No caso do Plano de Paz para a Síria, o próprio Annan teve de reconhecer seu fracasso na tribuna da Assembleia Geral. Por imposição russa não se toca na figura do ditador.
O imobilismo de Putin impede que se remova a causa principal da virtual guerra civil a alastrar-se pelo território sírio. Ao inviabilizar qualquer recurso com o aval supranacional do Conselho de Segurança pode estender a vida de um regime por um tempo imprecisado. No entanto, o autocrata do Kremlin se engana quanto a sua capacidade taumatúrgica de manter o amigo Bashar no poder.
Se as mortes aumentam – o macabro marco das dez mil vítimas desde muito foi ultrapassado – o aferrar-se a uma estrutura de que os indícios de colapso avultam, pode ao cabo deixar Moscou sem a base naval em Taurus.
Por outro lado, o bombardeio que atinge Damasco, a explosão de uma tevê pró-regime e a notícia, ainda não confirmada, de que os rebeldes aprisionaram dois generais, traz um odor de derrocada, ou de princípio do fim.
A extrema rigidez de gospodin Vladimir Putin ameaça fazê-lo engolir solucão bastante mais amarga, do que há algumas semanas atrás.
Assombra, por outro lado, que o experiente Kofi Annan continue a associar o seu nome a textos vagos, que não afrontam o problema. A essa altura do enfrentamento, soa falsa a declaração do ex-secretário-geral das Nações Unidas de que o conflito deva ser resolvido através da negociação pacífica.
Com a exacerbação das mortes – 93 civis mortos no dia anterior – é de perguntar-se para quem Kofi Annan se está dirigindo.
Mercosul: O que
é feito da diplomacia brasileira ?
A premissa básica para que tal missão haja sido cumprida a inteiro contento reside precipuamente no entendimento de pacta sunt servanda (os tratados devem ser cumpridos), a par de profissionalismo baseado no conhecimento do mister e, last but not least, o Itamaraty trata de assuntos de Estado, e não da promoção de projetos politico-partidários.
Essa característica central de nossa diplomacia, pelo mérito e a competência, na defesa dos interesses nacionais sempre mereceu a aprovação da sociedade civil, e o respeito dos países com quem mantemos relações, a começar pelos nossos vizinhos sul-americanos. Essa tradição itamaratiana foi instrumental para que a Casa de Rio Branco tivesse a missão facilitada pelo reconhecimento de seus títulos como defensora do interesse nacional, que está colocado acima das conveniências e das vaidades partidárias.
Não é o que deparamos hoje na leitura dos jornais. A propósito da crise – porque de crise se trata - o editorial de O Globo deste domingo se refere à “Trajetória decadente do Itamaraty”. Por outro lado, o jornalista Elio Gaspari, na Folha de S. Paulo também de domingo, sob o título “Dilma deveria pedir uma aula a FHC”, se reporta a episódio em que a discreta intervenção diplomática brasileira pôde resolver uma questão paraguaia que se mal conduzida poderia criar situação contrária ao interesse nacional brasileiro.
Não é incomum encontrar em pessoas com superficiais conhecimentos de diplomacia a impressão de que a competência do Ministério das Relações Exteriores seria, na verdade, sobre assuntos de fácil solução. Não é o que ensinam nosso patrono, o Barão do Rio Branco, nem os diplomatas da diplomacia do Império, para não falar da personalidade de Alexandre de Gusmão, o secretário de D. João V, e o cérebro do Tratado de Madrid, que riscou as fronteiras do Brasil moderno. Como paulista de Santos, ele é com justiça reconhecido como o Precursor da diplomacia brasileira.
É importante ouvir e seguir o conselho dos profissionais no ofício. A única autoridade no capítulo será o estudo dos antecedentes e as implicações da eventual questão para o interesse do Estado brasileiro. Atuar de forma autoritária e tumultuada tão só agrava o problema, além de correr o risco de agir a reboque de outrem. Nosso Norte deve ser sempre o interesse do Estado brasileiro.Se o atendermos estaremos bem, porque estaremos construindo ou respeitando formas duráveis em nossas relações.
Não vamos descambar para a diplomacia de afogadilho. Os aplausos para o Itamaraty não são gratuitos. E nunca se viu um chefe de Estado brasileiro reclamar por ter às suas ordens um organismo preparado para defender os nossos interesses.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
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