quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Primavera Árabe invade Damasco

                                 
       Há muitas formas para as revoluções que conduzem ao fim das tiranias. No entanto, se tais processos de fragilização diferem  no tempo e nas roupagens, quando entram nas vascas da agonia, nos momentos  que o folclore brasileiro descreve como ‘aqueles em que vaca não conhece bezerro’, o cenário básico não costuma variar.
       Diante da solidão do déspota da vez, mais do que retirar-se, evaporam-se os condestáveis, as alianças internas e externas, a par de desmoronarem as muralhas e surgir o palácio, antes como símbolo temível do poder, como  fortaleza abandonada à própria sorte.
       O quadro será demasiado óbvio para quem é do ramo. Para os que não são, como parece ser o caso em que se encontra a nossa diplomacia, a que o mandonismo incompetente teima em deixar em maus lençóis, só restarão ao cabo dois trabalhos: aguentar o menosprezo dos profissionais do ofício, e torcer para que o vexame seja logo esquecido.
      Não adianta apegar-se a estereótipos, nem a antigas idolizações. Mas tampouco percamos tempo com quem se aferra à defesa de um carrasco, já combalido, com Aníbal[1] às portas do palácio, e as incansáveis Erínias[2] a cercá-lo afinal.
      Está prevista para a manhã de hoje nova reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Por laços ideológicos e interesses políticos, o grande suporte de Bashar al-Assad, chama-se Vladimir Putin. Na sua empresa, que ele julga oportuna e outros vã, não teme o desgaste de negar ao Conselho a sua função específica que é a da manutenção da paz. Não basta a gospodin Putin – que dispõe do experimentado ministro Serguei Lavrov nos Negócios Estrangeiros – o desgaste de impedir as mínimas condições para que o Plano Annan possa conduzir à paz na Síria.
    Por outro lado, o próprio ex-secretário das Nações Unidas, apesar de reconhecer da tribuna da Assembléia Geral o fracasso de seu plano, continua a tentar reanimar o cadáver em lugares tão incôngruos quanto Teerã.
    Putin tem sido teimoso, porém não é estúpido. Quando uma revolução de dezesseis meses adentra a capital Damasco, não adianta mais repisar a sovada estória dos terroristas estrangeiros armados. É chegada a hora de fazer as contas e de tentar negociar, entre os salvados do incêndio, os interesses de Moscou.
    Há um rosário de desfechos que cercam o palácio do regime alauíta Aquele indicado pelo cartunista Ali Ferzat, em que Bashar embarca no carro de Muammar Kaddafi. Ou então o da fuga in extremis, esperando escapar, por cortesia de Moscou, das garras do Tribunal da Haia.
    Quanto mais demore, mais as opções se estreitam e, na medida do possível, se enegrecem.



( Fontes: CNN, O Globo )

    



[1] Hannibal ad portas ! grito dos romanos, após a derrota de Cannes, e a consequente ameaça do general cartaginense a Roma.
[2] divindades violentas, da mitologia grega, que puniam os crimes de sangue.

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