O movimento catalão pró-independência se insere no panorama europeu. Existe aparente contradição na súbita busca de afirmação soberana desses estados-anões diante de seculares situações da respectiva submersão no quadro de grandes nações-estado.
Esta freudiana pulsão pró-secessão – que é fenômeno, como veremos adiante, não adstrito à Espanha – se torna estranhamente mais inteligível dentro do contexto da União Europeia. Assim, paradoxalmente, os argumentos que conduziram à construção europeia – a necessidade de laços econômico-financeiros mais estreitos não só para dar melhores condições de mercado para os diversos países, mas também para aproximar politicamente antigos adversários – podem servir como uma espécie de rede de segurança que a contrario sensu viabiliza a pulverização das pequenas nacionalidades.
O gigantismo da U.E. – e esse caráter de desperdício e de multiplicação burocrática que vemos não só em Bruxelas (sede política da UE), mas também em Estrasburgo (sede parlamentar) – tem fornecidos argumentos para posições contrárias ao poder supranacional, como se verifica no recente virtual veto do Primeiro Ministro David Cameron à proposta orçamentária apresentada pelos eurocratas.
A difícil – e pendular – relação do Reino Unido com a atual União Europeia – como o foi no passado com os sucessivos avatares de Bruxelas – reedita as contradições entre o insularismo britânico e a sua necessidade de compor-se com o Continente. Na família europeia – cujo crescimento quiçá excessivo tende a dificultar-lhe a tomada de decisões – os motivos respectivos de permanência podem variar, mas o segredo da resistência estrutural está na circunstância de que as razões para a associação são mais fortes do que a ânsia de ruptura.
Nesse sentido, a ignorância do passado pode ser fautora de erros no presente. Cameron, se se detivesse nos inúmeros malogrados intentos de seu país em participar da então CEE, intuiria melhor da conveniência de não servir-se demasiado da carta do divórcio europeu, porque pode acabar se descobrindo fora do concerto europeu, com toda a indústria de Sua Majestade a cobrar-lhe por se descobrir sem as vantagens dessa união para os próprios produtos.
O mais interessante neste exemplo é que vemos também no caso britânico um outro exemplo da acima-citada pulverização nacional. Com efeito o Reino Unido deverá enfrentar em futuro relativamente próximo um referendo similar ao do projeto dos independentistas da Catalunha. Reporto-me à Escócia, onde Suas Majestades têm um belo castelo senhorial, e que poderia voltar a ser um reino soberano, como o foi ao tempo dos Stuart e da infeliz rainha Mary.
Mas voltemos à Catalunha. Artur Más, o líder do governo regional, convocou eleição que tem um dúplice objetivo. Se o seu partido ganhá-la com substancial maioria, Más poderia partir para a secessão. A Catalunha é a mais importante das 17 regiões de Espanha, e com a conveniente rede europeia de segurança, ei-la transformada em mais um membro da UE.
O primeiro Ministro Mariano Rajoy considera tal propósito anticonstitucional. Os projetos autonomistas e mininacionais da região catalã apontam para a dívida de 42 bilhões de euros (no quadro da dívida de Espanha com suas 17 regiões no montante total de cento e quarenta bilhões de euros). A gastança do líder anterior, Jordi Pujol e a de Artur Más já contribuiu para dar status de junk (lixo) para a dívida catalã. A flama independentista do líder catalão não o impediu, de resto, de solicitar a Madri a concessão de empréstimo emergencial de cinco bilhões de euros.
(Fonte: International Herald Tribune )
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