O erro de Mohamed Morsi
Talvez o Presidente do
Egito, Mohamed Morsi, haja sido arrastado pela húbris. Eleito
democraticamente pelo povo, terá acreditado que a chancela da legitimidade do
sufrágio lhe abrisse recursos excepcionais.
Contudo, pelo decreto em que se
autoconfere poderes discricionários, ele em nada se distingue dos déspotas que
o precederam. Terá pensado que somente o Judiciário o contestaria. Para sua surpresa, se descobre antagonizado por populares que lhe prepararam o caminho, após as hesitações da Fraternidade Muçulmana, para que democraticamente se empenhasse nas eleições para a sucessão de Hosni Mubarak.
Agora manda dissolver pela força policial o ajuntamento de milhares de manifestantes que de novo acorreram à praça Tahrir.
Ao valer-se do arbítrio, Morsi se nivela aos seus antecessores, como Mubarak e a Junta Militar. Ao sair fora da lei, ele perde a legitimidade e incorre nos mesmos riscos e abismos que tragaram aqueles a quem o presidente julgou poder imitar.
Criticado pelo seu próprio ministro da Justiça, Morsi deveria reconhecer o erro cometido, antes que seja tarde demais.
A
justiça de Hugo Chávez
A continuada prisão da juíza Maria Lourdes Afiuni
é incômoda mostra da precariedade da justiça na Venezuela chavista. Está encarcerada
pelo simples motivo de ter ousado discrepar do caudilho – quando libertou da
cadeia o banqueiro Eligio Cedeño, por haver excedido o tempo na prisão sem
julgamento. Cedeño, acusado de violar controles cambiais, achava-se detido há três
anos, quando a legislação determina o máximo de dois. Ao aplicar a lei, a juíza foi
presa em dezembro de 2009, por ordem de Hugo Chávez. Este, no seu programa de
transmissão nacional, chegara a afirmar que ela merecia trinta anos de reclusão.
Assim, a magistrada Afiuni perdeu a liberdade meramente por cumprir a lei.
Em consequência, a juíza foi
encerrada no cárcere, aonde seria estuprada em 2010. Por força disso, ela
abortou, mas continuou a sofrer maus-tratos, como cortes de gilete e
queimaduras com guimbas de cigarro, toleradas pelos esbirros do regime, e
aplicadas por detentas nessa prisão onde se acham criminosas violentas.Assim, a magistrada Afiuni perdeu a liberdade meramente por cumprir a lei.
Hoje, por questões de saúde, ela está em prisão domiciliar.
Hugo Chávez continua a denegar-lhe a liberdade, malgrado o desgaste que a detenção de uma juíza cause à imagem da democracia no regime chavista. Pelo visto, contrariar~lhe a vontade constitui transgressão mais grave do que ater-se ao que dispôe a legislação.
Nesse quadro, não parece temer que o chamem de tirano. Com efeito, nem mesmo o demove apelo recebido pela libertação da juíza Afiuni de Noam Chomsky, que diz admirar.
Sem dar-se conta do paradoxo, tal postura só tende a tornar ainda mais gritante a injustiça do todo-poderoso Señor Presidente.
( Fontes: Folha de S. Paulo, International Herald
Tribune, O Globo ).
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