sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Covid: duzentas mil mortes

  Será que terá sido por ignorância de medidas de mínima segurança que o Brasil chega às duzentas mil mortes por Covid? 

    Recordo-me da repercussão nos jornais e na mídia quando das cem mil mortes. Desta feita, as manchetes parecem menores. Serão realmente ? Na verdade, há ocorrências que parecem não ter mudado substancialmente. 

     Como as aglomerações ao ar livre, na praia de Ipanema, que continuam impávidas, como se o preço do contágio fosse o risco a incorrer nessa brincadeira sem graça com o coronavirus. É difícil dizer quem é mais descuidado. Ou a autoridade oficial, que deveria fazer-se presente para relembrar  que não é um jogo de gato e rato, mas um estúpido risco que pode levar para hospitais lotados - como em Manaus, de novo, aonde as câmaras frias dos necrotérios têm de ser trazidas mais perto para as alas de hospitais que estão assoberbados por clientes graves e as indefectíveis UTIs que são o único passaporte para o salvamento terreno.

      Não é sem culpa que as multidões que acorrem aos fenômenos de fim de ano são por vezes tangidos pela monotonia da reclusão e da consequente vontade  de gritar pela sua permanência no Planeta Terra.

       Talvez a única, solitária campanha que teve sucesso ao afastar das praias foi aquela da passagem do Ano Novo, em Copacabana, embora outras menos famosas hajam resistido melhor ao apego dos fogos e das luzes. Com efeito, como se fora em descomunal esforço, as multidões de trinta e um sumiram das areias de Copacabana.

         O povo brasileiro tem levado muitos cascudos morais pela sua disposição - dir-se-ía quase irredenta - de festejar nas praias e nas indefectíveis aglomerações a chegada de datas que cáem na ocorrência. Assim, a mais festejada de todas entrou nas alas silenciosas dos hospitais, e é de perceber-se que tal gesto não se traduziu em alas e alas de pessoas - jovens, velhos e crianças - jogadas para o branco da peste nas alas hospitalares.

          Foi um esforço digno de elogios, ainda que tal repercussão não possa  ser quantificada.  Talvez, esteja aí - na falta de sinais incômodos mas reais - que explicam duas coisas: as descrições de multidões irrefletidas que teimam em comemorar sob o abraço suarento das comemorações sem sentido...  O parêntesis que é raramente aberto está na ausência do Estado - seja municipal, estadual ou federal. 

           Esse absenteísmo estatal pode ter duas razões: há menos disposição para proibir por causa da chamada flexibilização, que é talvez a atitude menos elogiável das forças da ordem, porque nesse contexto mostra conivência com uma presença mais agressiva de comércio e das suas aglomerações, que se justificariam por causas econômicas. No entanto, nenhuma vida humana deve ser ameaçada por motivos simplesmente comerciais...

            Não nos preocupemos, com os espaços de Copacabana que logramos ver em passados fins  de ano. Os tríduos momescos são decerto breves, mas será que alguém perdeu tempo para computar no seu cronômetro existencial  as luzes que deparou feéricas nas multidões e areias da Princezinha do Mar? Todos nós que guardamos no peito a rememoração de passadas - ainda que belas, teremos sempre de o que nos recordarmos nos áridos espaços existenciais.  São luzes e mais luzes. Mas o que é, de resto, essa vida, de grandes aglomerações, algumas a aceitar, outras a evitar ?


(Fontes: O Estado de S. Paulo,  O Globo e as experiências de "Meninos, eu vi! )

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