A foto nos jornais não reflete o problema que confronta Dilma Rousseff. Vemo-la diante de uma porta famosa, a saber, o número dez de Downing Street.
Ali está a sede do governo de Sua Majestade. Como o regime é parlamentarista, a pompa – mas não o poder – fica em outro endereço. Atrás da aldrava e da negra, singela entrada está a sede do Primeiro Ministro, que para os incautos pode parecer uma residência como outra qualquer.
Ledo engano ! Se o Reino Unido não é mais império onde o sol nunca se punha, e hoje chega a ter o PIB superado por um país do hemisfério sul, tampouco é o caso de desfazer da importância dessa terra de tantas tradições. No presente, a velha Albion volta a ser sede dos Jogos Olímpicos.
Será nesse estribo que se fundamenta a foto difundida pelas agências de notícia. À esquerda, o atarefado conservador David Cameron, o distante sucessor de Winston Churchill, que encabeça gabinete de coalizão com os liberais – uma reaparição do passado que não surpreenderia ao grande líder da IIa Guerra Mundial; à direita, a figura um pouco desajeitada da sucessora de Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma ainda não exibe a naturalidade que caracterizava o carismático homem político Lula da Silva. Ressente a falta de experiência e, quem sabe, o pendor do ofício, que o antecessor trazia consigo, fosse na companhia da Rainha Elizabeth, ou na do então ocupante da Casa Branca, Bush júnior.
Neste delicado mister, nem tudo se pode aprender.
Em casa, a esperam pepinos que, a dizer verdade, não são de sua criação, posto que hoje constituam responsabilidade sua.
Dentre as heranças de Lula, está o enorme aumento nos gastos correntes da União. Isto não aconteceu por acaso. Nosso Guia tinha muitos planos de consolidar a presença do PT no aparelho do Estado. Viu na inchação do funcionalismo oportunidade de ouro para aparelhar o Partido dos Trabalhadores no seio da Viúva.
Abriu concursos às mancheias, a par de inchar o ministério a dimensões absurdas, a ponto de representar dificuldade cênica a realização de reuniões do gabinete. Cada pasta, por mais insignificante que seja, tem sede de funções gratificadas. E aí se insere a estória da profusão de secretários-gerais, secretários executivos, chefes de departamento, os sólitos DAS, e por aí afora, na farra do aparelhamento petista às custas do Estado.
Desafortunadamente, o fenômeno – que será indubitavelmente folclórico e subdesenvolvido – tem outras implicações, a principal delas a engorda nos gastos correntes. Esses dispêndios avultam e ter a indesejável característica de não serem flexíveis, nem produtivos como inversões em infraestrutura e o mais que imaginar-se possa nesta terra de Pindorama.
É verdade que a terra de Santa Cruz já nascera sob o signo do empreguismo. O seu primeiro cronista – Pero Vaz de Caminha – não se pejou em inserir na celebérrima carta um pedido de emprego a Sua Majestade, D. Manuel, dito o Venturoso.
Agora todo esse afluxo inventado por Lula da Silva, apesar de bem remunerado pelos cofres estatais, estende a mão a exigir aumentos nos respectivos salários. Em padrões de funcionalismo, todos ganham bem, com a exceção dos professores. Mas como assinalou um dirigente trabalhista da terra de Tio Sam, o que caracteriza a pretensão de seus associados se poderia resumir em uma só palavra: more (mais).
Dessarte, ao aumentar o contingente de funcionários públicos, concursados ou não, nos quadros das múltiplas diretorias das repartições, terá agora de lidar com o peso suplementar de uma artificial engorda. Por ser decorrência menos de necessidades funcionais, do que de astuto projeto partidário de repassar à União o custeio do aparelhamento tendente em aumentar a presença do PT no Estado, por peculiar ironia o governo de Dilma Rousseff se descobre assediado por onda de grevista, partida em boa parte de funcionalismo cujas dimensões são de responsabilidade do estado-maior petista.
E agora José ?
(Fonte subsidiária: Folha de S.Paulo)
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