sábado, 21 de julho de 2012

Eleição no Photochart


                                  
        A imagem vem das corridas de cavalo, quando a diferença entre os animais dianteiros só pode ser determinada por um aparelho especial que aponta o vencedor.Com os aparelhos digitais, aumentou a precisão dos instantâneos e, por conseguinte, a possibilidade de estabelecer a vantagem, por milimétrica que seja.
        Como se sabe, a eleição americana é indireta, i.e., cada estado da União tem um número de delegados, que correspondem à população estabelecida pelo último recenceamento. Dessarte, o peso dos estados respectivos dependerá de sua representação no Congresso. A California, por ser a unidade mais populosa, é a que tem o maior contingente no colégio eleitoral. New York é a segunda em número de delegados.
       Assim, os eleitores nos comícios da terça-feira, seis de novembro p.f. escolhem entre o Presidente Barack Obama e o desafiante Mitt Romney (na verdade, há outros candidatos, mas em geral não têm maior importância. É raro surgir um tertius na disputa, como foi o caso de Ross Perot, em 1992, quando Bill Clinton se elegeu, derrotando ao então presidente George H.W.Bush). Uma vez indicada a composição dos delegados no colégio eleitoral, o resultado do pleito é confirmado pela votação desses delegados partidários. Ao contrário do passado, é um exercício pro-forma. A última vez em que tal ameaçou não ocorrer, foi na eleição de 1960, quando o democrata John F. Kennedy vencera, por diferença mínima, ao adversário Richard M. Nixon (GOP). Houve então delegados sulistas que manifestaram o desejo de ouvir o candidato – no caso JFK que deveriam sufragar. Kennedy atalhou o arreganho, e a sua eleição foi ratificada.    
      Aconteceram outras disputas em que os totais (e o cômputo no colégio eleitoral) refletiram a divisão no eleitorado, em que pela noite adentro a vitória esteve ao alcance dos dois rivais. Exemplos célebres dessas renhidas pugnas estão em 1948 (quando venceu Harry Truman sobre Thomas Dewey), em 1960 (Kennedy x Nixon), em 1968 (Nixon supera Hubert Humphrey, com a participação de um forte terceiro candidato. Com efeito, George Wallace venceu em cinco estados do Sul profundo ). Por fim em 2004, quando George W.Bush superou por estreita margem  ao Senador John Kerry.
     Outra eleição apertada foi a de 2000, entre o democrata Al Gore e George W.Bush. No entanto, quem determinou a vitória neste pleito foi surpreendentemente a Suprema Corte, ao sustar a recontagem de votos na Flórida, pela sentença Bush v. Gore. Por primeira vez, o Supremo ungiria na prática o vencedor, em decisão judicial até hoje discutida (Al Gore teve maioria de  cerca de 500 mil na votação popular).
    Nas presentes condições, as prévias têm apontado para  eleição muito equilibrada. Os especialistas assinalam a relevância dos comícios de seis de novembro. O sufrágio não é obrigatório e sim voluntário nos Estados Unidos – assim como na maior parte das democracias ocidentais – e ocorre em dias úteis, na primeira terça-feira de novembro. Os estudiosos consideram que a data possa ter grande significado, a exemplo de oportunidades no passado que marcaram evoluções de monta (turning points).
      Atualmente, os democratas têm maioria no Senado, e os republicanos na Casa de Representantes. Ainda é difícil determinar como estará o panorama após os comícios de novembro, mas as considerações adiante referidas deveriam ser computadas.
      Há um esforço sustentado em legislaturas estaduais com maioria do GOP de criar maiores dificuldades para a votação das minorias (pobres, afro-americanos, etc.), que em geral sufragam o partido democrata. Tais disposições – cuja constitucionalidade é mais do que discutível - se inspiram na conhecida tática sulista de criar óbices para que tais minorias não utilizem a prerrogativa constitucional de votar nos candidados de sua preferência (que costumam ser os democratas).
      A famigerada sentença do Supremo Citizens United  veio derrogar em boa parcela a lei bipartidária da campanha política McCain- Feingold de 2002. Essa aclamada legislação tratara de controlar o excessivo poder do dinheiro nas eleições primárias, assim como nas votações para cargos executivos e legislativos. A maioria conservadora no Supremo, através da sentença acima, possibilitou às pessoas jurídicas assim como a grandes fortunas, como v.g.os bilionários irmãos Koch,  irrestrita participação na propaganda eleitoral, com deletérias consequências tanto no plano federal, quanto sobretudo no estadual. Sem os entraves de antes, que buscaram assegurar equilíbrio na informação do eleitor, o que se depara agora é a total liberação da influência do dinheiro na propaganda política, máxime naquela negativa que visa a combater nomes temidos pelo grande capital, o Tea Party e assemelhados. Outro aspecto inquietante dessa ‘reforma’ da campanha graças ao Supremo, é a concessão do anonimato às contribuições políticas, feitas por intermédio das Super – PACs. Trata-se de super-comitês de ação política, ensejados por essa legislação, que dispõem de grande flexibilidade para influenciar o eleitor.
      Em uma eleição tão difícil para presidente, os resultados para Senado e Câmara ficam em aberto. Especula-se que a maioria democrata na Câmara Alta tenderá a encolher, embora não se exclua a possibilidade de ganhos do partido de Obama em função do aumento do voto latino no Arizona, e também em Indiana, com a saída do Senador Richard Lugar (Rep.), que seria imbatível para mais uma reeleição, se não tivesse negado pela primária tal direito.
      Já na Câmara, o comportamento da corrente do Tea Party, e as más relações do Speaker John Boehner e do Líder da Maioria Eric Cantor (ambos do GOP) podem custar aos republicanos uma menor representação, mas não necessariamente a volta dos democratas ao domínio da Câmara de Deputados.
     A situação economico-financeira, por outro lado, terá grande peso no voto de novembro. Se aumentar o quociente do desemprego – atualmente em 8,2 – assim como persistirem as baixas contratações de emprego, tais fatores hão de operar em detrimento do presidente em exercício. Obama pagará então a não-adoção de fortes medidas pró-emprego, quando dispunha, no primeiro biênio, de controle sobre as duas Casas do Congresso.
      Forçada pelas circunstâncias, a campanha de Obama tem um viés assaz negativo no que tange às fraquezas de Mitt Romney, o candidato republicano (sua falta de posições firmes, sua tendência a compor-se com as correntes mais reacionárias, o seu passado na Bain Capital, em que ganhou milhões de Wall Street, mas despediu a muitos empregados, assim como terá contribuído para a liquidação de firmas).

                                                                                            ( a continuar)


(Fontes: International Herald Tribune, The New Yorker)       

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