quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Problemas no Leste

Trem-Bala e corrupção na China

       Não é segredo que a corrupção constitui um dos principais problemas da RPC. O Secretário-Geral do PCC, Zhao Ziyang,  antes de ser afastado do poder por Deng Xiaoping, tinha a firme intenção de uma abertura democrática na sociedade chinesa. Junto com a reforma econômica, que muito contribuíra para introduzir, a democracia evitaria, no seu entender, a difusão da corrupção.
       Como se sabe, instrumentalizando os protestos estudantis - o que acabou no massacre de Tiananmen - a cabala de Li Peng se desvencilharia de Zhao e preparia o caminho para o atual monopólio do mando pelo Partido Comunista Chinês.
       Dadas as características burocráticas do poder partidário na China, a corrupção se generaliza, com as consequências que escandalizariam o próprio Zhao, se vivo estivesse (faleceu em prisão domiciliar em 2005, afastado de todos os cargos a partir de junho de 1989).
       No entorno da próxima mudança na guarda no governo da RPC, já estouraram os escândalos de Bo Xilai - e da esposa, condenada por assassínio de empresário inglês. Isto sem falar da reportagem do New York Times acerca do enriquecimento da família do Primeiro Ministro Wen Jiabao.
       Não é, de resto, que a futura decenal troca da guarda na China prometa ambiente diverso: o site da rede Bloomberg  reportou  que a grande família do vindouro presidente Xi Jinping dispõe de dezenas de milhôes de dólares em bens fundiários e financeiros.
        Antes o site Bloomberg calculara a riqueza dos setenta membros mais ricos da Assembleia Nacional Chinesa como tendo rendimentos superiores em um só ano ao valor total conjunto nos Estados Unidos de seu Presidente,  Gabinete de Ministros, todos os membros do Congresso americano, e os Juízes da Corte Suprema. A providência adotada pelas autoridades chinesas foi a de bloquear o indiscreto site da Bloomberg.
        A exemplo das lições retiradas da corrupção da elite partidária na China, infelizmente representam um prejuízo não só econômico para o pais, mas  tem outras consequências no plano físico ainda mais danosas. O desastre com o trem-bala em Wenzhu - cuja causa principal foi a pressa na sua construção - matou quarenta passageiros e feriu cento e noventa e dois. Malgrado a urgência do governo em restabelecer suposta normalidade, a grande revolta do público forçou a investigação mais aprofundada (uma criança sobrevivente de dois anos de idade foi descoberta nos destroços do comboio depois que o pessoal encarregado do salvamento das vítimas já  houvesse cessado nas buscas).
         Dessarte, a despeito do intento oficial de sepultar o escândalo do desastre - que foi provocado por uma peça defeituosa que sinalizara rota desimpedida, quando na linha trafegava um trem mais lento - o governo não teve outra saída senão despachar para o local o Primeiro Ministro Wen Jiabao, assim como proceder a uma investigação em regra do acidente.
         Não obstante as assertivas quanto à relativa segurança do transporte ferroviário na RPC (40 mortes), se comparadas às baixas na rodovias, há um outro cotejo em termos de trem-bala: enquanto em 47 anos de serviço o trem rápido no Japão assinale apenas uma vítima fatal, as quarenta mortes da recente implantação desse trem na China não são de molde a tranquilizar os usuários.

Eleições parlamentares na Ucrânia

        No último fim de semana, a causa da democracia não avançou muito na Ucrânia. O partido do presidente Viktor F. Yanukovich registrou progressos e tem a expectativa de recuperar o controle do parlamento.
        Tal se deve, em parte, à judicialização da política pelo presidente Yanukovich, que se serve, à vontade de processos judiciais bastante duvidosos para embaraçar a oposição. Exemplo eloquente disso está não só na continuada prisão da antiga Primeiro Ministro Yulia Timoshenko, assim como no que tange a outros líderes oposicionistas. 
        Dessarte, seja pela prisão das suas principais personalidades, seja pela falta de coordenação resultante - a par de um fracionamento do campo oposicionista, com o partido Udar, encabeçado pelo ex-campeão de boxe Vitali Klitschko, com quinze por cento da votação - o partido governista, chamado das Regiões, deverá sair desses comícios reforçado.
        Para angariar apoio popular, Yanukovich bate na tecla da pretensa estabilidade.  Procura garantir bancadas mais numerosas, alegadamente para superar as altercações com a oposição.
        A fim de implantar ambiente ´mais construtivo´, Yanukovich ambiciona largas e dõceis maiorias legislativas, na busca da recuperação econômica e melhores relações com a União Europeia.
        É um caminho no mínimo controverso aquele proposto pelo Presidente. Nas palavras de um eleitor: ´Sou contra a repressão. É fácil ganhar (eleições) quando seus opositores estão na cadeia´.


( Fontes: The New Yorker, International Herald Tribune )

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