quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Mais uma trégua na Palestina


              O enésimo cessar-fogo foi acordado entre Israel e Hamas. Na sua disparidade, as 153 mortes (148 palestinos contra cinco israelenses) já constituem um cruel espelho das brutais diferenças envolvidas no choque entre duas sociedades a que tudo parece opor, com exceção da própria condição humana.
              De um lado a superpovoada Faixa de Gaza, em que a população civil vegeta em condições sub-humanas, atenazada e perseguida por uma série de bloqueios e de interdições impostos pela potestade que vive em relativa opulência além-muros. Este mesmo contingente se acha sob o estrito controle de facção palestina radicalizada pela demonização do adversário, do qual, assim como Anteu se reenvigora pela mãe-terra,  extraem a motivação para luta sem outro limite que a terra arrasada.
             Nessa guerra sem quartel, a única verdadeira vítima é a sociedade civil, e ainda mais marcada tal condição será no formigueiro de Gaza, do que nos núcleos urbanos israelenses.
             É mais fácil de intuir a revolta do habitante de Gaza que, apesar de não estar envolvido em qualquer rede ou conexão do tentacular conceito de terrorismo, tem a sua modesta habitação destruída ou um parente próximo morto pela circunstância de viver nas cercanias de algum funcionário do Hamas.
            Esta será a causa objetiva da própria desgraça. Colhido pelas engrenagens infernais do ódio, ele se debate contra uma situação injusta – ser carne de canhão por motivo de ações tomadas pelo poder a que está submetido, ações essas voltadas para punir outras alegadas injustiças (o bombardeio das vizinhanças civis ditas inimigas, porque constituem parte da potência ocupante).
           Qual a possibilidade de que a revolta dos civis venha a confrontar e a modificar a beligerância do Hamas? Como todos os queixumes de um extrato desarmado e sem condições objetivas de aglutinação alternativa, a resposta será que outros males virão para essa gente que é pobre e não tem para onde ir além dos cortiços onde vive.
           Os acordos de Oslo seriam um drummondiano retrato na parede, se porventura tais construções restassem de pé nas áreas devastadas pela incompetência, cinismo e posterior radicalismo.
            A injustiça que a alegre e apressada comemoração nos jardins da Casa Branca pensara firmar o fim anunciado se mostraria, nos anos futuros, muito superior ao prematuro desejado  congraçamento.
           Se houve ingenuidade de Yasser Arafat e sua equipe, ao não estipular metas incontornáveis se a paz verdadeira devesse ser atingida, a outra parte, de Rabin e Peres seria corroída pelas concessões aos chamados colonos.
           Não pretendo aqui retraçar caminho que perdeu o rumo e desperdiçou real oportunidade para a construção da paz.
           A injustiça prevalente, com a sua ocupação militar da Cisjordânia, será a fábrica diabólica de mais injustiças e das deformações que sói acompanhar-lhe a inerente radicalização.
           Basta contemplar a atual sociedade israelense, com processos acelerados de apartheid e modalidades de limpeza étnica, como assinalados em artigo hodierno de Clovis Rossi, para ter a consciência de que existem forças deletérias que, na verdade, ao invés de promover o bem público preparam um porvir cada vez mais tenebroso e disfuncional.
           Os avisos são múltiplos, mas o seu significado parece escapar tanto do povo, quanto de seus extratos dirigentes. Assim, enquanto alguns celebram mais um cessar-fogo, no mesmo dia explode em  ônibus de Tel-Aviv uma bomba, ferindo vinte pessoas.
           Haverá mais eloquente sinalização de que se o injusto sistema persiste, a paz continuará a ser  ficção contingente, personagem acessória de lúrido cenário de opressão e sofrimento ?     

 

(Fontes: Folha de S. Paulo, International Herald Tribune )

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