Ucrânia: Tiro
pelo culatra
Yanukovich, no entanto, pensou ter melhor opção. Seguindo o exemplo do camarada Putin – que, dentre outras opções, emprega uma dócil justiça contra os seus supostos desafetos (V. Michail Khodorkovsky, que teve recentemente prorrogada a sua pena até 2017) – o presidente da Ucrânia enveredou por uma série de ações judiciais (duplamente suspeitas, porque adrede reexumadas) contra a sua adversária política, Yulia Timoshenko.
Com o seu controle de juízes e promotores, já preparava uma nova condenação, segundo o modelo de gospodin Putin, quando a clara motivação política, somada à manifesta instrumentalização judicial, veio pregar ao sôfrego e arbitrário Yanukovich inesperada peça.
O atual governo da Ucrânia não contava com a negativa repercussão da prisão (e condenação) da líder da oposição, a nacionalista Timoshenko. A manifesta motivação política de sua condenação a sete anos – e a perspectiva de outras mais, através do desarquivamento de velhas causas, antes reputadas sem base – além de provocar um boicote à reunião de cúpula sediada em Kiev, reduziu drasticamente as presenças de líderes políticos da U.E. na Euro-Copa.
A prisão da Timoshenko – hoje em hospital-cárcere em Kharkov, depois das sevícias sofridas por esbirros do regime na penitenciária – jogou por terra as ambições de Yanukovich de associar-se à União Europeia. A cínica perseguição política da líder da oposição rasgou as pretensões de Yanukovich. Confundir adversário com inimigo é um costume daquelas bandas. E o testemunho dado pela Timoshenko não carecia de palavras. Por isso, a sua provação motivou visita ao cárcere da presidente da Lituânia, e a ausência de encontros de cúpula da Chanceler Angela Merkel e de outras autoridades da União Europeia.
Yanukovich terá pensado que a sua colimada aproximação de Bruxelas poderia ser margarida, em que só desfolhasse as pétalas comerciais e econômicas. É mais do que oportuno lembrar-lhe que no pacote a democracia – não a superficial, para inglês ver – é elemento imprescindível que ele, se desejar as benesses do Ocidente, não pode descartar.
A Democracia chavista
de Rafael Correa
Rafael Correa, o
presidente chavista do Equador, mostra uma vez mais que o seu recuo na ação
contra a direção e jornalistas de El Universal de Guaiaquil foi apenas uma ação
tática, motivada pela péssima repercussão das penas arrancadas da dócil justiça
equatoriana.
O ex-mestre escola volta à carga com sanha
redobrada. Como Dom Quixote, ele
investe contra moinhos de ventos. No entanto, para dissabor da sociedade civil
equatoriana, a comparação pára por aí. Porque os objetivos do homem-forte de
Quito são demasiado reais, e perseguem os meios independentes da imprensa. Através da Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel), foram cassadas, nas últimas semanas, 20 emissoras de rádio e tevê. As motivações são especiosas, eis que a Conatel alega falhas técnicas e descumprimento de normas – como atrasos no pagamento das mensalidades que todos os concessionários de rádio e TV devem realizar.
Como o pagamento tem de ser feito na capital, muitas das emissoras atrasam esse dever burocrático, eis que, como disse o proprietário de uma delas, não faz sentido percorrer centenas de quilômetros para pagar US$ 12 mensais.
A impressão que se tem é que o governo (de Rafael Correa) está querendo recuperar licenças para uma redistribuição entre amigos.
Dentro da norma aprendida do seu guia, o democrata Hugo Chávez, o acosso à mídia se fará no atacado e no varejo. Com isso, o señor presidente vai desestruturando a odienta (a seu ver) oposição, enquanto aparelha o espaço herziano para os cupinchas, simpatizantes e os perenes gatos pardos do adesismo.
Putin e a
Internet
Agora Vladimir Putin, com novo mandato presidencial, obtido em condições dúbias, vê surgir pela frente um movimento da cidadania, que procura reclamar voz em capítulo, diante da desenvoltura dos donos do poder.
Em uma sucessão de governos autoritários – com o fugaz interregno do período de Boris Ieltsin – é a vez do antigo coronel do KGB de buscar sufocar a ânsia democrática de boa parte da sociedade russa.
Além das pesadas multas contra as manifestações – que tentam inviabilizar pelo bolso do cidadão qualquer veleidade de livre exercício democrático – agora o carrancudo Vladimir Putin procura dar um jeito na internet russa. Gostaria que ela assumisse roupagens e práticas do vizinho Império do Meio. Com efeito, Beijing consegue a pau e corda controlar por ora tal irrequieto e subversivo avatar desse incompreensível (pois incoercível) desejo de desfrutar dos livres espaços da comunicação sem censura.
Na sua campanha pelo controle da sociedade, gospodin Putin agora se volta para outra ferramenta que terá descurado até o presente. Dentro da norma do arrocho das comunicações – e são de deplorar-se os problemas criados para o presidente da Federação Russa, e a consequente faina em abafar os solertes meios empregados pela oposição – chegou a vez da web. Domesticados os meios de comunicação tradicionais, o Kremlin acredita indispensável controlar também a internet, dada a sua perniciosa liberdade e as facilidades de contatos (e de arregimentação) que a internet pode vir a propiciar.
A curto prazo, o atual autocrata russo poderá até ter êxito nos seus propósitos. No entanto, a médio prazo, não são aconselháveis as apostas em uma vitória de Putin e de sua turma.
No passado, o dissidente Andrei Amalrik era visto com descrença pelos kremlinologistas de então. Como não descrer de manifestante, que levava cartazes subversivos, apenas acompanhado da esposa ? E, no entanto, o impossível pode acontecer. Hoje a marcha pela liberdade deixou de ser solitária na terra dos tsares. Daí talvez as acrescidas inquietudes do todo-poderoso presente locatário do Kremlin.
( Fontes: International Herald Tribune, O Globo )
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