Até os pavilhões do Brasil e do estado do Rio foram içados no ponto mais alto da favela. Passados quase quatro anos de tal efeméride carioca, como devemos encarar a alegria das comunidades, até então abandonadas ao jugo do tráfico, e a exuberância dos governantes, que festejaram a ocorrência como se fora a culminação de processo de liberação de mais de duzentas mil pessoas ?
As UPPs, com a pacificação iniciada pela favela do morro de D. Marta, posto que represente auspiciosa evolução para a metrópole carioca, é um caminho difícil, que pressupõe trabalho sério e aturado.
Se nos ativéssemos às mensagens enviadas pelo triunfo da quinta-feira, 25 de novembro, já teríamos motivo para maiores doses de cautela na avaliação do desafio que o oba-oba das comemorações tentava apresentar como vencido e sem volta ?
Todos os que viram mais de duzentos bandidos fugirem pela estrada de terra, em busca de valhacouto além da área enfim reclamada pela soberania do Estado, não terão por um momento considerado a hipótese de que os fora-da-lei iriam reagrupar-se alhures, para assim continuar as suas atividades ?
Quantos atentaram para as palavras de estudiosos no ramo, como Luiz Eduardo Soares, que referiam a longa trajetória que se tinha pela frente. A atividade do tráfico, que se enquistara na favela, responde a uma demanda que, infelizmente, existe e perdura. Enquanto houver mercado, os núcleos do abastecimento continuarão a existir, nos locais em que dispuserem de um mínimo de condições para atividade tão ilegal quanto antissocial.
Respeito o trabalho do Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame. Não obstante, há vários desenvolvimentos no Complexo do Alemão que semelham não levar em conta as dificuldades remanescentes, e que são talvez originários de outras dependências do governo estadual.
Reporto-me à envidraçada sede da nova UPP, sem qualquer proteção para armas de fogo. Questionável também o sistema de transporte aéreo há pouco inaugurado, e que igualmente pressupõe realidade de segurança que ainda não prevalece.
E os coletes dos PMs da UPP ? Qual a sua serventia, se um tiro de fuzil 762 atravessou o peito da soldado Fabiana Aparecida de Souza, com a morte da pobre integrante de Unidade de Polícia de Pacificação ?
Que pacificação é essa que vitima PMs, como Fabiana, mal transcorridas três semanas após a retirada do Exército do Complexo do Alemão ?
Como ilustram episódios anteriores, como o vandalismo praticado na sala de cinema preparada para a comunidade, que gênero de pacificação é essa, em que uma vez mais os habitantes têm de refugiar-se na lei do silêncio ?
Há menos de dois anos da ‘liberação’ do Complexo do Alemão, diversas instâncias de que a bandidagem continua atuante apontam para a necessidade de maior prudência e, por que não dizer, seriedade na avaliação dos obstáculos remanescentes.
Como já deveríamos ter apreendido, o tráfico não se extingue por decreto, proclamação, ou bandeiras desfraldadas. Há comprida faina a ser realizada, faina essa que não admite a pressurosa omissão de etapas. A exemplo de praga renitente, que se dissimula nos escaninhos das debilidades humanas, a missão é árdua e não admite remédios milagrosos.
Além de melhor proteger os nossos e as nossas policiais, não é hora de saltar etapas, nem de tentar abraçar áreas com ficções de propaganda.
A caminhada é longa, e não adianta fingir o contrário.
Menos oba-oba e mais pé no chão, no combate ao tráfico e a seus aliados.
( Fonte: O Globo )
[1] As Vilas
Poniatowski são cenários montados pelo Príncipe Poniatowski para iludir a
Czarina Catarina, a Grande, em sua viagem pelo interior da Rússia, como se os
camponeses morassem, felizes, em belas casas.
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