Qual o futuro do Brasil ? Seremos a grande Nação de que a mídia – a versão moderna dos profissionais do otimismo – nos fala com interesseira insistência ?
No atual revisado oba-oba, que é o longínquo legatário do ufanismo quiçá simplista do Conde de Affonso Celso e das elogiosas visões de estrangeiros como Stefan Zweig, não entrevemos o largo gesto da convicção desinteressada de outrora.
Hoje, os profissionais do patriotismo – aqueles que se enquadram na imortal correlação dada pelo Dr. Samuel Johnson[1]- ou se aninham nos altos escalões da administração, ou atuam no setor de comunicações que referi acima. Esse tipo de locutor mais parece animador de auditório. Insufla as ilusões mais descabeladas de sua audiência, aferrando-se às supostas excelsas qualidades do objeto de seus encômios, até o momento em que sente mudar o humor do público, a que tratará de prontamente associar-se.
Quanto aos altos funcionários, acreditam oportuno jamais se despojar das róseas lentes do Dr. Pangloss[2]. Se são igualmente profissionais do otimismo, a que se agarram com a ênfase dos afogados, a sua dúplice motivação difere da outra postura. Assim, para eles o otimismo será tanto um álibi, a preservá-los da raiva imediata da sociedade, quanto fulgurante meta a jogar o problema para um porvir mais afastado, que só eles logram distinguir.
Na verdade, se chovem as magníficas previsões, o observador desinteressado tende a ficar perplexo com a desconexão entre o confortável quadro de uma grandeza futura – alguns chegam ao desplante de anunciá-la como já presente – e contraditória realidade, em que proliferam inquietantes fenômenos.
Estamos em ano de eleição, o que costuma, para os enxovalhados cofres do Erário, representar ocasião de destrambelhadas ‘bondades’. Noticia a imprensa que mais cinco mil e setenta vereadores serão eleitos em outubro vindouro. De nada valeram as tentativas na justiça de manter os edis em seu número presente que, em geral, são mais do que suficientes para atender as necessidades dos municípios respectivos.
A atividade que para muitos deveria ser ad honorem (como era o mister político no passado), se oferece irresponsável oportunidade de inchar ainda mais as vereanças, a que se atribuem gordas remunerações (a par da desfaçatez de mimosear os edis com carros de luxo, como se tentou na Gaiola de Ouro do Rio de Janeiro). No estado do Rio de Janeiro, tal vergonha se descobre maior do que as de outras cãmaras municipais.
Como definir o aumento dos vereadores em Friburgo e Teresópolis ? A tragédia serrana do ano passado pôs a descoberto a falta de medidas dessas corporações que, não só nada fizeram para prevenir ou minorar os efeitos da calamidade, mas também, segundo exposto pela imprensa, malbarataram em muitos casos a ajuda vinda de toda parte do Brasil.
Em comunidades parcas de recursos – e mal servidas pelos governos federal, estadual e municipal – parece o cúmulo da insensibilidade, ao invés de privilegiar obras necessárias para defender as cidades de desgraças no futuro, se cogite no desvio de minguados haveres para cevar um parasitário – em grande número de casos - corpo de edis.
Surpreenderá acaso que Câmara e Senado se prestem a tal espetáculo, e que alegremente aprovem dotações e mais dotações em que o fisiologismo – esse parente próximo do alienado corporativismo – concentre verbas cujo emprego, em um país sério, se voltaria para dar aos flagelados de mãe Natureza as obras indispensáveis para assegurar-lhes uma melhor e mais digna existência.
Por outro lado, o Congresso das quartas-feiras só semelha pensar em aumentar a respectiva remuneração. Seria interessante determinar a admiração e o respeito que a atual direção do Senado Federal - José Sarney – e da Câmara Federal – Marco Maia colhe junto à opinião pública.
Quais as notas que daria a sociedade civil a tais personalidades ? De Sarney sabemos, por cortesia de Lula, que ele não é um homem comum, o que pode deixar intrigados os constitucionalistas, mas que decerto implicou para quem interessar possa mensagem de brutal (e salvadora) franqueza.
Quanto ao deputado do PT gaúcho, talvez por ser não tão acintosamente veterano quanto o oligarca maranhense, debalde se busca colher indicações no que tange ao respectivo significado do personagem.
Em todo esse quadro, é preciso não esquecer a presença da Presidenta (como ela gosta de ser chamada) Dilma Rousseff.
Sei que a Presidenta se encarrega da faxina no seu ministério. Se ele continua congolês na sua disparatada inchação, pelo menos – com a exceção do amigo Pimentel – os demais envolvidos em malfeitos foram afastados.
Resta aos muitos remanescentes tremerem nas audiências privadas, por ser terrível a ira da Chefa. Até o momento não transpirou que a gritaria da Presidenta haja batido contra um isolado rochedo de dignidade republicana.
Enquanto disparam as suas avaliações, não seria o caso da Primeira Magistrada da Nação usar o seu prestígio para atalhar essa farra de gastos inúteis em remuneração de congressistas já gordos bastante, como paga do pífio trabalho que fazem em prol da comunidade das pessoas que têm semanas de cinco dias úteis ?
Onde está essa liderança que tanto aparece nas pesquisas, mas que ignora a incômoda manifestação de entropia a repontar por toda parte ?
( Fonte: O
Globo )
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