se complica, no entanto, por um nó gordio, que não pode ser cortado com a ligeireza da espada de Alexandre.
       Tais privilégios já foram pedidos – e concedidos – pelos antecessores de Antonis Samaras, a começar por Giorgos Papandreou. A motivação para a salvação da pequena economia helênica, cuja descomunal dívida pesa sempre como argumento supostamente irrespondível, está diretamente ligada ao interesse geral europeu, por alegadamente acionar um mecanismo infernal de descalabro, que justificaria o excepcionalismo da medicação.
      Samaras bate à porta da Chanceler, porque não desconhece a condição da Alemanha como a prima inter pares da economia europeia. E Angela Merkel, com sua nórdica dureza, semelha simpatizar com a causa do Primeiro Ministro helênico.
      Ela não ignora que a face do governo grego passou pelo exame das urnas.  Samaras, um conservador independente, lograra convencer um eleitorado revoltado com a circunstância de pagar o pato pela irresponsabilidade de líderes tanto da direita e esquerda ditas moderadas, a negar ao Syriza de Tsipras a opção do calote.
      Merkel sabe igualmente que não é a primeira vez que a Grécia pede facilidades e prazos mais extensos para o ajuste da respectiva economia.
      Se Samaras é maneiroso e insistente, a Chanceler não ignora  que o Bürger alemão encara com crescente má vontade a circunstância de que, pelo respeito à ortodoxia e à boa gestão, se descubra a Alemanha sempre na obrigação de contribuir mais para minorar as agruras do filho pródigo grego. Se a dívida é uma constante da economia europeia – e Berlim também carrega a sua, posto que ainda manejável – os parceiros com boas notas na economia (Finlândia, Aústria e Holanda) tampouco estão felizes em cotizar-se para arcar com sacrifícios impostos por países maiores como a Espanha e a Itália.
       Angela Merkel enfrentará no ano próximo eleições gerais. Nos últimos comícios para os Laender, as regiões que formam a Alemanha, a CDU, o partido da Chanceler, colecionou derrotas. Muitas dessas se devem à insatisfação da opinião com a situação econômica. Por outro lado, o aliado fiel francês – Nicolas Sarkozy – foi tragado pelo último pleito, surgindo o rosto novo de François Hollande. Para eleger-se, ele prometeu muitas bondades ao eleitor gaulês. Por enquanto, o socialista tem pautado os seus primeiros meses no atendimento de tais vantagens.
        O relacionamento, a princípio difícil, com a Chanceler tem contornado os escolhos e as dificuldades, e a diarquia anterior acena reaparecer, quando Hollande parece haver-se entendido com Angela Merkel na questão da dívida helênica, e de como encetar política consentânea com o desafio.
        Merkel não ignora que as facilidades concedidas a Atenas terão de passar por Frankfurt – sede do Banco Central Europeu – e precipuamente por Berlim. As negociações com o Premier Antonis Samaras são realizadas pela Chanceler com a plena consciência de que o cidadão alemão, o mal-humorado Bürger, não vê com muita alegria que a Alemanha seja sempre chamada a dispender pela prodigalidade alheia.
        Sem embargo, a alegria do pai pelo regresso do Filho pródigo, se onera em termos de festins, igualmente constitui aquele dispêndio desagradável mas inevitável, se se deseja preservar uma construção na qual o povo alemão – e o século XX está aí para explicá-lo – investiu talvez de forma mais do que proporcional do que outros Estados do Velho Continente.
        Como o velho óleo de rícino, a poção é amarga, mas promete a desejada saúde. Será que a Merkel logrará convencer o próprio povo soberano que, em fim de contas, a opção não existe, e é melhor remendar a maquinaria do que abandoná-la.
 

 

( Fonte: International Herald Tribune )      

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O Bem em Retirada ?


                                 
Julgamento do Mensalão. Voto do Revisor Lewandowski

 
       Não há muito o que dizer do voto do ministro Ricardo Lewandowski. As suspeitas levantadas pela demora na elaboração do relatório  do revisor no processo do mensalão se vêem corroboradas pela sua intervenção de ontem. Com efeito, nas palavras do colunista Merval Pereira, “o voto de ontem confirma as piores expectativas com relação ao trabalho do revisor do processo”.
       Na realidade, mesmo limitando seu voto aos réus acusados de “desvio do dinheiro público”, que é o ítem inicial do relatório do Ministro Joaquim Barbosa, o revisor adota esquema próprio de separar os fatos, como se estes não tivessem conexão entre si.
      Evidenciando desconforto, o revisor, como se assinala na coluna de Merval Pereira, se se reporta à ‘realidade dos autos’, fecha os olhos a fatos que contradizem sua tese. Nesse contexto, continua igualmente tentando alongar os tempos do processo, ganhando tempo para afastar já a princípios de setembro um dos juízes havidos como de posição favorável a condenação dos réus.
      Basta assinalar com o colunista que ‘Lewandowski passou por cima de detalhes cruciais’ (v.g., os saques no Banco Rural eram escamoteados pela agência SMP&B como ‘pagamento de fornecedores). No mesmo sentido, ‘a primeira reaç            ão (do então  Presidente da Câmara de Deputados, João Paulo) Cunha foi mentir quanto à ida de sua mulher ao banco, alegando que fora pagar  uma fatura de  TV a cabo. Sabia , portanto, da origem ilegal do dinheiro.’
     Ainda a tal propósito, a opinião de Ricardo Noblat de que Lewandowski decidiu funcionar como ‘relator do B’ contribui para a tese precedente. Ao ouvir que o Relator Barbosa pretende fazer comentários ao seu voto, tenta exigir do Presidente Ayres Brito tempo para a ‘tréplica’. Como se desfrutasse dos mesmos direitos do relator Joaquim Barbosa. Está claro no regimento do tribunal – como sublinha Noblat – que, como revisor do processo, ele não tem os mesmos direitos do juiz relator.
     Compondo o quadro a foto estampada em O Globo com o círculo dos eufóricos defensores – a esquerda o sorridente Márcio Thomaz Bastos – com a ilustrativa legenda: ‘Advogados de réus do mensalão riem durante pausa da sessão do Supremo, em que o Ministro Ricardo Lewandowski votou pela absolvição do deputado João Paulo Cunha’.

 
A  Invasão  no  Jardim  Botânico  é  pra valer   

 
     A despeito de terem se instalado ilegalmente em área própria do bicentenário Jardim Botânico, tudo indica que as casas aí construídas ficarão. Como noticia O Globo, em nota de primeira página, Liszt Vieira, ex-deputado do PT, perdeu a parada contra os invasores da área.
     Por isso, Liszt deixa presidência do Jardim Botânico.
     É isso aí. Mais uma vez, a causa do bem (público) perde no embate com outras forças, como a dos invasores da área, que dispunham do estranho apoio do Governo Federal, e do lobby imobiliário do deputado Edson Santos (cuja família mora lá).

 
Continua a baderna das multigreves.

 
    Pelo visto a autoridade do Governo Dilma não tem a persuasão necessária para convencer os múltiplos grevistas em voltar às suas atividades. A forma errática de lidar com a greve – primeiro, deixada a cargo de autoridades de segundo escalão, com o ponto preservado; e segundo, mais tarde, diante do alastramento do movimento e do clima de desrespeito da autoridade presidencial, com o corte do ponto, o redespertar tardio do Palácio do Planalto – tem levado, pelo seu absurdo prolongamento (inclusive em áreas da saúde, de interesse prioritário da Nação) ao desabastecimento de medicamentos e insumos indispensáveis para atender a casos graves, como câncer, diabetes, e um vastíssimo etc.
     O tratamento desta greve deveria ser incluído na cartilha de futuros candidatos à Primeira Magistratura da Nação. Ali entraria com todo o realce indispensável de como não proceder se o(a) Presidente da República deseja utilizar a sua autoridade constitucional com vistas a proteger tanto o Estado de direito, quanto a sua inalienável prerrogativa de velar pela ordem e saúde pública do Povo Brasileiro.

 

(Fonte:  O Globo, Folha de S.Paulo)            

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Dois Temas do Interesse de Obama


                                       
        Turbado com a súbita introdução na campanha da questão do aborto, Mitt Romney vê, com presumível irritação, que a gafe cometida pelo republicano Todd Akin de novo levanta a poeira em torno de uma polêmica, que os democratas julgam resolvida desde 1973, com a célebre sentença da Suprema Corte Roe v. Wade, que,  fundada no direito à intimidade da mulher, descriminalizou o aborto. Ora, com a ascendência da corrente evangélica no GOP, e a ajuda da atual maioria  conservadora no Supremo, os republicanos  se esforçam em, através de táticas salame, preparar progressivamente, através de série de juízos que cerceiam a liberdade feminina neste campo, e destarte criar as condições para o sonhado (por eles) – e impensável para a sociedade democrática  statu quo ante, reinstituindo a proibição do aborto. Vale dizer, a radicalização conservadora desembocaria em uma situação anterior a 1973, o que é vivamente repelido pela opinião pública na sua vertente liberal e, em especial, por grande parte das mulheres.
         O interesse de Mitt é levar o debate da campanha para a questão da economia, na qual o incumbent (presidente em exercício) se acharia em desvantagem. Às vésperas da Convenção de Tampa Mitt deseja arrumar a vitrina do Grand Old Party sem ninguém por perto que porventura venha a perturbar a mítica visão da unidade partidária. Não aproveita ao virtual candidato republicano que na sua plataforma esteja o tópico divisor do aborto, conforme proposto – com teses ofensivas a inteligência de pessoas normais – pelo deputado Todd Akin, que já teve os seus quinze minutos de notoriedade mundial, mas que teima em não atender ao recado de Romney em renunciar à candidatura ao Senado pelo Missouri, no que é atualmente mais outra disputa acirrada, com concorrente democrata.
         Não colabora decerto para a imagem de líder de Mitt Romney que o quase desconhecido Todd Akin, depois de ressuscitar a inoportuna polêmica sobre o aborto, venha a ignorar-lhe a determinação de renunciar à respectiva campanha para o Senado.
        Nesse contexto, o vice da chapa republicana, Paul Ryan - católico observante das disposições da hierarquia episcopal – tampouco ajuda deveras, por relembrar uma meta do GOP (na plataforma, por exigência das correntes da direita partidária) que Mitt desejaria fosse mantida em surdina, para não afastar possíveis adesões na ala feminina.
        A discussão suscitada pela inclusão de Ryan – com a sua proposta de orçamento que ataca as conquistas do Medicare e do Medicaid – já dera algum desconforto ao ex-governador de Massachusetts, eis que levanta visões pouco alentadoras tipo Robin Hood ao revés (tira dos pobres para dar aos ricos), e que não acrescenta ao propósito da candidato de somar votos, e não de afugentá-los.
       Por outro lado, no campo de alavancar a economia – inviabilizado no presente por uma negativa da liderança republicana sobretudo na Camara de Representantes, onde eles detêm a maioria, e que recorda o negativismo do GOP nos tempos da campanha de  Truman, como underdog (literalmente, o cachorro por baixo, i.e., o candidato desfavorecido pelas pesquisas) que lhe valeu uma incrível vitória contra Thomas Dewey, o candidato republicano a presidente em 1948 – o Federal Reserve Bank semelha agora disposto a injetar mais fundos em uma economia que careceria de ser reativada, para tender a dar maiores possibilidades de criação de emprego, e consequente redução da alta taxa de desemprego.
      Depois de uma sinalização precedente de Ben Bernamke com vistas a manter o Fed de fora de um intento de colocar mais fundos na economia, estudos posteriores teriam convencido a liderança do Fed a mudar a respectiva orientação, com políticas tendentes à infusão de mais recursos no mercado, com vistas a redespertar-lhe as forças no sentido de criar melhores condições para sacudir  a economia estadunidense do seu atual letargo. Se tal política tiver êxito, com a sinalização de uma possível saída em futuro próximo da presente  grande recessão, seriam óbvias as repercussões favoráveis ao atual gestor da atribulada economia de tio Sam, no caso Barack H. Obama.

 

 
( Fontes subsidiárias: O Globo,  International Herald Tribune )        

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Guerra Civil Síria: últimos desenvolvimentos


 
         O conflito na Síria – que já se estende a todo o país – repercute também em países limítrofes. No norte do Líbano, em Trípoli, acirra embates entre segmentos da população, com lutas entre clãs sunitas e xiitas. Tais choques, em que se registraram quatro mortes e sessenta feridos, são a projeção dos combates na terra de Bashar al-Assad, contrapondo a tendência majoritária no Islã (o ramo sunita) e a dissidência xiita (a que se relaciona a heteróclita seita alauíta,  professada pela família reinante dos al-Assad).
         Não surpreende que a revolução na Síria tenha efeitos sobre os países vizinhos menores, como o Líbano e a Jordânia, ambos de resto fundados em governos com alianças precárias. Com efeito, no país antes cognominado como a Suiça do Levante, em que a etnia cristã-maronita predominava, hoje avulta o movimento xiita Hezbollah (apoiado pelo Irã e havido por terrorista no Ocidente), do clérigo Hassan Nasrallah,; e o reino Hashemita não mais exibe a estabilidade dos tempos do rei Hussein, com Abdullah II a lidar com desencantados beduínos (antes apoio da dinastia) e a crescente presença palestina.
        Sem embargo, tal irradiação  potencialmente desestabilizante igualmente afetaria a Turquia. Se o governo do primeiro ministro Recip Erdogan cortou há muito seus laços com o regime alauíta, além de a Turquia sofrer o considerável influxo de refugiados da conflagração na Síria, com profusão de acampamentos sírios, há um outro aspecto nas relações entre Âncara e Damasco que se deteriora.
       A minoria curda constitui a principal questão não-resolvida pela maioria turca.
       Por décadas, a comunidade curda – com as suas outras minorias no Iraque, Irã e Síria – se debate em territórios sob domínio de outrem, na longínqua consequência da oportunidade perdida de formar uma entidade política sob controle desse grande segmento nacional ignorado pela paz pós primeira-guerra mundial.
       Não é aqui o lugar para examinar a fundo a questão curda, mas sim o seu reflexo sobre a inter-relação da Turquia com a guerra civil síria. O conflito provocou a participação de comunidades curdas – igualmente afetadas pela situação, e que apoiam os rebeldes. A ‘ameaça’ curda tende a ser hipertrofiada por Âncara, dado o tipo de solução que o presente regime turco vem adotando no que tange ao próprio relacionamento com a grande minoria curda que está localizada na Anatólia. É sem dúvida  ironia da  história que os turcos – os quais expulsaram os gregos, milenares habitantes daquela enorme região, o que fora selado pela queda de Constantinopla em 29 de maio de 1453, e reconfirmado pela derrota infligida por Mustafá Kemal ao exército helênico em agosto de 1922 – atualmente temam ter de aí repartir a sua residência com os curdos. Essa comunidade, de resto, está  condenada a ser minoria em vários países, por ter ficado de fora da redistribuição territorial ensejada pela Paz dos tratados de 1918, considerada pela obra de David Fromkin ‘Uma Paz para Acabar com toda paz’[1] ( A Peace to end all Peace).
       Por fim, visita do vice-Primeiro Ministro Sírio, Quadri Jamil, a Moscou, deu oportunidade a duas repercussões contrastantes. Esse funcionário de média importância qualificou como ‘ameaças propagandísticas’ a declaração do Presidente Barack Obama (em resposta a jornalista na Sala de imprensa da Casa Branca, no que poderia ser pergunta ‘plantada’ pela Administração) de que o eventual uso de armas químicas pelo regime alauíta constituía uma linha vermelha cuja transposição acarretaria a reação estadunidense.
       No entanto, a sua passagem pelo Kremlin – e recepção pelo chanceler Sergei Lavrov – igualmente teria dado lugar a assertiva que foi colhida pela mídia francesa como indicativa da posição precária de Bashar al-Assad. De acordo com esse conduto, a autoridade secundária síria não teria descartado a possibilidade de que Bashar se demita, sendo substituído por outro elemento do poder atual naquele país.
       Até o momento, no entanto, essa implicação não foi objeto de consideração pelo Ocidente. Não se afigura, todavia, algo que deva ser totalmente ignorado, pela própria circunstância de um funcionário de hierarquia média de Damasco se julgue em condições de candidamente admiti-lo.

      

 
( Fonte subsidiária:  O Globo )    



[1] O norte do Iraque constitui, na prática, o reduto do estado curdo. No entanto, a sua limitação em extensão territorial, dificulta a plena implantação de uma ‘solução’ abrangente para o que se convencionou chamar o ‘problema curdo’, i.e., a falta de um território para abrigar essa importante  etnia.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Notícias direto do Front


                                

Mensalão: segunda fatia do Relator

       O relator do processo do Mensalão, Joaquim Barbosa, afirmou ontem, 20 de agosto, em sua ‘segunda fatia’ de voto, que o esquema foi alimentado pelo desvio de dinheiro público.
       Com base em laudos e auditorias do Tribunal de Contas da União, disse o relator que a DNA, agência do lobista Marcos Valério, se apropriou de R$ 2,9 milhões do Banco do Brasil.
      Nesse primeiro desvio, a DNA ficou com tais bonificações – que deveriam ter sido restituídas ao Banco do Brasil – no valor acima citado.
      Na segunda modalidade de desvio de recursos públicos, consoante o relator, Henrique Pizzolato, então diretor de Marketing do Banco do Brasil, ordenou o pagamento antecipado de R$ 74 milhões do Fundo Visanet à DNA em quatro operações financeiras, realizada entre maio e junho de 2004. Em troca, o ex-dirigente do BB recebeu  R$ 326,6 mil.
       No entender de Barbosa, o dinheiro era público e não privado, como alega a defesa. Com efeito, o BB detinha 32,3% das ações do Visanet e tinha total liberdade para escolher o que fazer com a sua parte do Fundo. Tais recursos, ainda segundo o relator, acabaram sendo usados para pagar políticos indicados pelo então tesoureiro do PT, Delúbio Soares.
       Conclui o relator neste bloco pela condenação de Pizzolato, por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro; Marcos Valério , e seus dois sócios, Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, os três por corrupção ativa e peculato.



Vicissitudes da Candidatura Serra   


      Em nova pesquisa da Datafolha, Celso Russomano (PRB) passa à frente de José Serra (PSDB). Por primeira vez, assume a vantagem numérica – existe ainda empate estatísco  - com 31% dos votos, contra 27% dados a Serra. A taxa de rejeição a Serra continua a subir: de 32% em junho passa a 38% em agosto.
     Decerto boa parte do problema do ex-candidato à presidência da república, está nesta desconfiança do eleitorado quanto ao comprometimento de Serra com o cargo ora pleiteado.
      Por sua vez, Fernando Haddad (PT) registrou aumento de um ponto, passando a 8%, enquanto os nanicos Chalita (PMDB), Soninha (PPS) e Paulinho (PDT) assinalaram, respectivamente  6%, 5% e 4%, sem variações de monta.


A Situação de Bashar al-Assad

      A situação do ditador Bashar al-Assad teve a sua crescente precariedade acentuada por uma formalidade pública e por declaração do Presidente Obama.
   Por ocasião dos festejos pelo encerramento do mês sagrado de penitência, o Ramadã, o feriado do Id al-Fitr, Bashar compareceu a uma cerimônia pública. Como desde o atentado de dezoito de julho – em que morreram o Ministro da Defesa e três outros altos funcionários do regime – o presidente sirio não aparecia em público, a sua presença na mesquita Rihab al-Hamad indicaria a retomada da normalidade.
      Observou-se, no entanto, que por óbvias considerações de segurança Bashar evitou comparecer na tradicional mesquita Umayyad, como é sua usança. Esta por ser bem maior, ofereceria menores possibilidades de controle por parte dos serviços especializados.
      Por outro lado, diversas autoridades importantes faltavam no entorno presidencial.  Tal se deveria, ou à preocupações de segurança, ou a outras motivações.  No caso de seu irmão Maher-al Assad, o comandante da principal divisão síria, tal seria atribuído a uma doença. Faltaram igualmente à cerimônia na mesquita, entre outros, o vice-presidente Faruk al-Sharaa e Abdullah al-Ahmar, secretário-geral assistente do partido Baath (a ideologia oficial do regime alauíta).
      Nesse contexto, as interpretações possíveis entram na área daquelas de décadas passadas, quanto às aparições da liderança soviética no monumento da Praça Vermelha, ao ensejo das paradas do então regime. A ordem das autoridades, ao lado do Secretário-Geral do PCUS, costumava ser examinada com lupa pelos ditos kremlinologistas.
      Ainda no que tange ao destino do atual governo sírio, a posição dos Estados Unidos registra modificação de relevo. Com efeito, há um claro endurecimento político de parte da Casa Branca. A declaração oficial do Presidente Barack Obama de que o eventual uso de armas químicas pelo regime de Bashar é uma ‘linha vermelha’e que os Estados Unidos têm planos de contingência para o caso de ela ser cruzada, representa inequívoca advertência à Síria.
      Por primeira vez, uma ação militar fica subentendida. No entanto, é difícil por ora precisar o seu eventual alcance. De certa forma, a declaração tem por referência não só o contexto sírio, mas também as críticas, no quadro da campanha presidencial, da ala mais à direita do estamento político americano, por supostamente não intervir no conflito daquele país. Dados os precedentes anteriores, a prudência exercida até o presente não deve ser motivo de censura.



( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo, International Herald Tribune )

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Rescaldo do Fim de semana


                                   
O asilo de Assange

      Em geral, o personagem central de asilo diplomático – no caso, o candidato a asilo na embaixada – costuma estar envolto nos sete véus da discrição. De início, a entrada do suposto perseguido na missão diplomática, e em seguida, na sua eventual permanência na embaixada – na hipótese menos comum de que a despeito de sua condição reconhecida pelo governo que concede o asilo, o governo do país junto ao qual está acreditada a missão se recuse a dar-lhe o salvo-conduto – não é habitual que o asilado apareça e muito menos que faça discursos.
     O leitor, lembrando-se talvez do ‘asilo’ supostamente concedido pela embaixada do Brasil em Honduras a Manuel Zelaya. Ponderar que essa reserva diplomática desaparecera com aquele estranho asilo, dado o comportamento do asilado em relação ao entorno político hondurenho, pode qualificar o comentário no que tange aos dez minutos de pública notoriedade de Julian Assange.
     Tomando a Administração Obama como o verdadeiro poder que, em fim de contas, explicaria o seu asilo na missão do Equador junto ao governo britânico, Assange atacou Washington e seus diversos processos judiciais contra os que teriam vazado documentos confidenciais. Nas suas palavras, ‘se Wikileaks está sob ameaça, o está igualmente a liberdade e a sanidade de todas as nossas sociedades (políticas)’.
     A aparição de Assange, sem embargo, pode ser vista como um elogio, posto que involuntário, de radical democracia. Em quantos países (dentre o submundo que condiciona os pedidos de asilo) uma cena como aquela, com os policiais que ali estão supostamente para prendê-lo ou para evitar-lhe a fuga, poderia ser visualizada ?



Eleição em  São Paulo

      Será que Celso Russomano, apoiado enquanto profissional da mídia, logrará transpor a barreira para o segundo turno, como as presentes prévias indicam ?
      Ou prevalecerá o desfecho habitual, entre PSDB (José Serra) e PT (Fernando Haddad), como aventa o pessoal do ramo ?
      Estamos acaso diante de uma luta de sombras, à moda javanesa[1], entre o tríduo Russomano (opção evangélica e assistencialista),  José Serra (o peso das interrupções anteriores) e Haddad (o vetor de indicações de forças superiores, a despeito de prática inferior no ramo eleitoral) ?
      Por coerência, Dilma Rousseff não deveria acaso prestigiar já a partir do primeiro turno o candidato de Lula da Silva ?



Eleição no Rio de Janeiro  

     Será que desta feita o muy amigo Sérgio Cabral não irá precisar inventar o salvador ponto facultativo para Eduardo Paes ?
     Marcelo Freixo é, por ora, um longínquo segundo, e em terceiro está Rodrigo Maia,  em aliança com Clarissa Garotinho.
     Freixo é o pré-candidato das esperanças que quase elegeram Fernando Gabeira há quatro anos atrás. Com o seu curriculum-vitae, e malgrado as dificuldades de furar o bloqueio da mídia, no contexto das alegadas vantagens institucionais do candidato à reeleição, terá ele condições de provocar não só o segundo turno, mas também as de vencer, como esteve ao alcance de Gabeira nos comícios anteriores de 2008 ?



( Fontes subsidiárias :International Herald Tribune, Folha de S.Paulo, O Globo )



[1] O teatro de sombras é expressão cultural da ilha de Java, no Indonésia.