A novela do ‘trem bala’ entre Rio e São Paulo parece triste
contraponto a uma nação que construíu Brasília, em menos de cinco anos, no
cerrado do Planalto Central, a princípio de cousa nenhuma.
A irresponsabilidade semelha ora presidir as
obras públicas, com a generalização do atraso (vide estádios para a Copa), ou a
inércia nos terminais de aeroportos (vide Galeão). Como assinala Elio Gaspari, nesse reino da incapacidade e do ‘malfeito’, há outra proliferante espécie, que é o projeto lorota.
O jornalista assinala com muita pertinência que no dia em que a Polícia Federal prendeu José Francisco das Neves, ex-presidente da Valec, o governo anunciou a retomada do projeto do trem-bala.
Enquanto fora comissário das ferrovias públicas (de 2003 a 2011), o Dr. Juquinha anunciara que o projeto executivo estava pronto, a Obra – sem qualquer ônus para a União! – custaria nove bilhões de dólares, e que o trem rodaria antes da Copa de 2014.
Entusiasmados, dona Dilma – então incluíu maternalmente a ‘obra’ no PAC e o presidente Lula da Silva a fez anexar no Programa Nacional de Desestatização. No mesmo embalo ficcional o trem seria licitado em 2008.
Ainda bem que ora existe Tribunal de Contas para fazer cair na real uma administração que nem diferencia programação de publicidade.
Se é sintomático do compromisso ético dos governos Lula e Rousseff que o Dr. Juquinha só tenha sido afastado das ferrovias públicas em 2011, a sua passagem pela cadeia foi por enquanto breve, tendo presente o substancial aumento do respectivo patrimônio (conforme Gaspari o Ministério Público confiscou-lhe quinze imóveis, parte de fortuna de R$ 60 milhões – em 1998 Neves declarara patrimônio de R$ 560 mil).
Da Cassação de
Demóstenes Torres
Ainda pelo
voto secreto, o Senado cassou, por 56 votos a dezenove, o mandato de Demóstenes
Torres (ex-DEM-GO). Dada como a segunda cassação pelo Senado em 188 anos de
história, para a necessária precisão, vários outros senadores no passado
evitaram a provável sanção, pelo artifício da renúncia antecipada. Nesse campo,
se inserem, entre outros Joaquim Roriz e Antonio Carlos Magalhães. Que isto não
mais seja possível, se deve à Lei da Ficha Limpa, que foi de iniciativa
popular.
Por isso, Demóstenes ficará inelegível até
2027, oito anos após o término normal previsto para o respectivo mandato.A cassação pelo Senado Federal de Demóstenes Torres decorreu de dupla imposição. O escândalo de um senador a serviço de um bicheiro, e da sua máscara pregressa de Robespierre da moral (quando na verdade duplicava o personagem de Molière, Tartufo) confrontou o Senado, que, elogiado pelo presidente José Sarney, tomou a decisão desejada pela opinião pública.
Será interessante que o Presidente da Câmara, Sua Excelência o Deputado senhor Marco Maia desça do pedestal em que se acredita estar, para marcar as necessárias votações da emenda constitucional, também pela Câmara. Ao invés de recusar-se a receber delegações que postulam a urgência dessa apreciação, atente o presidente da Câmara para a mudança na posição do Senado, que responde à demada da sociedade civil brasileira.
Há muito tempo que o corporativismo alienado tem impedido processos e votações para cassação de mandato em deputados. Ou, o que é ainda pior, recusar-se a cassar infratores pegados com a boca na botija, como quase literalmente se pode declarar de Jaqueline Roriz.
É de esperar-se que Marco Maia se dissocie da posição de um conterrâneo seu, que afirmara lixar-se da opinião pública.
( Fontes: Folha
de S. Paulo, O Globo)
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